São Paulo, sexta-feira, 19 de abril de 2002

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Analistas prevêem crise no setor de equipamentos para telefonia

LÁSZLÓ VARGA
ÉRICA FRAGA

DA REPORTAGEM LOCAL

As operadoras de telefonia fixa e celular, que chegaram a atrasar R$ 1 bilhão no pagamento de dívidas aos seus fornecedores, são hoje o ponto central da crise nas telecomunicações.
A partir de julho, porém, as indústrias de equipamentos do setor é que sentirão uma grave queda nas suas receitas, com riscos até mesmo de quebradeiras. Isso porque os investimentos em expansão de linhas cairá drasticamente em 2002.
A avaliação foi feita ontem à Folha por analistas e executivos de empresas de telecomunicações. "Os investimentos no setor foram de R$ 18 bilhões em 2001, mas neste ano o valor cairá pela metade", declarou Virgílio Freire, consultor-chefe da Brisa e ex-presidente da indústria de equipamentos Lucent e da operadora Vésper.
O Brasil é o país que tem mais fornecedores de equipamentos de telecomunicações, e a receita de companhias como Alcatel, Lucent, Motorola, Ericsson e Nortel deve diminuir drasticamente com a redução de encomendas. Muitas dessas empresas devem até mesmo abandonar o país, afirmou um analista.

Derrocada
Vários motivos devem levar fornecedores a desistir de atuar no Brasil. As operadoras estão com alto índice de inadimplência, por volta de 8%, e não se sentem estimuladas a expandir o número de linhas. Para ter uma idéia, o país possui hoje por volta de 35 milhões de linhas fixas instaladas, mas cerca de 10 milhões estão inativas por inadimplência.
Além disso, indústrias como a multinacional francesa Alcatel trabalham com a perspectiva de que as operadoras vão investir mesmo na expansão de serviços corporativos, principalmente os destinados às pequenas e médias empresas.
"Esse tipo de serviço é menos custoso e tem garantia maior de retorno financeiro do que os destinados a residências", disse João d'Amato Neto, diretor de marketing da Alcatel.
A antecipação para este ano de metas estabelecidas pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) para 2003, realizada por operadoras como a Telefônica e a Telemar, permitirão que essas companhias passem a atuar fora de seus Estados em 2002. Mesmo assim, D'Amato não se mostra otimista no aumento dos negócios.
Segundo ele, as operadoras vão se dedicar mesmo ao aumento de serviços, como os de transmissão de dados, para as empresas. "O mercado residencial das operadoras terá crescimento muito pequeno", disse o executivo.
Um dos produtos que a Alcatel oferecerá para as operadoras ampliarem seus negócios é um sistema de PABX (central de telefonia) com 20 ramais. "É um sistema que as pequenas e médias empresas ainda não utilizam. Já as grandes companhias estão muito bem atendidas e as operadoras não vão encontrar muito o que fazer nesse segmento específico."

Renegociação
A situação financeira das operadoras atingiu o auge do período crítico em fevereiro deste ano. Foi quando, forçadas pela inadimplência de seus consumidores e pelo aumento de suas dívidas com a desvalorização do real em 2001, deixaram de pagar créditos no valor de R$ 1 bilhão com seus fornecedores, segundo a Abinee (Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).
A Alcatel, que tem entre seus clientes a Telemar e a Telefônica, começou a registrar atrasos nos pagamentos em dezembro. A empresa não revelou quem deixou de honrar suas dívidas, mas informou que atualmente está em processo de renegociação dos prazos para que os débitos de operadoras sejam quitados.
"Até julho, tudo deve estar normalizado. Mesmo porque muitas operadoras terão de fechar novos contratos para expandir seus negócios", afirmou D'Amato.
O executivo disse que o processo de renegociação não passa pela redução da débitos. Um procedimento contrário ao que a BellSouth, sócia da operadora de telefonia celular BCP, insiste em realizar com bancos credores.
A BCP atrasou o pagamento de US$ 375 milhões de uma dívida de US$ 1,7 bilhão, e a BellSouth reivindica o desconto nos créditos de US$ 110 milhões.



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