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CAPITAL X TRABALHO
Primeira discussão entre sindicalistas e montadora durou 10 horas; a segunda, levou mais três
Pacote foi definido em duas reuniões
da Reportagem Local
O economista Osvaldo Cavignato, do Sindicato dos Metalúrgicos
do ABC, tentou, mas não conseguiu resistir ao sono.
Enquanto seu chefe, Luiz Marinho, e o diretor de Recursos Humanos da Volkswagen, Fernando
Tadeu Perez, eram bombardeados
pelos repórteres na entrevista coletiva em que anunciavam o plano
de demissões voluntárias, Cavignato cochilava por alguns momentos no fundo do auditório do
sindicato dos metalúrgicos.
Foram três horas de sono entre a
primeira reunião, que terminou a
1h20 de ontem, e a segunda, na sede do sindicato, que começou às
8h da manhã e durou até as 11h.
No momento em que Cavignato
cochilava e a coletiva prosseguia,
Ulrich Paschek, um dos gerentes
de recursos humanos da Volks
mundial, se preparava para voltar
à Alemanha, depois de quase um
mês no Brasil.
Paschek e Cavignato estiveram
de frente um para o outro por quase dez horas durante uma das reuniões mais demoradas entre uma
montadora e sindicalistas nos últimos tempos. Quase não falaram.
O encontro, marcado para as
15h30, começou atrasado. Enquanto o alemão Paschek, seu tradutor, Perez e dois de seus auxiliares esperavam em uma sala de reunião na ala 7 da fábrica da Volkswagen em São Bernardo, Luiz Marinho era barrado na porta da fábrica pelos jornalistas.
O alemão
A reunião começou às 16h. Além
de Marinho e Osvaldo, participaram pelo sindicato Clarindo Ferreira, da comissão de fábrica, dois
diretores de base do ABC e dois diretores do sindicato de Taubaté,
onde montadora emprega cerca de
7.000 funcionários.
O sinal de que a reunião seria
longa foi dada cerca de quarenta
minutos depois.
Os diretores da Volks apresentaram a proposta da empresa -que
incluía corte nos benefícios, programa de demissão voluntária e
terceirização- e foi feita a primeira das quatro interrupções.
"Está tudo bem"
O grupo de diretores da Volks se
reuniu em um canto ao redor de
Paschek, que não pronunciou nenhuma palavra na reunião, e seu
tradutor.
Os sindicalistas foram para outro canto e Marinho recebeu um
telefonema: era o presidente da
CUT, Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, se oferecendo para ir até
a Volks participar da discussão.
"Esta tudo bem", disse Marinho. Na conversa, a conclusão foi
que o melhor era o presidente da
CUT não participar.
Vicentinho foi a única pessoa fora da fábrica que falou com Marinho durante a noite. Pelo lado da
Volks, Perez mantinha contato
com o diretor corporativo, Miguel
Jorge, que vem monitorando as
negociações à distância.
A reunião foi retomada uma hora depois. Apesar das divergências, a necessidade de chegar a algum tipo de acordo antes das férias coletivas na montadora, que
começam na semana que vem,
empurrou a discussão.
Mais um intervalo, agora para o
lanche -sanduíches preparados
na cozinha da fábrica-, e a idéia
de que o programa de demissões
voluntárias seria a solução momentânea foi ganhando força.
Os acertos finais na proposta, no
entanto, só foram feitos na reunião da manhã de ontem, no sindicato. Marinho deixou a Volks a
1h30. Ainda teve tempo de dizer a
uma repórter da "Globo News"
que os esclarecimentos seriam dados na coletiva das 10h.
Dono de um Escort ano 95, Marinho foi para casa em um Gol do
sindicato. Perez e seus assessores
saíram alguns minutos depois.
(SÉRGIO LÍRIO)
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