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COMÉRCIO
Estabilidade no estoque, demanda retraída e câmbio calmo freiam remarcação
Sem consumo, loja resiste a reajuste
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Fabricantes de eletrônicos não
conseguiram repassar o aumento
pretendido há meses -de 6% a
15%- porque as lojas barraram
as novas tabelas de preços. A negociação caminha lentamente. No
setor automobilístico, as revendas
absorveram parte dos aumentos
recentes -as novas tabelas das
montadoras vieram com alta de
2% a 3% neste ano.
Na prática, a pressão por reajustes de preços no comércio varejista teve efeito medíocre. Demanda
retraída, o momento de certa calmaria no câmbio e a estabilidade
no atual nível de estoques de bens
duráveis e semiduráveis impedem ou desestimulam ações pró-remarcação de preços.
A disparada nos pedidos de remarcações anunciadas no primeiro trimestre terá o efeito postergado para o final deste semestre, segundo empresas que participam
das negociações e que foram ouvidas pela Folha. Foram entrevistados representantes dos setores
de eletrônicos, automobilístico,
calçados, roupas e brinquedos.
No caso dos eletrodomésticos,
que incluem itens como freezer e
refrigeradores, a pressão da indústria -formada por apenas
três fabricantes de grande porte- foi maior, e os reajustes já
chegaram às lojas e aos consumidores. O campeão de aumentos é
a geladeira, que, mesmo assim, terá reajuste bem inferior ao solicitado pelas indústrias ao varejo.
Nas redes varejistas, o produto
teve aumento de 2% em dois meses, segundo o IPC da Fipe. Mas as
fábricas conseguiram de algumas
lojas um reajuste médio de 8%,
que será repassado de forma escalonada para os consumidores.
Os casos se repetem em outros
setores: a indústria de vestuário
também recebeu tabelas novas de
seus fornecedores e, portanto, teve de refazer suas contas em fevereiro e em março.
Mercadorias de uso contínuo
(utilizada em todas as estações,
como o índigo blue) vieram com
aumento de até 5%, informa a
Abravest (associação que representa o setor).
Se a inflação em São Paulo ficou
em 0,12% em março, o varejo que
comercializa roupas promoveu
reajustes inferiores (0,10%).
"O preço só não subiu porque
não tem consumo. Há gente com
vergonha de pedir aumento, mas
eles [os fabricantes] querem", diz
Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem.
Minoria
Entre os fabricantes de calçados,
a Abicalçados informa que uma
minoria repassou a alta necessária
para elevar a margem de lucro.
"São 7.000 fábricas no país negociando com as lojas. Informações
preliminares dão conta de que o
reajuste obtido para a coleção inverno foi insignificante", diz Elcio
Jacometti, dono da Jacometti Indústrias e presidente da entidade.
Mário Schmitt, vice-presidente
da Abravest, do setor de vestuário, diz que o repasse dos reajustes
solicitados ao varejo será "inevitável" devido à margem de lucro
apertada. "Esses lucros recordes
de empresas no país em 2003 são
de companhias de grande porte,
com ações em Bolsa", diz.
Flávio Castelo Branco, coordenador de política econômica da
CNI (Confederação Nacional da
Indústria), diz que o consumo em
má fase (o varejo teve queda nas
vendas por 12 meses) é o fator
principal para esse cenário.
Mas os reajustes virão. Provavelmente após sinais (ainda que
tímidos) de melhora na demanda,
afirmam as entidades industriais.
Isso pode acontecer após maio,
ou seja, no final deste semestre.
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