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FINANCIAMENTO
Supermercados calculam que importados subirão dentro de 60 dias
Comércio já aumenta juros e teme perda de consumidor
FÁTIMA FERNANDES
da Reportagem Local
Comprar a prazo já está mais
caro. Financeiras e lojas passaram o fim-de-semana calculando as novas tabelas de juros.
Ontem mesmo, algumas aumentaram as taxas em quase
um ponto percentual.
A Cred 1, que administra crediário em 800 pontos-de-venda,
cobrava do consumidor até a semana passada cerca de 6,5% a
7% de juros ao mês. Ontem, essas taxas subiram para 7,5% a
8,5%, sem o IOF (Imposto sobre
Operações Financeiras).
"Tivemos de cobrar mais juros do consumidor porque também estamos pagando mais caro para emprestar recursos dos
bancos", diz Mauro Wulkan,
sócio-diretor da Cred 1.
Segundo ele, a financeira espera queda nas vendas em razão
do aumento, mas acredita que
as taxas permanecerão altas por
pouco tempo. "Não existe sustentação num juro anual de
42%. Só repassei porque senão
teria de parar o financiamento."
Antes mesmo do reajuste, o
consumidor se retraiu. No final
de semana, logo depois das mudanças na política cambial, as
consultas ao SPC (Serviço de
Proteção ao Crédito), termômetro das vendas a prazo, caíram
9,9% em relação ao final de semana anterior e 3,7% na comparação com igual período de
98, informa a Associação Comercial de São Paulo (ACSP).
Emílio Alfieri, economista da
associação, acredita, contudo,
que a queda nas consultas ainda
não reflete a mudança no câmbio. "Já era esperado um primeiro trimestre bastante difícil.
O consumidor está cauteloso."
Pelo levantamento da ACSP,
as vendas à vista foram melhores. As consultas ao Telecheque,
que mede o desempenho dessa
forma de pagamento, caíram
0,1% sobre o fim-de-semana anterior e cresceram 5,9% em relação a igual período de 98.
Segundo a associação, toda a
primeira quinzena de janeiro
registrou consumo fraco. Nesse
período, as consultas ao SPC
caíram 7,3%, e ao Telecheque,
4,1% em comparação com igual
período do ano passado.
A Lojas Cem informa que ainda não mexeu nas taxas de juros
nem no prazo de financiamento, mas já sentiu os efeitos da liberação do câmbio. O faturamento diário da rede, da ordem
de R$ 1,8 milhão, já está em R$
1,2 milhão, segundo o diretor
Natale Dalla Vecchia.
"Está tudo parado. O povo está em estado de choque", diz
Girzs Aronson, proprietário rede G. Aronson.
Fábio Pina, economista da Federação do Comércio do Estado
de São Paulo (FCESP), diz que
os lojistas passaram o dia trocando informações.
Lojistas ouvidos pela Folha
consideram que estão entre a
cruz e a espada. Se acompanham a variação do dólar, se arriscam a não vender. Se seguraram preços e juros, podem perder adiante.
Supermercados
O presidente da Abras (Associação Brasileira de Supermercados), José Humberto de Araújo, diz que os preços dos produtos importados vendidos nos
supermercados devem começar
a subir dentro de 60 dias, quando acabarem os estoques.
Em um primeiro momento,
segundo ele, o aumento deverá
corresponder à desvalorização
do real. O comportamento dos
preços, entretanto, dependerá
da reação dos consumidores.
"Estamos praticamente sem
nenhum espaço para reparar
preços. A retração da demanda
deverá segurar os reajustes",
afirma. Sua expectativa é que as
vendas do setor cairão 3,5% no
primeiro trimestre em relação
ao mesmo período de 98.
Os produtos importados
prontos para a venda respondem por 2% do total das vendas
dos supermercados, que em
1998 chegaram a R$ 54 bilhões.
Em relação aos produtos importados inacabados, como o
arroz argentino, processado no
Brasil, a Abras não sabe calcular
qual seria o impacto da desvalorização cambial sobre os preços.
"Mas em todos os casos quem
vai determinar os reajustes será
o mercado", disse Araújo.
No ano passado, as vendas dos
supermercados cresceram
5,98% em relação a 1997. O resultado surpreendeu a Abras,
que esperava um aumento de,
no máximo, 5%.
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