São Paulo, terça, 19 de janeiro de 1999

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FINANCIAMENTO
Supermercados calculam que importados subirão dentro de 60 dias
Comércio já aumenta juros e teme perda de consumidor

FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local

Comprar a prazo já está mais caro. Financeiras e lojas passaram o fim-de-semana calculando as novas tabelas de juros. Ontem mesmo, algumas aumentaram as taxas em quase um ponto percentual.
A Cred 1, que administra crediário em 800 pontos-de-venda, cobrava do consumidor até a semana passada cerca de 6,5% a 7% de juros ao mês. Ontem, essas taxas subiram para 7,5% a 8,5%, sem o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras).
"Tivemos de cobrar mais juros do consumidor porque também estamos pagando mais caro para emprestar recursos dos bancos", diz Mauro Wulkan, sócio-diretor da Cred 1.
Segundo ele, a financeira espera queda nas vendas em razão do aumento, mas acredita que as taxas permanecerão altas por pouco tempo. "Não existe sustentação num juro anual de 42%. Só repassei porque senão teria de parar o financiamento."
Antes mesmo do reajuste, o consumidor se retraiu. No final de semana, logo depois das mudanças na política cambial, as consultas ao SPC (Serviço de Proteção ao Crédito), termômetro das vendas a prazo, caíram 9,9% em relação ao final de semana anterior e 3,7% na comparação com igual período de 98, informa a Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Emílio Alfieri, economista da associação, acredita, contudo, que a queda nas consultas ainda não reflete a mudança no câmbio. "Já era esperado um primeiro trimestre bastante difícil. O consumidor está cauteloso."
Pelo levantamento da ACSP, as vendas à vista foram melhores. As consultas ao Telecheque, que mede o desempenho dessa forma de pagamento, caíram 0,1% sobre o fim-de-semana anterior e cresceram 5,9% em relação a igual período de 98.
Segundo a associação, toda a primeira quinzena de janeiro registrou consumo fraco. Nesse período, as consultas ao SPC caíram 7,3%, e ao Telecheque, 4,1% em comparação com igual período do ano passado.
A Lojas Cem informa que ainda não mexeu nas taxas de juros nem no prazo de financiamento, mas já sentiu os efeitos da liberação do câmbio. O faturamento diário da rede, da ordem de R$ 1,8 milhão, já está em R$ 1,2 milhão, segundo o diretor Natale Dalla Vecchia.
"Está tudo parado. O povo está em estado de choque", diz Girzs Aronson, proprietário rede G. Aronson.
Fábio Pina, economista da Federação do Comércio do Estado de São Paulo (FCESP), diz que os lojistas passaram o dia trocando informações.
Lojistas ouvidos pela Folha consideram que estão entre a cruz e a espada. Se acompanham a variação do dólar, se arriscam a não vender. Se seguraram preços e juros, podem perder adiante.

Supermercados
O presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), José Humberto de Araújo, diz que os preços dos produtos importados vendidos nos supermercados devem começar a subir dentro de 60 dias, quando acabarem os estoques.
Em um primeiro momento, segundo ele, o aumento deverá corresponder à desvalorização do real. O comportamento dos preços, entretanto, dependerá da reação dos consumidores.
"Estamos praticamente sem nenhum espaço para reparar preços. A retração da demanda deverá segurar os reajustes", afirma. Sua expectativa é que as vendas do setor cairão 3,5% no primeiro trimestre em relação ao mesmo período de 98.
Os produtos importados prontos para a venda respondem por 2% do total das vendas dos supermercados, que em 1998 chegaram a R$ 54 bilhões.
Em relação aos produtos importados inacabados, como o arroz argentino, processado no Brasil, a Abras não sabe calcular qual seria o impacto da desvalorização cambial sobre os preços. "Mas em todos os casos quem vai determinar os reajustes será o mercado", disse Araújo.
No ano passado, as vendas dos supermercados cresceram 5,98% em relação a 1997. O resultado surpreendeu a Abras, que esperava um aumento de, no máximo, 5%.



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