São Paulo, segunda-feira, 19 de fevereiro de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Jovens são conservadores ao escolher investimento

Pesquisa mostra que investidores paulistanos são os que menos ousam ao aplicar

Caderneta de poupança e previdência privada figuram como os mais procurados pelos que têm idade entre 20 e 30 anos, em 5 cidades

Julia Moraes/Folha Imagem
A arquiteta Mika Tanaka, que faz aplicações "conservadoras"


ISABELLE MOREIRA LIMA
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde que começou a trabalhar como assistente jurídico, há quase dois anos, Paulo Carvalhal, 25, aplica as economias em uma poupança. Os primos, que têm contato com o mercado financeiro, já tentaram dissuadi-lo a fazer outro tipo de investimento, mas o assistente achou tudo muito complicado. "Para quem não trabalha na área, é difícil de entender", diz.
Estudante e estagiário de direito, Carvalhal também faz parte de uma estatística, a da maioria de jovens paulistanos que escolhem alternativas mais conservadoras na hora de fazer seus investimentos.
O grupo foi detectado por pesquisa do instituto Data Popular, sob encomenda da associação Ação Jovem do Mercado de Capitais, apoiada pela Bolsa de Valores de São Paulo e pela BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros). Foram ouvidos jovens com idade entre 20 e 30 anos, que cursam ou já cursaram o ensino superior, com renda igual ou maior que R$ 1.500, em cinco cidades (São Paulo, Salvador, Belo Horizonte, Rio e Porto Alegre).
O estudo chegou à conclusão de que a poupança é o investimento mais usado em todas as praças pesquisadas. Em São Paulo, foi citada por 58% dos que responderam ao estudo.
Em segundo lugar, os jovens paulistanos elegeram a previdência privada (24%). O mercado de ações, por sua vez, está quase no fim da fila, perdendo para o ouro (veja quadro).
Apesar de ser a mais popular, a caderneta de poupança não resulta em satisfação total. Carvalhal, por exemplo, acredita que seu dinheiro poderia render mais se fosse aplicado em ações. Ele chegou a se inscrever em um curso para entender melhor o mercado. "Assusta quem não o conhece", diz.
De acordo com a pesquisa, Carvalhal está certo, e o mercado assusta mesmo. A maioria dos jovens não entende seu funcionamento, considera a linguagem empregada complicada e distante, desconhece os mecanismos de como investir e superestima os riscos. O medo de arriscar é ainda superior ao interesse de investir.
A arquiteta Mika Tanaka, 29, que também está dentro do grupo detectado pela pesquisa, declara que não quer "correr riscos por não dominar o assunto". Segundo ela, sua opção de investimento "é bem conservadora". Além da poupança, aplica em VGBL e PGBL (tipos de previdência privada).
Assim como o estudante de direito, Tanaka também vem procurando se instruir sobre o mercado de capitais. "Já li muito sobre o assunto, desde livros sobre liderança e a biografia de Lee Iacocca até "Pai Rico, Pai Pobre", mas cheguei à conclusão de que não se aplica à realidade do Brasil", diz.
Para ela, um dos motivos do "conservadorismo jovem" é a falta de instrução sobre o assunto nas escolas. "Planejamento e orçamento familiar deveriam ser assuntos em pauta nas salas de aula, desde o ensino básico até a universidade."
A opinião é compartilhada por Carlos Alberto Souza Barros, presidente do Ação Jovem. Ele acredita que a educação financeira é necessária desde a infância. Na juventude, quando a "vida financeira é iniciada", é importante saber, ao menos, o que é oferecido pelos bancos.
O problema, para Barros, é conceitual. "Não se sabe o que é Bolsa, o que é ação, o que significa ser sócio de uma empresa."

Cultura
Já o superintendente executivo da área de investimento do Bradesco, Marcos Villanova, diz que o problema é cultural, gerado por crises econômicas e mudanças de moeda.
"Os jovens que estão na faixa etária da pesquisa nasceram no período da inflação alta. Daquela época até hoje, os pais só falaram de poupança para os filhos, era a regra básica de cada família. Isso ficou na cabeça."
Para o economista e professor José Pio Martins, o conservadorismo existe, mas é bem mais brando do que o do passado. Autor do livro "Educação Financeira ao Alcance de Todos", Martins aponta a ausência do assunto na grade curricular como um problema fundamental. "O nosso sistema educacional ignora o assunto dinheiro, a vida econômica."
O resultado disso, segundo o economista, é que a rejeição acontece pela ignorância. "Muita gente acredita que é um cassino e, como não se consideram jogadores, não entram."


Texto Anterior: Marcos Cintra: Calote constitucionalizado
Próximo Texto: Conservadorismo não está ligado somente a finanças
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.