São Paulo, quinta-feira, 19 de abril de 2007

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VINICIUS TORRES FREIRE

Uau! Street, Bovespa 50 mil e dólar

Lucros americanos vão mais devagar e dólar desaba, mas preço das ações dispara. Em tese, não faz muito sentido

NA PRIMAVERA dos recordes das Bolsas dos Estados Unidos, a economia americana vive um ciclo outonal. Poesia ruim, mas dúvida razoável: por que o preço das empresas listadas em Bolsa continua a subir se a expectativa mediana é de estagnação do ritmo de crescimento do PIB e de lentidão no incremento dos lucros?
Ok, é um clichê o mercado se descolar dos ditos "fundamentos", do desempenho econômico real das companhias. Mas estão exagerando? O leitor, que é perspicaz, como diria um romancista romântico brasileiro, sabe que a questão não é só americana. Se por mais não fosse, a Bolsa brasileira tende a corcovear quando as americanas tropeçam.
Decerto as grandes empresas americanas em geral não entraram no vermelho. Além do mais, apesar das incertezas sobre o PIB deste ano, é absurdo falar em estagflação (crescimento baixo com inflação alta), como o fazem alguns bancões e analistas globais. Estagflação com PIB rodando a 2% e inflação a 2,5%?
Paranóia ou mistificação?
Alguns pessimistas falam em especulação. Comparam o atual ciclo de alta nas Bolsas com o do final dos anos 80. Em resumo, querem dizer que o tsunami de fusões e aquisições, vitaminado pelos fundos de "private equity", infla o preço das ações direta e indiretamente. Isto é, por meio do jorro de dinheiro no mercado e por estimularem apostas especulativas sobre ações de empresas na mira dos fundões, que sobem com as notícias de aquisição.
Os fundos de "private equity" tomam dinheiro emprestado e/ou captam dinheiro de aplicadores a fim de comprar empresas, fechar seu capital, "saneá-las" e vendê-las com lucro. A febre de fusões & aquisições é estimulada pela conjuntura única de juro mundial baixo, capital sobrante e estabilidade quase geral.
Mas ninguém está comprando as empresonas do Dow Jones, e o índice bate recordes. Diz-se então que as empresonas estão recomprando suas ações na Bolsa. Pode ser. Mas ainda continua estranho.
Para piorar a confusão, grandes investidores não consideram o mercado americano o mais atrativo. Pesquisa da Merrill Lynch divulgada nesta semana mostra que, para os gestores de grandes fundos de investimento, o mercado americano está mais caro e apresenta menos perspectivas de crescimento econômico que o da eurozona, por exemplo.
Juros baixos e a degringolada do dólar, que não estava tão desvalorizado em relação ao euro fazia mais de dois anos, explicariam o apetite de investidores americanos por ativos do resto do mundo e, em parte, a apreciação geral das moedas e o inchaço global das ações. A Bovespa bate recordes em termos de pontos e de volume de negócios. Na China, com seu mercado acionário isolado do planeta, a Bolsa cresce mais de 50% neste ano. Explode o número de pequenos acionistas, os que costumam chegar no final da festa.
Mas, sim, a perspectiva ainda é a de que os lucros americanos cresçam mais devagar neste ano. Sim, a Bolsa chinesa está em ponto de fervura. Sim, apesar de passado o susto de fevereiro, ninguém ainda entendeu a desaceleração americana, seja no mercado imobiliário ou nas fábricas. De uma perspectiva racional, há caixas de surpresas no caminho.


vinit@uol.com.br

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