São Paulo, quinta-feira, 19 de fevereiro de 2004

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Copom não altera taxa de 16,5% ao ano pelo segundo mês seguido; nenhuma justificativa é apresentada

BC mantém juros e não explica a decisão

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Pelo segundo mês seguido, o Banco Central manteve inalterados os juros básicos da economia. Apesar das fortes críticas sofridas nas últimas semanas por não ter reduzido a taxa Selic já em janeiro, o BC decidiu mantê-la em 16,5% ao ano por mais um mês.
Nenhuma justificativa foi apresentada para a decisão, ao contrário do que costuma ocorrer após reuniões do Copom (Comitê de Política Monetária). Desde março de 1999, o BC sempre divulgava explicação para suas resoluções. Nota divulgada no início da noite de ontem se limitou a informar que "o Copom decidiu por unanimidade manter a taxa Selic em 16,5% ao ano, sem viés". Ou seja, os juros só poderão mudar daqui a um mês ou se houver uma reunião extraordinária do BC até lá.
A decisão ocorre num momento de turbulências no governo, depois da divulgação de um vídeo em que o ex-subchefe de Assuntos Parlamentares da Presidência Waldomiro Diniz negocia comissões e contribuição de campanha com um empresário de bingos.
Analistas do mercado financeiro apostavam na manutenção dos juros. O setor industrial criticou duramente a decisão. A Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) defendia queda de 1,5 ponto. Ontem, por meio de nota, disse que "a política monetária insiste em roubar a cena".
Em janeiro, dava-se como certa uma redução de 0,5 ponto percentual nos juros. Mas o BC manteve a taxa. Na explicação que consta na ata da reunião, o BC diz que "o aumento recente da inflação e das projeções pode não representar somente um fenômeno temporário". Cinco dias depois, o ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) disse que "as pressões inflacionárias estão muito concentradas em fatores sazonais".
As críticas em relação à decisão foram tão fortes que circularam boatos sobre a demissão do presidente do BC, Henrique Meirelles.
O BC também argumentou que havia sinais de que a indústria já preparava uma onda de remarcações de preços para breve, o que pressionaria a inflação. Nessas condições, juros elevados evitariam que a economia crescesse de maneira muito acelerada, reduzindo a margem que os empresários teriam para novos reajustes.


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