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OPINIÃO ECONÔMICA
Guerra é guerra
BENJAMIN STEINBRUCH
Todos nós na semana passada criticamos o protecionismo de George W. Bush, por causa
das barreiras comerciais para a
importação de aço. As críticas
procedem, porque a decisão de
Bush prejudica diretamente o
Brasil. Estima-se que o país vá
perder cerca de US$ 1 bilhão em
receitas de exportação nos próximos três anos por conta dessa medida.
As sobretaxas impostas pelo
presidente americano, que de resto não surpreenderam ninguém,
são uma medida claramente política. Foram tomadas para proteger um setor industrial que não se
modernizou e que perdeu sua
condição de competitividade internacional. Por isso é fácil criticar Bush. Seria útil ao Brasil, porém, se a atitude dos EUA servisse
também para reflexões sobre o
abandono a que o governo brasileiro tem relegado a empresa nacional na última década.
Bush agiu forçado por um lobby
político, cujo principal objetivo é
proteger os empregos na indústria
siderúrgica americana. Certamente esses lobistas estão equivocados na forma de proteção que
defendem, porque ela vem impedindo, durante anos, a modernização das usinas e o resultado final tem sido o próprio enfraquecimento do setor e o corte de empregos.
A lição teórica desse episódio,
entretanto, é preciosa para nós,
brasileiros: um grande país, por
maior e mais rico que seja, deve
sempre estar atento para defender empregos. No Brasil, dada a
falta de ocupação para os mais de
80 milhões de brasileiros que
compõem a força de trabalho, essa atenção deveria ser redobrada.
Não é. Ao contrário, na última
década, o Brasil entregou de mão
beijada milhões de empregos por
causa de uma abertura exagerada de fronteiras para a entrada
de produtos importados.
Por conta de equivocadas posições ultraliberais, escancaramos
nosso mercado e entregamos ao
capital estrangeiro, sem exigir
contrapartidas, alguns setores estratégicos, como os de energia e
telecomunicações.
O protecionismo americano,
aguçado com as recentes decisões
sobre o aço, se, por um lado, merece nossas críticas, por outro encerra lição sobre amor próprio. Às
vésperas de eleições presidenciais,
um pouco de nacionalismo faria
muito bem ao Brasil. Em nome
da globalização, se adotou aqui
por longo período uma política
suicida, que deixou desamparados os poucos setores competitivos
da empresa nacional, como siderurgia, mineração, têxteis, calçados e produtos agroindustriais.
Ingênuos em nosso mundinho,
tentamos assimilar durante toda
a década de 90 as lições de liberalismo comercial e de globalização
vindas do Primeiro Mundo, sem
perceber os traços de hipocrisia
dessa pregação. Enquanto posávamos de liberais, os americanos
subsidiavam sua produção agrícola com mais de US$ 30 bilhões
por ano, a mesma atitude tomada pelos países da União Européia, e impunham sobretaxas e
cotas de importação a seu bel-prazer.
Não adianta, agora, criticar
George W. Bush. Ele defende a
América e os americanos. Nossa
função é defender o Brasil e os
brasileiros com a mesma garra.
Como disse a "Gazeta Mercantil"
em editorial na semana passada,
a era da inocência terminou. Temos de agir para combater o protecionismo nos fóruns internacionais e, ao mesmo tempo, proteger
nossos mercados com todas as armas. Sobretaxas, cotas, tarifas antidumping, entre outras, compõem o arsenal de medidas protecionistas das quais devemos lançar mão sempre que necessário.
Além disso, teremos de exigir, sem
receios, contrapartidas na hora
de fechar importações de produtos, serviços e de tecnologia.
O Brasil tem de atuar de acordo
com a nova regra do jogo, que
agora é proteger e barganhar. Se
continuar fiel às regras da era da
inocência, será facilmente atingido pela artilharia pesada dos concorrentes comerciais. Nunca é demais lembrar que comércio internacional é uma guerra na qual
exportação é sinônimo de emprego, e importação, de desemprego.
Benjamin Steinbruch, 47, empresário,
é presidente do conselho de administração da Companhia Siderúrgica Nacional.
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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