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TRABALHO
Só 46% das categorias com data-base no segundo semestre conseguiram pelo menos repor a inflação, diz Dieese
Recessão emperra aumentos de salários
JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL
O racionamento de energia e a
série de choques -da retração
mundial pós-ataques terroristas
de 11 de setembro aos efeitos da
crise argentina- que colocaram
na lona a economia brasileira no
segundo semestre afetaram duramente as negociações salariais
dos trabalhadores em 2001.
Pesquisa nacional do Dieese,
com 529 categorias profissionais
que fizeram negociações ao longo
do ano passado (a partir de cada
data-base), revela que 72% das
que firmaram acordos no primeiro semestre obtiveram reposição
salarial igual ou maior que o INPC
(Índice Nacional de Preços ao
Consumidor) -um recorde.
O tombo se configuraria nos
seis meses seguintes: somente
46% das categorias com data-base
a partir de julho, as mais tradicionais e combativas, conseguiram
no mínimo repor as perdas da inflação. É um outro recorde: é o
menor percentual de categorias
com reposição no mínimo igual
ao INPC desde que o levantamento passou a ser feito, em 1996.
Na média, 64% das categorias
pesquisadas fecharam 2001 com
ganhos salariais iguais ou maiores
que o INPC. Em 2000, a média de
negociações bem-sucedidas para
os trabalhadores havia sido de
67%. De qualquer forma, 1999
permanece como o pior ano para
negociações salariais -apenas
metade das categorias assegurou
naquele ano a reposição da inflação, segundo o Dieese.
""É como se trabalhássemos
com dois anos em um. Até junho,
havia condições muito favoráveis
para negociações. Depois, foi como se tivesse caído uma bomba",
diz Wilson Amorim, um dos
coordenadores do Dieese.
O relatório aponta ainda que
190 (ou 36%) das categorias relacionadas pelo instituto não conseguiram obter ganhos que, ao menos, repusessem a inflação a partir do INPC. Nesse grupo se encaixam categorias de enorme peso
político/econômico, como os
bancários e os petroleiros.
Exemplo de que como os resultados na mesa de negociações
mudaram, para pior, entre o primeiro e o segundo semestre de
2001 aparece na categorias ligadas
à industria. Este setor concentra
264 (52%) das 529 categorias que
constam no balanço do Dieese.
No primeiro semestre, 73% dos
acordos ou convenções assinados
pelos trabalhadores da indústria
no mínimo igualaram o INPC. No
segundo semestre, o percentual
de acordos ""bem-sucedidos" recua para 56%.
No comércio, entre 28 categorias que discutiram aumentos no
primeiro semestre, 93% obtiveram reajuste igual ou superior ao
INPC. No segundo semestre, foram só 24%.
Nenhum grupo foi tão afetado
quanto o dos trabalhadores ligados ao setor de serviços. Se no primeiro semestre, as negociações
com reposição igual ou superior
ao INPC atingiram 65% dos empregados, no segundo semestre
não mais que 21,6% deles obtiveram condições semelhantes.
Livre do racionamento de energia iniciado em maio, a região Sul
apresentou os melhores resultados em termos percentuais: das
166 categorias pesquisadas na região 81% conseguiram reajustes
que zeraram ou ficaram acima da
variação do INPC nos 12 meses
anteriores à data-base.
No Sudeste, o aproveitamento
cai para 60%. As duas regiões respondem sozinhas por 72% das categorias arroladas no estudo. Das
529 categorias que constam no levantamento, 69% fizeram renegociações salariais no primeiro
semestre e 31%, no segundo.
""A piora na economia freou um
pouco a mobilização dos trabalhadores, e o patrão montou em
cima", diz Antonio Carlos Spis,
presidente da CUT-SP.
""Para esse ano, há duas vantagens: a expectativa de crescimento da economia e o fato de ser ano
eleitoral, que sensibiliza mais",
diz Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.
Colaborou Claudia Rolli, da Reportagem Local
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