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Concurso do Ipea faz ataque a neoliberalismo e globalização
Prova atual prioriza questões ideológicas e defende ações do governo Lula
Instituto deixa de lado conhecimento de economia aplicada e quer contratar economistas alinhados a teses controversas
GUSTAVO PATU
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Com a intenção declarada de
"elaborar um plano de desenvolvimento de longo prazo para
o Brasil", o Ipea, vinculado desde o ano passado à Presidência
da República, promove um
concurso público que destaca
programas do PT, reduz exigências de conhecimentos de
economia e cobra dos candidatos a pesquisadores alinhamento a teses contra o "neoliberalismo" e a globalização.
Motivo de controvérsia desde o edital, em setembro, o processo seletivo é o maior da história do Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada -e, a partir de critérios introduzidos por
seu presidente, Marcio Pochmann, quer contratar profissionais de perfis bem distantes
do que indica o nome do órgão.
As primeiras provas, domingo passado, mostraram que o
instituto não pretende apenas
exigir o conhecimento de temas e autores pouco ligados à
formação tradicional de um
economista, como a obra de
pensadores referenciais para a
esquerda nacional. Demanda-se também concordância com
afirmações que alimentam polêmicas político-ideológicas.
"O termo neoliberalismo designa uma corrente de organização de atividade econômica
que capciosamente ecoa um
movimento histórico com o
qual em realidade e na prática
não compartilha fundamentos
e princípios", é uma das afirmações propostas aos candidatos,
que devem assinalar "certo" ou
"errado" -e o gabarito recém-divulgado indica "certo".
A questão está incluída na
prova de conhecimentos específicos para pesquisadores na
área de "estruturas tecnológica, produtiva e regional", que,
aparentemente, exige dos especialistas familiaridade com a
obra do sociólogo Francisco de
Oliveira, que no governo Lula
trocou o PT, do qual foi um dos
fundadores, pelo PSOL.
Na prova, 6 das 69 afirmações propostas estão abrigadas
em textos sobre Oliveira, incluindo: "A especulação financeira vislumbra como luz no
fim do túnel o brilho do tesouro
nacional" -considerada correta pelo gabarito, mas não atribuída ao sociólogo.
A variedade de especializações possíveis é uma das inovações do concurso, que pretende
selecionar 62 pesquisadores,
com salário inicial de R$ 10,9
mil, em sete áreas. No concurso
anterior, de 2004, os 22 aprovados passaram por uma mesma prova, concentrada em conhecimentos de teoria econômica, matemática e estatística.
Aos candidatos a pesquisador na área de "infra-estruturas e logísticas de base" foi
apresentado um texto sobre o
Projeto Moradia, iniciativa do
Instituto Cidadania, ONG historicamente ligada ao PT e ao
presidente Lula. Mais adiante,
faz-se referência ao programa
Luz Para Todos, do governo petista, como contraponto virtuoso a políticas do passado.
Questões ligadas aos embates políticos e ideológicos permeiam todas as provas, nos textos introdutórios e nas questões -há desde a defesa das políticas sociais até críticas à mídia e ao Judiciário.
Em nota, o Ipea diz que as
críticas à prova são naturais.
"Os concursos do instituto acabam sempre muito discutidos e
comentados interna e externamente, pela dificuldade de suas
provas e importância do Ipea
para o Estado e a sociedade. (...)
A discussão principal hoje é
que o Ipea tem como missão
ajudar a elaborar um plano de
desenvolvimento de longo prazo ao Brasil e quer trazer os melhores dos melhores."
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