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SALTO NO ESCURO
Estudo feito por professor Ildo Sauer, da USP, diz que, se governo construísse usinas, país gastaria R$ 2,5 bi
Energia emergencial pode custar até R$ 16 bilhões
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
ALEXA SALOMÃO
DA REDAÇÃO
O consumidor vai pagar caro
para colocar em ação o Programa
de Energia Emergencial. A contratação de 58 usinas móveis, sustentadas pelo seguro-apagão, pode custar aos cofres públicos até
R$ 16 bilhões.
Essa quantia será desembolsada
caso todas elas entrem em operação para utilizar toda a potência
instalada, de 2.156,5 MW, num
período de 3,5 anos. Se o governo
construísse essas usinas, gastaria
cerca de R$ 2,5 bilhões, fora combustível e custos de manutenção.
É o que constata estudo feito pelo
Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia da USP.
Pelo levantamento, dos R$ 16
bilhões, cerca de R$ 8 bilhões serão gastos com o aluguel dos
equipamentos; R$ 6,8 bilhões
com combustíveis e R$ 1,2 bilhões
com manutenção das máquinas.
"É um escândalo pagar tudo isso
para contratar essas usinas", diz
Ildo Sauer, professor de Pós-Graduação em Energia da USP.
Segundo ele, o estudo também
verificou que os contratos feitos
entre a CBEE (Comercializadora
Brasileira de Energia Emergencial) e os empresários são confidenciais. Nos contratos, diz, existe
uma cláusula padrão que solicita
o sigilo. Sauer teve acesso ao contrato da Termocabo.
Essa usina está localizada em
Cabo de Santo Agostinho, a 30
quilômetros de Recife (PE). Seu
aluguel foi fixado em R$ 139,6 mil
por MW ao mês. "Se ela ficar parada durante três anos e meio receberá R$ 281 milhões", diz o professor Dorival Gonçalves Júnior,
que participou da elaboração do
levantamento. Para construir e
equipar uma térmica igual a essa,
diz, o governo gastaria, no máximo, R$ 80 milhões.
A Termocabo ainda não tem sede. Funciona provisoriamente
nos escritórios de seus sócios, os
empresários Dionon Cantarelly,
da Cerâmica Montercalo, em Cabo de Santo Agostinho, e Sérgio
Zuanella, da construtora OZ&M,
em Recife. As obras estão em andamento e a usina deve operar a
partir de julho. O investimento,
informa Zuanella, está avaliado
em US$ 35 milhões.
Segundo ele, a idéia de entrar no
setor de energia veio como uma
"intuição" há um ano, pouco antes do racionamento. Ele o sócio
pensaram no gás, mas viram uma
oportunidade boa com o combustível quando surgiu o programa emergencial.
Quem entra com o capital é o
Scudder, um fundo de investimentos norte-americano. Falta
agora definir a participação societária e a divisão dos lucros. "Estamos acertando isso agora", diz.
Governo
O presidente interino da CBEE,
Mário Dias Miranda, diz que o governo tinha duas opções na época
do racionamento: contratar produtor independente -o que foi
feito-, ou virar dono de usina
emergencial. "Preferimos a primeira opção, pois só precisaríamos dessa energia por um prazo
limitado. É claro que é uma energia cara. Só que o governo não teria tempo para construí-las no
curto prazo."
Miranda afirma que os contratos não são confidenciais. "Estão a
disposição para quiser ver", declara. Segundo ele, o preço da
energia contratada foi até vantajoso. No mercado internacional, o
MW/h custa R$ 350. O governo
pagou uma média de R$ 289.
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