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Governo sabe do problema há dois anos
Aneel identificou falha em 2007 e pediu solução aos ministérios de Minas e Energia e da Fazenda no fim do ano passado
Sem solução, consumidores continuam pagando mais do que deveriam por falta de adequação do modelo de reajuste das tarifas elétricas
DA REPORTAGEM LOCAL
O governo sabe da falha na
metodologia de cálculo do reajuste das tarifas de energia elétrica há dois anos, mas não se
mobilizou para resolvê-lo. Durante esse período, a Aneel
aplicou o modelo errado de reajuste tarifário duas vezes nas 63
concessionárias do país.
A Aneel afirma que a falha foi
descoberta em 2007. A agência
diz que não acionou o governo
imediatamente. Abriu um processo interno para avaliar os
efeitos do erro sobre os consumidores. Somente em 3 de novembro de 2008, em reunião de
diretoria da agência, o então diretor-geral da Aneel, Jerson
Kelman, encaminhou o ofício
267 ao ministro de Minas e
Energia, Edison Lobão, alertando-o sobre o problema.
No ofício, a Aneel pedia uma
nova redação para a portaria
interministerial nº 25, de 24 de
janeiro de 2002. Por essa portaria (editada pelos ministérios
de Minas e Energia e da Fazenda), a Aneel promove ajustes
nos custos da chamada Parcela
A da tarifa, de onde a distribuidora não poderia extrair nenhum ganho.
Essa fatia da tarifa banca a
compra de energia, o custo da
transmissão e o pagamento de
tributos e encargos. O dispositivo ajusta qualquer oscilação
desses componentes para que
eles não gerem nem lucro nem
prejuízo à distribuidora e sejam
integralmente bancados pelos
consumidores.
A Aneel diz que a portaria
não permite compensar aumentos de demanda, que criam
a distorção que gera o desembolso indevido pelos consumidores. TCU e ministérios discordam da agência: ambos
acham que o modelo de reajuste tarifário, e não a portaria,
causa o problema.
Segundo o superintendente
da Aneel, David Lima, depois
do primeiro alerta, a agência
encaminhou um segundo ofício, em 15 de julho deste ano, ao
ministro Guido Mantega.
À Folha, o MME informou
em nota que, "em relação ao
mecanismo de compensação
presente na portaria nº 25, informamos que o MME está
avaliando a melhor alternativa
para resolver a questão e a decisão será tomada entre Fazenda e MME". Nos bastidores, o
assunto está mais candente. O
governo não quer republicar a
portaria, diz que a Aneel foi a
responsável pela falha e que a
agência terá de resolvê-lo.
O ministro-relator do caso
no TCU (Tribunal de Contas da
União), Benjamin Zymler, determinou na semana passada
uma diligência nos dois ministérios para saber quais providências o governo tomará em
relação ao assunto. Sem solução, o prejuízo para os consumidores segue se acumulando.
Há um ano
O TCU apontou o erro na
metodologia de reajuste de tarifas em 2008, quando recebeu
do Congresso Nacional a tarefa
de promover uma auditoria na
Celpe (Companhia de Energia
Elétrica de Pernambuco). O
trabalho foi repetido para a Cemig (de Minas Gerais), a Cemar
(do Maranhão), a Cepisa (do
Piauí) e a Ceal (de Alagoas).
"O problema atinge todos os
consumidores do país, e o reajuste com a falha já descoberta
continua a ser aplicado. Nada
foi mudado, apesar de o TCU
ter pedido providências há um
ano", diz Marcelo Barros Gomes, diretor técnico da Sefid
(Secretaria de Fiscalização de
Desestatização) do TCU.
Ele falou do assunto na CPI
das Tarifas de Energia Elétrica.
Mas a CPI não demonstrou interesse no assunto e se concentrou na quebra de sigilo de ex-diretores da Aneel.
(AB)
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