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VINICIUS TORRES FREIRE
Uau! Street, Bovespa 50 mil e dólar
Lucros americanos vão mais devagar e dólar desaba, mas preço das ações dispara. Em tese, não faz muito sentido
NA PRIMAVERA dos recordes
das Bolsas dos Estados Unidos, a economia americana
vive um ciclo outonal. Poesia ruim,
mas dúvida razoável: por que o preço das empresas listadas em Bolsa
continua a subir se a expectativa
mediana é de estagnação do ritmo
de crescimento do PIB e de lentidão
no incremento dos lucros?
Ok, é um clichê o mercado se descolar dos ditos "fundamentos", do
desempenho econômico real das
companhias. Mas estão exagerando? O leitor, que é perspicaz, como
diria um romancista romântico brasileiro, sabe que a questão não é só
americana. Se por mais não fosse, a
Bolsa brasileira tende a corcovear
quando as americanas tropeçam.
Decerto as grandes empresas
americanas em geral não entraram
no vermelho. Além do mais, apesar
das incertezas sobre o PIB deste
ano, é absurdo falar em estagflação
(crescimento baixo com inflação alta), como o fazem alguns bancões e
analistas globais. Estagflação com
PIB rodando a 2% e inflação a 2,5%?
Paranóia ou mistificação?
Alguns pessimistas falam em especulação. Comparam o atual ciclo
de alta nas Bolsas com o do final dos
anos 80. Em resumo, querem dizer
que o tsunami de fusões e aquisições, vitaminado pelos fundos de
"private equity", infla o preço das
ações direta e indiretamente. Isto é,
por meio do jorro de dinheiro no
mercado e por estimularem apostas
especulativas sobre ações de empresas na mira dos fundões, que sobem
com as notícias de aquisição.
Os fundos de "private equity" tomam dinheiro emprestado e/ou
captam dinheiro de aplicadores a
fim de comprar empresas, fechar
seu capital, "saneá-las" e vendê-las
com lucro. A febre de fusões & aquisições é estimulada pela conjuntura
única de juro mundial baixo, capital
sobrante e estabilidade quase geral.
Mas ninguém está comprando as
empresonas do Dow Jones, e o índice bate recordes. Diz-se então que as
empresonas estão recomprando
suas ações na Bolsa. Pode ser. Mas
ainda continua estranho.
Para piorar a confusão, grandes
investidores não consideram o mercado americano o mais atrativo. Pesquisa da Merrill Lynch divulgada
nesta semana mostra que, para os
gestores de grandes fundos de investimento, o mercado americano está
mais caro e apresenta menos perspectivas de crescimento econômico
que o da eurozona, por exemplo.
Juros baixos e a degringolada do
dólar, que não estava tão desvalorizado em relação ao euro fazia mais
de dois anos, explicariam o apetite
de investidores americanos por ativos do resto do mundo e, em parte, a
apreciação geral das moedas e o inchaço global das ações. A Bovespa
bate recordes em termos de pontos
e de volume de negócios. Na China,
com seu mercado acionário isolado
do planeta, a Bolsa cresce mais de
50% neste ano. Explode o número
de pequenos acionistas, os que costumam chegar no final da festa.
Mas, sim, a perspectiva ainda é a
de que os lucros americanos cresçam mais devagar neste ano. Sim, a
Bolsa chinesa está em ponto de fervura. Sim, apesar de passado o susto
de fevereiro, ninguém ainda entendeu a desaceleração americana, seja
no mercado imobiliário ou nas fábricas. De uma perspectiva racional,
há caixas de surpresas no caminho.
vinit@uol.com.br
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