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Fundo será mais 'duro'
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
da Sucursal de Brasília
Técnicos do FMI (Fundo Monetário Internacional) se irritaram com as alterações da política de câmbio do Brasil feitas
na semana passada.
No que depender deles, o FMI
vai agir com o país do modo
mais estrito possível, de agora
em diante.
Eles vão defender que antecipações de parcelas só sejam feitas se as metas do programa em
vigor estiverem sendo cumpridas e vão ser duros quanto a
sua revisão.
Também pretendem que o
Brasil se comprometa, ainda
que no futuro, a adotar a fórmula das bandas cambiais largas, em vez da livre flutuação
ou controle rígido.
Nas negociações concluídas
em novembro passado, sempre
ficou clara a preferência do
FMI pelo sistema de bandas
cambiais mais largas do que as
que vinham sendo adotadas
pelo Brasil.
A insistência dos brasileiros
pela manutenção de sua política fez o FMI aceitá-la, graças a
uma decisão política de seus dirigentes, não por livre escolha
de seus técnicos.
Alguns economistas do Fundo até chegaram a considerar
interessante a possibilidade de
explorar uma fórmula diferente, mais como uma curiosidade
intelectual.
Mas nenhum deles contava
com uma inversão tão rápida
quanto a que se verificou nos
últimos dias.
O caso brasileiro tinha especial importância para o FMI.
Após o fracasso sucessivo dos
planos de emergência adotados
para os vários "tigres asiáticos"
e a Rússia, o Brasil se tornou
quase que a última esperança
para o Fundo provar que seu
receituário funciona.
A questão é profissional e política. No quadro de rivalidade
amistosa que há entre as organizações multilaterais sediadas
em Washington, economistas
do Banco Mundial vinham atacando os do FMI pelas infelicidades recentes.
O clima ficou tenso a ponto
de o voluntarioso presidente
do Banco Mundial, James Wolfensohn, pedir a seu economista-chefe, Joseph Stiglitz, que
deixasse de manifestar em público suas opiniões desairosas
sobre a capacidade profissional
dos colegas do FMI.
Do ponto de vista político, os
reveses do FMI nos últimos
anos prejudicaram muito sua
imagem diante da opinião pública norte-americana.
Os Estados Unidos são a principal fonte de aporte financeiro
para o Fundo. Sem eles, não se
consegue a "massa crítica" indispensável para aumentos de
capital necessários.
Apesar de ser uma tese equivocada, disseminou-se nos Estados Unidos, inclusive no
Congresso do país, que o dinheiro do contribuinte norte-americano é usado pelo FMI
para salvar da falência governos e empresários corruptos ou
incompetentes do Terceiro
Mundo.
A cada tropeço de México,
Tailândia, Indonésia, Malásia,
Rússia, avolumavam-se as críticas, a ponto de programas de
TV de fim de noite, "talk-shows" de rádio e motoristas
de táxi se referirem ao Fundo
de maneira depreciativa.
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