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OPINIÃO ECONÔMICA
As professoras e o impossível
BENJAMIM STEINBRUCH
É preciso inverter as prioridades. O Brasil já mostrou que
sabe assumir decisões políticas,
motivar lideranças e talento,
reorganizar a economia, realizando o impossível. Foi assim
na criação da URV e do Real,
quando a sociedade avançou
decidida a definir a estabilidade, para a criação do novo Brasil. É impossível, disseram os
críticos. Não foi. A nação materializou o milagre. Agora é preciso repetir a dose, para que
possamos apostar, realmente,
no "setor gente", eliminando as
chagas que os derrotistas continuam dizendo que são impossíveis de resolver.
A grande meta é a educação.
Se avançarmos neste terreno será mais fácil resolver os dramas
da saúde, da moradia e do emprego. A tarefa não pode ficar
só na mão dos governantes. As
empresas e as lideranças privadas precisam se engajar no
grande combate. Os números
mostram um grande descompasso entre o que se investe no
ensino básico e o que se aplica
nas universidades, inchadas
por desacertos de toda a sorte.
Os jovens que ali investem, não
se conformam quando descobrem que o "canudo" recebido
não vai se traduzir em oportunidades de emprego. Mais ainda, ficam perplexos ao ver como
o ensino que receberam se distanciava da vida real, de um
trabalho cada vez mais inacessível.
Os avanços tecnológicos e a
competição criam, todos os
dias, novas carreiras, sepultam
outras, definem novas exigências para quem precisa trabalhar. É importante ajustar os
currículos, para que o jovem se
prepare para o mercado. A educação não pode ser apenas a
transmissão de informações
culturais, certamente necessária. É preciso que o conceito de
instrução esteja presente, orientando os alunos para a vida
diária e para o uso dos seus
direitos de cidadania. Algumas
ações neste sentido já estão em
andamento. Aqui vão mais
duas propostas para debate:
1) estimular as empresas a se
engajarem nesta nova etapa do
ensino, criando escolas nas comunidades em que atuam, voltadas para o ensino básico e as
lições de vida prática. A guerra
fiscal que já existe -e é legítima- para atrair investimentos, deveria ser estendida, em
parte, para a educação. Essas
escolas teriam na porta os nomes das empresas que zelariam
para que o ensino tivesse o mesmo nível de excelência dos seus
produtos e serviços;
2) outra idéia. Para as escolas, custeadas e dirigidas por
Estados e municípios com repasses do Orçamento da União,
exigir o mesmo ensino pragmático. Ao mesmo tempo estabelecer critérios objetivos e não políticos (que já existem) para
uma avaliação permanente. Seriam, então, criados índices a
serem atingidos e que dariam
direito a um "bônus" extra, a
ser incluído no Orçamento seguinte, para novos investimentos educacionais. Estaria assim
criada uma espiral positiva:
melhor desempenho, mais seriedade, mais verba, mais educação.
Ao redigir este artigo um amigo me fez recordar a professora
primária que, desde o jardim-de-infância, ajudou a formar cidadãos pelo Brasil afora.
Ela não se limitava a retirar a
criança -e, por vezes, o adulto- do analfabetismo. Ao lado
das taboadas e lições de leitura,
a professorinha dava aulas de
vida. Ensinava seus alunos a
aprender a aprender. A se ajustar às coisas novas, a se integrar
na família e na comunidade,
preparando-os para o trabalho
que era valorizado desde a infância.
Quantas vezes elas conquistaram o impossível?
Benjamin Steinbruch, 44, empresário, graduado em administração de empresas e marketing financeiro pela Fundação Getúlio Vargas (SP), é presidente dos conselhos de administração da Companhia Siderúrgica Nacional, da Metropolitana e da Vale do Rio Doce.
E-mail: bvictoria@psi.com.br
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