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Conta de luz vai subir para tentar evitar os apagões
Governo também ameaça cortar fornecimento de quem for "gastador"
HUMBERTO MEDINA
ANDRÉ SOLIANI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Poupar energia, pagar mais caro
e ainda ficar sujeito a cortes de luz
individuais. Essa é a tônica das
medidas anunciadas ontem pelo
governo para tentar driblar a crise
energética e evitar a necessidade
de cortes de luz prolongados.
As medidas entram em vigor
em 15 dias nas regiões Sudeste,
Centro-Oeste e Nordeste, com exceção do Maranhão.
Elas foram anunciadas ontem
pelo ministro Pedro Parente e por
todos os membros da GCE (Câmara de Gestão da Crise de Energia Elétrica, o "ministério do apagão"). De acordo com Pedro Parente, coordenador da GCE, a medida foi adotada porque "o sistema não tem condições de atender
à demanda".
Os consumidores residenciais
terão de reduzir 20% de seu consumo. Ainda estão sujeitos, mesmo assim, a sobretaxas de 50% e
de 200% sobre a tarifa normal na
conta de luz. E, se não reduzirem,
podem ter o fornecimento de
energia cortado por três dias no
primeiro mês e por seis dias na
reincidência.
Para cerca de 12,4 milhões de
consumidores que gastam menos
de 100 kWh/mês (39% dos consumidores das regiões Sudeste, Centro-Oeste e Nordeste), não haverá
racionamento.
As medidas valem para quem
gasta acima desse patamar. Na
faixa de 101 kWh a 200 kWh, o
consumidor terá uma meta de redução de 20% sobre o consumo
médio dos meses de maio, junho e
julho de 2000. Se não alcançar a
cota, pode ter a luz cortada.
Quem consome mais de 200
kWh/mês, além de ter de reduzir
o consumo nos mesmos níveis
-a cota será fixa até o final do racionamento-, sob risco de corte
no fornecimento, terá uma "punição" extra: a sobretaxa.
Esses consumidores (28,6% do
total, ou 9 milhões de consumidores das três regiões), mesmo que
reduzam seus gastos, pagarão
mais caro pelo fornecimento de
luz. Essa taxa será aplicada à parcela que exceder a meta. Na faixa
entre 200 kWh e 500 kWh, o consumidor vai pagar 50% a mais do
que a tarifa normal. Já a parcela
que exceder os 500 kWh/mês vai
custar ao consumidor 200% a
mais do que o normal.
Parente reconheceu que a tarifa
extra é alta. "Acho pesado, mas
não há alternativa", disse.
As distribuidoras de energia informarão, até o início do plano,
qual é a cota de cada consumidor.
Casos omissos -como apartamentos alugados recentemente-
serão tratados pelas distribuidoras com cada consumidor.
Os cortes de energia no caso de
não-cumprimento das metas vão
ser inicialmente de três dias e, em
caso de reincidência, de seis dias.
Segundo a Folha apurou, o governo vai alterar a legislação do setor
para permitir que as distribuidoras cortem com mais agilidade a
luz de quem gastar demais.
Tarifa extra não é multa
Ainda de acordo com Parente, a
alternativa à medida adotada seria o corte generalizado de energia
elétrica. A decisão, de acordo com
ele, foi deixar o corte para quando
ele fosse inevitável.
A tarifa extra já havia sido descartada pelo presidente Fernando
Henrique Cardoso. Ontem, Parente disse que o presidente descartou a multa, um sistema injusto, e que a tarifa extra não é multa
porque não haverá arrecadação.
O dinheiro extra será usado no
pagamento de bônus, também
anunciados ontem. Eles serão
concedidos a quem gastar menos
do que a cota de redução. Para
quem consome até 100 kWh/mês,
o bônus é de até R$ 2 a cada R$ 1
economizado além da cota. Para
quem gasta mais do que 100
kWh/mês, o bônus é de até R$ 1
por R$ 1 poupado além da cota.
Mesmo com o plano em vigor, o
"apagão" (corte generalizado no
fornecimento de energia elétrica)
não está descartado. Segundo Parente, o plano atual será avaliado
até o final do mês de junho. Se a
economia não for suficiente ou se
não chover o previsto, poderá haver "apagão".
De acordo com Parente, o sistema de cotas de consumo irá continuar mesmo que seja adotado o
corte programado de energia.
Com o programa, que inclui investimentos no setor energético, o
governo espera evitar o racionamento no próximo ano, quando
haverá eleição para a Presidência
da República, governos estaduais
e Legislativos federal e estadual.
Os consumidores rurais têm
um percentual de redução do
consumo menor. Para eles, o redutor aplicado na conta é de 10%.
Indústria
A indústria teve um tratamento
diferenciado no racionamento. A
redução do consumo varia de
15% a 25% (adotado de acordo
com a atividade industrial) para
grandes indústrias.
As fábricas, no entanto, podem
evitar cortes se conseguirem aumentar sua cota comprando
energia no MAE (Mercado Atacadista de Energia Elétrica).
No caso das indústrias de médio
porte, poderá haver corte. Para
essas indústrias, a energia consumida além da cota será cobrada
pelo preço do MAE.
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