São Paulo, segunda-feira, 19 de abril de 2004

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COMÉRCIO

Estabilidade no estoque, demanda retraída e câmbio calmo freiam remarcação

Sem consumo, loja resiste a reajuste

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Fabricantes de eletrônicos não conseguiram repassar o aumento pretendido há meses -de 6% a 15%- porque as lojas barraram as novas tabelas de preços. A negociação caminha lentamente. No setor automobilístico, as revendas absorveram parte dos aumentos recentes -as novas tabelas das montadoras vieram com alta de 2% a 3% neste ano.
Na prática, a pressão por reajustes de preços no comércio varejista teve efeito medíocre. Demanda retraída, o momento de certa calmaria no câmbio e a estabilidade no atual nível de estoques de bens duráveis e semiduráveis impedem ou desestimulam ações pró-remarcação de preços.
A disparada nos pedidos de remarcações anunciadas no primeiro trimestre terá o efeito postergado para o final deste semestre, segundo empresas que participam das negociações e que foram ouvidas pela Folha. Foram entrevistados representantes dos setores de eletrônicos, automobilístico, calçados, roupas e brinquedos.
No caso dos eletrodomésticos, que incluem itens como freezer e refrigeradores, a pressão da indústria -formada por apenas três fabricantes de grande porte- foi maior, e os reajustes já chegaram às lojas e aos consumidores. O campeão de aumentos é a geladeira, que, mesmo assim, terá reajuste bem inferior ao solicitado pelas indústrias ao varejo.
Nas redes varejistas, o produto teve aumento de 2% em dois meses, segundo o IPC da Fipe. Mas as fábricas conseguiram de algumas lojas um reajuste médio de 8%, que será repassado de forma escalonada para os consumidores.
Os casos se repetem em outros setores: a indústria de vestuário também recebeu tabelas novas de seus fornecedores e, portanto, teve de refazer suas contas em fevereiro e em março.
Mercadorias de uso contínuo (utilizada em todas as estações, como o índigo blue) vieram com aumento de até 5%, informa a Abravest (associação que representa o setor).
Se a inflação em São Paulo ficou em 0,12% em março, o varejo que comercializa roupas promoveu reajustes inferiores (0,10%).
"O preço só não subiu porque não tem consumo. Há gente com vergonha de pedir aumento, mas eles [os fabricantes] querem", diz Valdemir Colleone, diretor da Lojas Cem.

Minoria
Entre os fabricantes de calçados, a Abicalçados informa que uma minoria repassou a alta necessária para elevar a margem de lucro. "São 7.000 fábricas no país negociando com as lojas. Informações preliminares dão conta de que o reajuste obtido para a coleção inverno foi insignificante", diz Elcio Jacometti, dono da Jacometti Indústrias e presidente da entidade.
Mário Schmitt, vice-presidente da Abravest, do setor de vestuário, diz que o repasse dos reajustes solicitados ao varejo será "inevitável" devido à margem de lucro apertada. "Esses lucros recordes de empresas no país em 2003 são de companhias de grande porte, com ações em Bolsa", diz.
Flávio Castelo Branco, coordenador de política econômica da CNI (Confederação Nacional da Indústria), diz que o consumo em má fase (o varejo teve queda nas vendas por 12 meses) é o fator principal para esse cenário.
Mas os reajustes virão. Provavelmente após sinais (ainda que tímidos) de melhora na demanda, afirmam as entidades industriais. Isso pode acontecer após maio, ou seja, no final deste semestre.


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