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LUÍS NASSIF
O mapa do buraco externo
Em meados de 1996, o Departamento de Economia
do BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) produziu trabalho relevante em que alertava para os
problemas futuros nas contas
externas brasileiras, com o Investimento Direto Externo
(IDE) concentrado quase exclusivamente em setores de
não-comercializáveis (sem comércio internacional). O trabalho ficou como mais um
alerta perdido no ar.
Agora, a pesquisa "O Investimento Estrangeiro na Economia Brasileira e o Investimento
de Empresas Brasileiras no Exterior", do Iedi (Instituto de Estudos de Desenvolvimento Industrial), procede a um inventário das imprudências do período.
O trabalho tomou como base
o Censo de Capitais Estrangeiros de 2000. A conclusão principal é que maiores gastos com
juros, remessa de lucros e pagamento de royalties fizeram a
empresa com participação majoritária de capital estrangeiro
ser a principal responsável pelo
déficit em transações correntes
do país -61% do déficit em
2000, ante 31,8% em 1995, e por
66,9% do aumento da dívida
externa no período.
O trabalho dividiu as empresas com participação estrangeira em quatro blocos.
1) No primeiro grupo, setores
com propensão a exportar (relação entre exportações e receita operacional líquida) acima
da média e propensão a importar abaixo da média. Nesse
grupo, predominam setores
primários ou industriais que
utilizam intensamente recursos naturais e contribuem fortemente para a geração de saldos comerciais positivos. Em
2000, o superávit do grupo foi
de US$ 10 bilhões.
2) O segundo grupo é o de setores deficitários, com propensão a exportar abaixo da média e propensão a importar acima da média. Na maior parte
são setores industriais demandantes de insumos importados,
como químico, material eletrônico e de comunicações e equipamentos de informática. Em
2000, respondeu por US$ 8,1 bilhões de déficit comercial.
3) O terceiro grupo é de setores com baixos volumes de exportação e importação. A propensão a exportar é de 3,3% e a
de importar é de 5%. Em geral
são setores de serviço, tipicamente não-comercializáveis.
Em 2000 o grupo foi deficitário
em US$ 1,6 bilhão.
4) O quarto grupo reuniu setores com maior grau de integração com o comércio exterior, tanto na exportação
quanto na importação. Em sua
maioria, são setores industriais. Em 2000, o grupo gerou
saldo comercial de US$ 1,5 bilhão.
De todo o IDE acumulado entre 1996 e 2000, 60,2% foram
direcionados para o grupo 3
(setores de baixo comércio),
que participa em 9,1% no total
das exportações das empresas
estrangeiras e de 14,7% no total
das importações. Do total do
fluxo do IDE, 26,2% foram para o grupo 2 (setores deficitários), que responde por 41,9%
das importações e por apenas
15,1% das exportações. O grupo
1 (setores de exportação) recebeu apenas 6,9% do IDE acumulado do período. Esse grupo
participa com 38,8% do total
exportado e 9,2% das importações de empresas estrangeiras.
No total, 87% dos US$ 125 bilhões de IDE foram para setores altamente deficitários ou
com baixa expressão direta no
comércio exterior. E apenas
13% para setores de maior corrente de comércio ou superavitários.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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