São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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OPINIÃO ECONÔMICA

Ovo de Colombo

CARLOS FLORY

Mais que pertinente, foi um brilhante achado a proposta do físico Luiz Pinguelli Rosa, coordenador de energia do programa do futuro governo, que sugeriu a parceria dos fundos de pensão no financiamento de projetos de energia. Trata-se de um negócio que interessa ao país e também interessa aos fundos de pensão, pela simples razão de que é bom para ambos.
Projetos de infra-estrutura, principalmente na área de energia, são um investimento de múltiplo bom retorno: têm risco baixo, dão excelente remuneração, criam muitos empregos, ajudam o país a se desenvolver, catapultam a produção de empresas brasileiras e, para fechar com chave de ouro o círculo virtuoso, geram clientela nova para os fundos de pensão.
Mas o dr. Pinguelli foi modesto ao sugerir que os fundos de pensão compartilhem com empresas nacionais os R$ 5 bilhões de financiamento que o futuro governo espera captar internamente para a área. Os fundos de pensão podem investir bem mais do que isso a longo prazo, se forem remunerados por taxas que sejam palatáveis para o governo e suficientes para bater as metas atuariais.
A Petros, que há três anos resolveu transferir recursos de aplicações convencionais para projetos de infra-estrutura, já tem R$ 1 bilhão investido em energia. Se nosso patrimônio corresponde a 10% dos ativos totais do setor, é razoável presumir que, em tese, só os fundos de pensão -desde que convenientemente estimulados- podem carrear algo em torno de R$ 10 bilhões para esse tipo de investimento.
No caso da Petros, foi uma opção feliz que a próxima gestão certamente não descartará. No acumulado até outubro, esses investimentos renderam 25,16%, o dobro da nossa meta atuarial e o triplo da rentabilidade dos imóveis (7,56%), tradicional nicho dos fundos de pensão.
Enquanto isso, a rentabilidade de nossos títulos públicos ficou em torno de 20%. Cabe a pergunta: se o governo pode pagar 20% para girar seus empréstimos, por que não inverter o eixo e carimbar o dinheiro, pagando taxas semelhantes para direcionar objetivamente as aplicações e influir no desenvolvimento do país, no aumento da produção e na multiplicação dos empregos? Com tal remuneração e garantia de liquidez, o investimento estará assegurado.
Desde o início de nossa gestão, em 1999, temos alertado: com a queda progressiva das taxas de juros, a remuneração da renda fixa se aproxima perigosamente das metas atuariais e ameaça os fundos de pensão. Mais dia menos dia a renda fixa deixará de ser uma aplicação tradicional (e preguiçosa) dos fundos de pensão, que terão de descobrir fontes alternativas seguras e mais rentáveis.
E não é só: os fundos de pensão se alicerçam em conceitos e cumprem compromissos eminentemente sociais. Precisam de rentabilidade com segurança para garantir o pagamento das aposentadorias de seus participantes, mas têm também de pensar em ampliar os seus quadros, criando empregos que serão ocupados por seus futuros participantes. Esse círculo virtuoso é altamente desejável.
Nossos investimentos em infra-estrutura nos têm dado respostas animadoras. A Petrobras tornou-se a maior exportadora do país, superando a Embraer e a Vale do Rio Doce; em março e junho, pela primeira vez suas exportações superaram as importações. E o principal fator para esses eventos auspiciosos foi a produção de Marlim, de Albacora e de Nova Marlim, campos em que a Petros investiu.
Em plena crise energética, ajudamos a financiar quatro termelétricas (Termo Bahia, Ibirité, Termo Canoas e Piratininga) e nos tornamos parceiros da fábrica de propelente aerossol, substituto do maligno CFC. Ao todo, já investimos R$ 1 bilhão e favorecemos a geração de mais de 100 mil empregos (11,7 mil diretos e 90 mil indiretos), com garantia de rentabilidade mínima e segurança máxima.
Se interessa ao governo, se interessa ao país, se interessa ao povo, se interessa ao trabalhador e se interessa ao dono do dinheiro, é o caso de perguntar: por que não se faz isso em larga escala? Claro, há experiências passadas que não incentivam os fundos de pensão a aplicar em programas governamentais de investimento. O primeiro e fundamental passo, então, deve ser definir uma modelagem saudável e segura para esse tipo de investimento.
É possível estabelecer um patamar de rentabilidade que não seja pesado para as empresas estatais ou privadas pagarem e que seja adequado para os fundos de pensão, além da garantia de retorno futuro, assegurados pelo governo. Com isso, haverá recursos de longo prazo para alentar setores como energia, telecomunicações e transportes. Diria ao dr. Pinguelli: vá em frente, que esse ovo fica em pé.


Carlos Flory é economista e presidente da Petros (fundo de pensão dos empregados da Petrobras).


Hoje, excepcionalmente, não é publicado o artigo de Antonio Barros de Castro.



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