São Paulo, terça, 19 de janeiro de 1999

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Fundo será mais 'duro'

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília

Técnicos do FMI (Fundo Monetário Internacional) se irritaram com as alterações da política de câmbio do Brasil feitas na semana passada.
No que depender deles, o FMI vai agir com o país do modo mais estrito possível, de agora em diante.
Eles vão defender que antecipações de parcelas só sejam feitas se as metas do programa em vigor estiverem sendo cumpridas e vão ser duros quanto a sua revisão.
Também pretendem que o Brasil se comprometa, ainda que no futuro, a adotar a fórmula das bandas cambiais largas, em vez da livre flutuação ou controle rígido.
Nas negociações concluídas em novembro passado, sempre ficou clara a preferência do FMI pelo sistema de bandas cambiais mais largas do que as que vinham sendo adotadas pelo Brasil.
A insistência dos brasileiros pela manutenção de sua política fez o FMI aceitá-la, graças a uma decisão política de seus dirigentes, não por livre escolha de seus técnicos.
Alguns economistas do Fundo até chegaram a considerar interessante a possibilidade de explorar uma fórmula diferente, mais como uma curiosidade intelectual.
Mas nenhum deles contava com uma inversão tão rápida quanto a que se verificou nos últimos dias.
O caso brasileiro tinha especial importância para o FMI. Após o fracasso sucessivo dos planos de emergência adotados para os vários "tigres asiáticos" e a Rússia, o Brasil se tornou quase que a última esperança para o Fundo provar que seu receituário funciona.
A questão é profissional e política. No quadro de rivalidade amistosa que há entre as organizações multilaterais sediadas em Washington, economistas do Banco Mundial vinham atacando os do FMI pelas infelicidades recentes.
O clima ficou tenso a ponto de o voluntarioso presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn, pedir a seu economista-chefe, Joseph Stiglitz, que deixasse de manifestar em público suas opiniões desairosas sobre a capacidade profissional dos colegas do FMI.
Do ponto de vista político, os reveses do FMI nos últimos anos prejudicaram muito sua imagem diante da opinião pública norte-americana.
Os Estados Unidos são a principal fonte de aporte financeiro para o Fundo. Sem eles, não se consegue a "massa crítica" indispensável para aumentos de capital necessários.
Apesar de ser uma tese equivocada, disseminou-se nos Estados Unidos, inclusive no Congresso do país, que o dinheiro do contribuinte norte-americano é usado pelo FMI para salvar da falência governos e empresários corruptos ou incompetentes do Terceiro Mundo.
A cada tropeço de México, Tailândia, Indonésia, Malásia, Rússia, avolumavam-se as críticas, a ponto de programas de TV de fim de noite, "talk-shows" de rádio e motoristas de táxi se referirem ao Fundo de maneira depreciativa.



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