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Analistas prevêem crise no setor de equipamentos para telefonia
LÁSZLÓ VARGA
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
As operadoras de telefonia fixa e
celular, que chegaram a atrasar
R$ 1 bilhão no pagamento de dívidas aos seus fornecedores, são hoje o ponto central da crise nas telecomunicações.
A partir de julho, porém, as indústrias de equipamentos do setor é que sentirão uma grave queda nas suas receitas, com riscos
até mesmo de quebradeiras. Isso
porque os investimentos em expansão de linhas cairá drasticamente em 2002.
A avaliação foi feita ontem à Folha por analistas e executivos de
empresas de telecomunicações.
"Os investimentos no setor foram
de R$ 18 bilhões em 2001, mas
neste ano o valor cairá pela metade", declarou Virgílio Freire, consultor-chefe da Brisa e ex-presidente da indústria de equipamentos Lucent e da operadora Vésper.
O Brasil é o país que tem mais
fornecedores de equipamentos de
telecomunicações, e a receita de
companhias como Alcatel, Lucent, Motorola, Ericsson e Nortel
deve diminuir drasticamente com
a redução de encomendas. Muitas
dessas empresas devem até mesmo abandonar o país, afirmou
um analista.
Derrocada
Vários motivos devem levar fornecedores a desistir de atuar no
Brasil. As operadoras estão com
alto índice de inadimplência, por
volta de 8%, e não se sentem estimuladas a expandir o número de
linhas. Para ter uma idéia, o país
possui hoje por volta de 35 milhões de linhas fixas instaladas,
mas cerca de 10 milhões estão inativas por inadimplência.
Além disso, indústrias como a
multinacional francesa Alcatel
trabalham com a perspectiva de
que as operadoras vão investir
mesmo na expansão de serviços
corporativos, principalmente os
destinados às pequenas e médias
empresas.
"Esse tipo de serviço é menos
custoso e tem garantia maior de
retorno financeiro do que os destinados a residências", disse João
d'Amato Neto, diretor de marketing da Alcatel.
A antecipação para este ano de
metas estabelecidas pela Anatel
(Agência Nacional de Telecomunicações) para 2003, realizada por
operadoras como a Telefônica e a
Telemar, permitirão que essas
companhias passem a atuar fora
de seus Estados em 2002. Mesmo
assim, D'Amato não se mostra
otimista no aumento dos negócios.
Segundo ele, as operadoras vão
se dedicar mesmo ao aumento de
serviços, como os de transmissão
de dados, para as empresas. "O
mercado residencial das operadoras terá crescimento muito pequeno", disse o executivo.
Um dos produtos que a Alcatel
oferecerá para as operadoras ampliarem seus negócios é um sistema de PABX (central de telefonia)
com 20 ramais. "É um sistema
que as pequenas e médias empresas ainda não utilizam. Já as grandes companhias estão muito bem
atendidas e as operadoras não vão
encontrar muito o que fazer nesse
segmento específico."
Renegociação
A situação financeira das operadoras atingiu o auge do período
crítico em fevereiro deste ano. Foi
quando, forçadas pela inadimplência de seus consumidores e
pelo aumento de suas dívidas
com a desvalorização do real em
2001, deixaram de pagar créditos
no valor de R$ 1 bilhão com seus
fornecedores, segundo a Abinee
(Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica).
A Alcatel, que tem entre seus
clientes a Telemar e a Telefônica,
começou a registrar atrasos nos
pagamentos em dezembro. A empresa não revelou quem deixou
de honrar suas dívidas, mas informou que atualmente está em processo de renegociação dos prazos
para que os débitos de operadoras
sejam quitados.
"Até julho, tudo deve estar normalizado. Mesmo porque muitas
operadoras terão de fechar novos
contratos para expandir seus negócios", afirmou D'Amato.
O executivo disse que o processo de renegociação não passa pela
redução da débitos. Um procedimento contrário ao que a BellSouth, sócia da operadora de telefonia celular BCP, insiste em realizar com bancos credores.
A BCP atrasou o pagamento de
US$ 375 milhões de uma dívida
de US$ 1,7 bilhão, e a BellSouth
reivindica o desconto nos créditos
de US$ 110 milhões.
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