São Paulo, terça-feira, 19 de março de 2002

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TRABALHO

Só 46% das categorias com data-base no segundo semestre conseguiram pelo menos repor a inflação, diz Dieese

Recessão emperra aumentos de salários

JOSÉ ALAN DIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

O racionamento de energia e a série de choques -da retração mundial pós-ataques terroristas de 11 de setembro aos efeitos da crise argentina- que colocaram na lona a economia brasileira no segundo semestre afetaram duramente as negociações salariais dos trabalhadores em 2001.
Pesquisa nacional do Dieese, com 529 categorias profissionais que fizeram negociações ao longo do ano passado (a partir de cada data-base), revela que 72% das que firmaram acordos no primeiro semestre obtiveram reposição salarial igual ou maior que o INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor) -um recorde.
O tombo se configuraria nos seis meses seguintes: somente 46% das categorias com data-base a partir de julho, as mais tradicionais e combativas, conseguiram no mínimo repor as perdas da inflação. É um outro recorde: é o menor percentual de categorias com reposição no mínimo igual ao INPC desde que o levantamento passou a ser feito, em 1996.
Na média, 64% das categorias pesquisadas fecharam 2001 com ganhos salariais iguais ou maiores que o INPC. Em 2000, a média de negociações bem-sucedidas para os trabalhadores havia sido de 67%. De qualquer forma, 1999 permanece como o pior ano para negociações salariais -apenas metade das categorias assegurou naquele ano a reposição da inflação, segundo o Dieese.
""É como se trabalhássemos com dois anos em um. Até junho, havia condições muito favoráveis para negociações. Depois, foi como se tivesse caído uma bomba", diz Wilson Amorim, um dos coordenadores do Dieese.
O relatório aponta ainda que 190 (ou 36%) das categorias relacionadas pelo instituto não conseguiram obter ganhos que, ao menos, repusessem a inflação a partir do INPC. Nesse grupo se encaixam categorias de enorme peso político/econômico, como os bancários e os petroleiros.
Exemplo de que como os resultados na mesa de negociações mudaram, para pior, entre o primeiro e o segundo semestre de 2001 aparece na categorias ligadas à industria. Este setor concentra 264 (52%) das 529 categorias que constam no balanço do Dieese.
No primeiro semestre, 73% dos acordos ou convenções assinados pelos trabalhadores da indústria no mínimo igualaram o INPC. No segundo semestre, o percentual de acordos ""bem-sucedidos" recua para 56%.
No comércio, entre 28 categorias que discutiram aumentos no primeiro semestre, 93% obtiveram reajuste igual ou superior ao INPC. No segundo semestre, foram só 24%.
Nenhum grupo foi tão afetado quanto o dos trabalhadores ligados ao setor de serviços. Se no primeiro semestre, as negociações com reposição igual ou superior ao INPC atingiram 65% dos empregados, no segundo semestre não mais que 21,6% deles obtiveram condições semelhantes.
Livre do racionamento de energia iniciado em maio, a região Sul apresentou os melhores resultados em termos percentuais: das 166 categorias pesquisadas na região 81% conseguiram reajustes que zeraram ou ficaram acima da variação do INPC nos 12 meses anteriores à data-base.
No Sudeste, o aproveitamento cai para 60%. As duas regiões respondem sozinhas por 72% das categorias arroladas no estudo. Das 529 categorias que constam no levantamento, 69% fizeram renegociações salariais no primeiro semestre e 31%, no segundo.
""A piora na economia freou um pouco a mobilização dos trabalhadores, e o patrão montou em cima", diz Antonio Carlos Spis, presidente da CUT-SP.
""Para esse ano, há duas vantagens: a expectativa de crescimento da economia e o fato de ser ano eleitoral, que sensibiliza mais", diz Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical.


Colaborou Claudia Rolli, da Reportagem Local

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