São Paulo, terça-feira, 19 de março de 2002

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SALTO NO ESCURO

Estudo feito por professor Ildo Sauer, da USP, diz que, se governo construísse usinas, país gastaria R$ 2,5 bi

Energia emergencial pode custar até R$ 16 bilhões

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

ALEXA SALOMÃO
DA REDAÇÃO

O consumidor vai pagar caro para colocar em ação o Programa de Energia Emergencial. A contratação de 58 usinas móveis, sustentadas pelo seguro-apagão, pode custar aos cofres públicos até R$ 16 bilhões.
Essa quantia será desembolsada caso todas elas entrem em operação para utilizar toda a potência instalada, de 2.156,5 MW, num período de 3,5 anos. Se o governo construísse essas usinas, gastaria cerca de R$ 2,5 bilhões, fora combustível e custos de manutenção. É o que constata estudo feito pelo Programa Interunidades de Pós-Graduação em Energia da USP.
Pelo levantamento, dos R$ 16 bilhões, cerca de R$ 8 bilhões serão gastos com o aluguel dos equipamentos; R$ 6,8 bilhões com combustíveis e R$ 1,2 bilhões com manutenção das máquinas. "É um escândalo pagar tudo isso para contratar essas usinas", diz Ildo Sauer, professor de Pós-Graduação em Energia da USP.
Segundo ele, o estudo também verificou que os contratos feitos entre a CBEE (Comercializadora Brasileira de Energia Emergencial) e os empresários são confidenciais. Nos contratos, diz, existe uma cláusula padrão que solicita o sigilo. Sauer teve acesso ao contrato da Termocabo.
Essa usina está localizada em Cabo de Santo Agostinho, a 30 quilômetros de Recife (PE). Seu aluguel foi fixado em R$ 139,6 mil por MW ao mês. "Se ela ficar parada durante três anos e meio receberá R$ 281 milhões", diz o professor Dorival Gonçalves Júnior, que participou da elaboração do levantamento. Para construir e equipar uma térmica igual a essa, diz, o governo gastaria, no máximo, R$ 80 milhões.
A Termocabo ainda não tem sede. Funciona provisoriamente nos escritórios de seus sócios, os empresários Dionon Cantarelly, da Cerâmica Montercalo, em Cabo de Santo Agostinho, e Sérgio Zuanella, da construtora OZ&M, em Recife. As obras estão em andamento e a usina deve operar a partir de julho. O investimento, informa Zuanella, está avaliado em US$ 35 milhões.
Segundo ele, a idéia de entrar no setor de energia veio como uma "intuição" há um ano, pouco antes do racionamento. Ele o sócio pensaram no gás, mas viram uma oportunidade boa com o combustível quando surgiu o programa emergencial.
Quem entra com o capital é o Scudder, um fundo de investimentos norte-americano. Falta agora definir a participação societária e a divisão dos lucros. "Estamos acertando isso agora", diz.

Governo
O presidente interino da CBEE, Mário Dias Miranda, diz que o governo tinha duas opções na época do racionamento: contratar produtor independente -o que foi feito-, ou virar dono de usina emergencial. "Preferimos a primeira opção, pois só precisaríamos dessa energia por um prazo limitado. É claro que é uma energia cara. Só que o governo não teria tempo para construí-las no curto prazo."
Miranda afirma que os contratos não são confidenciais. "Estão a disposição para quiser ver", declara. Segundo ele, o preço da energia contratada foi até vantajoso. No mercado internacional, o MW/h custa R$ 350. O governo pagou uma média de R$ 289.



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