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LUÍS NASSIF
O bingo e a política
O ponto central do caso
Waldomiro Diniz não é
seu envolvimento com o bingo
em 2002. É o fato de que, até a
eclosão do escândalo, havia a
possibilidade fortíssima de ser
aprovada a legalização do
bingo -por projeto de lei patrocinado por um deputado
federal do PT de Minas Gerais
ou até por medida provisória,
conforme chegou a circular.
Desde o ano passado o funcionamento dos bingos é ilegal, mas apenas um Estado
-o Paraná- ousou mandar
fechar as casas locais, enfrentando pesada resistência jurídica.
Ainda não caiu a ficha do
país sobre o monstro que
criou com a legalização do
bingo. O que se fez foi legalizar toda a estrutura de banqueiros do bicho do país. Eles
se transformaram em "empresários do lazer", atuando
com federações esportivas sem
representatividade.
Liberados, ganharam dinheiro e ampliaram decididamente a influência política
por duas razões. Primeiro,
porque, para os políticos, deixou de haver o constrangimento de tratar com banqueiros do bicho atuando na clandestinidade. Passaram a tratar com empresários do setor
de entretenimento, com CNPJ
e tudo. Segundo, porque, donos de firmas juridicamente
legais, puderam participar de
licitações estaduais, municipais e até do jogo político federal, ampliando seu poder de
fogo e de financiamento eleitoral. Antes, financiavam
campanhas políticas em troca
de proteção. Depois, passaram a poder participar de licitações públicas. A força adquirida foi tão grande que
conseguiram financiar campanhas comerciais em defesa
do bingo em redes nacionais
de televisão e até conquistar
capas em revistas semanais
defendendo seu "caráter social".
Restaram poucos nessa luta
contra o bingo. Um grupo de
procuradores enfrentando riscos objetivos, associações de
apoio a viciados em bingo e
um governador -Roberto
Requião, do Paraná- que
conseguiu, ao menos aí, uma
grande causa para aplicar seu
estilo tresloucado.
Agora pipocam por todos os
lados sinais de envolvimento
do PT contra o bingo. É no
Rio, em Mato Grosso, no Rio
Grande do Sul, na prefeitura
de Campinas. Mas a estrutura
de influência do bingo é mais
ampla. Como se explica que
em todos os demais Estados
da federação os bingos continuem em operação, sabendo-os, agora, uma atividade não
legalizada e com todo o histórico de corrupção e indícios de
ligação com o crime organizado? Essa leniência com o jogo
coloca em risco a estabilidade
política do país, corrói a imagem internacional de Lula e
passa a percepção, cada vez
maior, de que a bancada do
bicho virou uma força invencível no Congresso.
A lição a se tirar do episódio
não consiste em sacrificar um
soldado do partido, mas romper de vez com essa aliança espúria e partir decididamente
para a luta da cidadania contra a indústria do bingo. É
nessa luta que se saberá distinguir o político limpo daquele que se deixou seduzir
pelo dinheiro do bingo e saber, até que ponto, as relações
promíscuas da política com o
jogo tornaram os governantes
reféns de chantagens.
E-mail -
Luisnassif@uol.com.br
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