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Jovens são conservadores ao escolher investimento
Pesquisa mostra que investidores paulistanos são os que menos ousam ao aplicar
Caderneta de poupança e
previdência privada figuram
como os mais procurados pelos que têm idade entre 20 e 30 anos, em 5 cidades
Julia Moraes/Folha Imagem
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A arquiteta Mika Tanaka, que faz aplicações "conservadoras" |
ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL
Desde que começou a trabalhar como assistente jurídico,
há quase dois anos, Paulo Carvalhal, 25, aplica as economias
em uma poupança. Os primos,
que têm contato com o mercado financeiro, já tentaram dissuadi-lo a fazer outro tipo de
investimento, mas o assistente
achou tudo muito complicado.
"Para quem não trabalha na
área, é difícil de entender", diz.
Estudante e estagiário de direito, Carvalhal também faz
parte de uma estatística, a da
maioria de jovens paulistanos
que escolhem alternativas mais
conservadoras na hora de fazer
seus investimentos.
O grupo foi detectado por
pesquisa do instituto Data Popular, sob encomenda da associação Ação Jovem do Mercado
de Capitais, apoiada pela Bolsa
de Valores de São Paulo e pela
BM&F (Bolsa de Mercadorias
& Futuros). Foram ouvidos jovens com idade entre 20 e 30
anos, que cursam ou já cursaram o ensino superior, com
renda igual ou maior que R$
1.500, em cinco cidades (São
Paulo, Salvador, Belo Horizonte, Rio e Porto Alegre).
O estudo chegou à conclusão
de que a poupança é o investimento mais usado em todas as
praças pesquisadas. Em São
Paulo, foi citada por 58% dos
que responderam ao estudo.
Em segundo lugar, os jovens
paulistanos elegeram a previdência privada (24%). O mercado de ações, por sua vez, está
quase no fim da fila, perdendo
para o ouro (veja quadro).
Apesar de ser a mais popular,
a caderneta de poupança não
resulta em satisfação total. Carvalhal, por exemplo, acredita
que seu dinheiro poderia render mais se fosse aplicado em
ações. Ele chegou a se inscrever
em um curso para entender
melhor o mercado. "Assusta
quem não o conhece", diz.
De acordo com a pesquisa,
Carvalhal está certo, e o mercado assusta mesmo. A maioria
dos jovens não entende seu
funcionamento, considera a
linguagem empregada complicada e distante, desconhece os
mecanismos de como investir e
superestima os riscos. O medo
de arriscar é ainda superior ao
interesse de investir.
A arquiteta Mika Tanaka, 29,
que também está dentro do
grupo detectado pela pesquisa,
declara que não quer "correr
riscos por não dominar o assunto". Segundo ela, sua opção
de investimento "é bem conservadora". Além da poupança,
aplica em VGBL e PGBL (tipos
de previdência privada).
Assim como o estudante de
direito, Tanaka também vem
procurando se instruir sobre o
mercado de capitais. "Já li muito sobre o assunto, desde livros
sobre liderança e a biografia de
Lee Iacocca até "Pai Rico, Pai
Pobre", mas cheguei à conclusão de que não se aplica à realidade do Brasil", diz.
Para ela, um dos motivos do
"conservadorismo jovem" é a
falta de instrução sobre o assunto nas escolas. "Planejamento e orçamento familiar
deveriam ser assuntos em pauta nas salas de aula, desde o ensino básico até a universidade."
A opinião é compartilhada
por Carlos Alberto Souza Barros, presidente do Ação Jovem.
Ele acredita que a educação financeira é necessária desde a
infância. Na juventude, quando
a "vida financeira é iniciada", é
importante saber, ao menos, o
que é oferecido pelos bancos.
O problema, para Barros, é
conceitual. "Não se sabe o que é
Bolsa, o que é ação, o que significa ser sócio de uma empresa."
Cultura
Já o superintendente executivo da área de investimento do
Bradesco, Marcos Villanova,
diz que o problema é cultural,
gerado por crises econômicas e
mudanças de moeda.
"Os jovens que estão na faixa
etária da pesquisa nasceram no
período da inflação alta. Daquela época até hoje, os pais só
falaram de poupança para os filhos, era a regra básica de cada
família. Isso ficou na cabeça."
Para o economista e professor José Pio Martins, o conservadorismo existe, mas é bem
mais brando do que o do passado. Autor do livro "Educação
Financeira ao Alcance de Todos", Martins aponta a ausência do assunto na grade curricular como um problema fundamental. "O nosso sistema
educacional ignora o assunto
dinheiro, a vida econômica."
O resultado disso, segundo o
economista, é que a rejeição
acontece pela ignorância.
"Muita gente acredita que é um
cassino e, como não se consideram jogadores, não entram."
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