São Paulo, quarta-feira, 18 de dezembro de 2002

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INVESTIMENTOS

Um dos motivos para o fracasso do negócio é que o mercado desconhece o destino do banco no governo Lula

Indefinição política e aversão ao risco afastam comprador

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

A oferta de ações do Banco do Brasil, cancelada ontem pelo Conselho Monetário Nacional, começou a morrer na praia bem antes do seu lançamento, no dia 5 de novembro. "O governo pagou para ver e perdeu", diz João Augusto Frota Salles, analista da consultoria Lopes Filho.
A operação ocorreu num momento de transição política e consequente indefinição sobre os destinos e o papel estratégico do banco estatal, o maior do país. Além disso, encontrou um quadro desfavorável aos investimentos de risco, como as ações, em que os grandes investidores estão cada vez mais cautelosos. É a tal "aversão ao risco", que disparou neste ano no mundo todo.
Por isso, a venda dos papéis do BB empacou na porta dos bancos e de suas empresas de "asset management", que administram recursos de investidores em fundos e de fundos de pensão. Eles refugaram a operação. O recuo dos bancos se explica pela força incontestável dos números. Segundo o diretor de um grande banco, as ações do BB valem hoje uma vez o valor patrimonial do banco, enquanto as do Bradesco, por exemplo, valem 1,3 vez seu valor patrimonial.
A pergunta que os gestores de recursos dos bancos fazem é: qual o atrativo do BB? Cotado a R$ 9,93 na segunda-feira, e batendo no seu limite de valorização, o papel do banco não se compara aos papéis do Bradesco, negociados então a R$ 9,67 e que podem chegar a 1,8 vez seu valor patrimonial.
Antonio Machado, administrador de renda variável do Opportunity Asset Management, vai mais longe. "Há oportunidades melhores no mercado, mesmo entre as ações de empresas estatais dos setores de petróleo e energia", diz. O Opportunity, segundo ele, analisou a oferta do BB, mas ficou de fora.
Para Salles, mesmo com o desconto de 5% dado aos investidores institucionais, "dava para perceber que seria difícil a colocação dos papéis nos bancos privados".
Eles teriam, depois, de explicar aos seus clientes por que apostaram em um banco cujo futuro, segundo Salles, é turvo. "Não se sabe quem será o seu presidente nem a estratégia competitiva que adotará a partir de 2003", diz ele.
"Teme-se que o BB venha a ser usado pelo novo governo como um banco de fomento para financiar a agricultura e as pequenas e médias empresas -dois segmentos de alto risco e baixo retorno na área de crédito", diz.
Esse tipo de dúvida quanto ao futuro não foi colocado, por exemplo, na pulverização de ações da Petrobras e da Vale do Rio Doce, ambas bem-sucedidas.
"A aversão ao risco, na época, era muito menor e tratava-se de empresas muito bem focadas nos seus negócios, sobre as quais não pairavam dúvidas", diz Machado.


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