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INVESTIMENTOS
Um dos motivos para o fracasso do negócio
é que o mercado desconhece o destino do banco no governo Lula
Indefinição política e aversão ao risco afastam comprador
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
A oferta de ações do Banco do
Brasil, cancelada ontem pelo
Conselho Monetário Nacional,
começou a morrer na praia bem
antes do seu lançamento, no dia 5
de novembro. "O governo pagou
para ver e perdeu", diz João Augusto Frota Salles, analista da consultoria Lopes Filho.
A operação ocorreu num momento de transição política e consequente indefinição sobre os
destinos e o papel estratégico do
banco estatal, o maior do país.
Além disso, encontrou um quadro desfavorável aos investimentos de risco, como as ações, em
que os grandes investidores estão
cada vez mais cautelosos. É a tal
"aversão ao risco", que disparou
neste ano no mundo todo.
Por isso, a venda dos papéis do
BB empacou na porta dos bancos
e de suas empresas de "asset management", que administram recursos de investidores em fundos
e de fundos de pensão. Eles refugaram a operação. O recuo dos
bancos se explica pela força incontestável dos números. Segundo o diretor de um grande banco,
as ações do BB valem hoje uma
vez o valor patrimonial do banco,
enquanto as do Bradesco, por
exemplo, valem 1,3 vez seu valor
patrimonial.
A pergunta que os gestores de
recursos dos bancos fazem é: qual
o atrativo do BB? Cotado a R$ 9,93
na segunda-feira, e batendo no
seu limite de valorização, o papel
do banco não se compara aos papéis do Bradesco, negociados então a R$ 9,67 e que podem chegar
a 1,8 vez seu valor patrimonial.
Antonio Machado, administrador de renda variável do Opportunity Asset Management, vai
mais longe. "Há oportunidades
melhores no mercado, mesmo
entre as ações de empresas estatais dos setores de petróleo e energia", diz. O Opportunity, segundo
ele, analisou a oferta do BB, mas
ficou de fora.
Para Salles, mesmo com o desconto de 5% dado aos investidores institucionais, "dava para perceber que seria difícil a colocação
dos papéis nos bancos privados".
Eles teriam, depois, de explicar
aos seus clientes por que apostaram em um banco cujo futuro, segundo Salles, é turvo. "Não se sabe quem será o seu presidente
nem a estratégia competitiva que
adotará a partir de 2003", diz ele.
"Teme-se que o BB venha a ser
usado pelo novo governo como
um banco de fomento para financiar a agricultura e as pequenas e
médias empresas -dois segmentos de alto risco e baixo retorno na
área de crédito", diz.
Esse tipo de dúvida quanto ao
futuro não foi colocado, por
exemplo, na pulverização de
ações da Petrobras e da Vale do
Rio Doce, ambas bem-sucedidas.
"A aversão ao risco, na época,
era muito menor e tratava-se de
empresas muito bem focadas nos
seus negócios, sobre as quais não
pairavam dúvidas", diz Machado.
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