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LUÍS NASSIF
O desafio dos semicondutores
O trabalho "O Brasil e a Economia do Conhecimento - Desenvolvimento da Indústria de Componentes para o Complexo Eletrônico", do secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Benjamin
Benzaquen Sicsú, é um marco, por razões simples.
O Brasil é um país de movimentos pendulares radicais. Caminha em uma direção até o limite do exagero. Segue-se um processo de radicalização na direção contrária, que produz seus exageros, levando o pêndulo a retornar ao caminho anterior.
A discussão sobre política industrial seguiu esse caminho. Graças à política industrial, o
Brasil logrou os enormes saltos
experimentados de 1950 a 1980.
Depois, exagerou-se na dose,
com o BNDES (Banco Nacional
de Desenvolvimento Econômico
e Social) passando a comando
um processo de superinvestimento industrial de consequências danosas, escudado na falta
de debates que caracterizava o
regime militar.
A consequência foi uma enorme reação contra toda forma de
interferência pública e de políticas industriais, criando uma radicalização oposta, a de considerar que qualquer forma de ação
governamental significaria repetir os erros dos anos 80.
Com o tempo, houve um amadurecimento dos diagnósticos. O
tema do planejamento estratégico passou a se firmar, além da
idéia de que caberia ao governo
um papel indutor de investimentos, desde que alicerçado em
princípios racionais e de impessoalidade. Só que os defensores
das novas idéias evitavam com
temor supersticioso utilizar a palavra "política industrial", pelo
fato de ter sido amaldiçoada.
Um dos raros batalhadores governamentais para a implementação de uma indústria de semicondutores no país, Sicsú rasga a
fantasia e defende abertamente
uma política industrial para o
setor, especialmente agora que
vai se definir o novo padrão de
TV digital.
No campo dos semicondutores,
há grande importância da atração da primeira fábrica, que trará todo um conjunto de fornecedores. A visão de Sicsú é que há
poucos "players" mundiais de
tecnologia de ponta e que a concessão de benefícios é elemento
essencial na tomada de decisão
de investimento. O trabalho
identificou 12 formas de incentivos, desde créditos e isenções de
Imposto de Renda até doações
em dinheiro. Os incentivos devem se limitar a atender às necessidades estritamente demandadas pelas empresas e analisadas caso a caso, como forma de
otimizar a utilização dos instrumentos de política. Esse diagnóstico caberia ao BNDES.
O trabalho identifica dois blocos de medidas de estímulo. O
primeiro visa melhorar a competitividade das empresas, visando
compensar as deficiências em fatores, como políticas regulatórias favoráveis, benefícios fiscais,
redução nas taxas de juros, financiamentos etc. O segundo
bloco é relacionado com o desenvolvimento e capacitação tecnológicos, de programas envolvendo universidades, institutos e
centros tecnológicos dedicados
ao setor de semicondutores.
Ponto relevante é a necessidade de uma estrutura tarifária
consistente. Hoje em dia há sinalização errada com o Imposto de
Importação, muitas vezes menor
que os tributos cobrados internamente. O trabalho propõe um
mecanismo que torne o Imposto
de Importação igual ou menor
ao preço final do produto produzido: o Imposto de Importação
seria de zero para bens importados sem similar nacional e igual
ao do produto fabricado internamente.
A idéia é que os insumos seriam importados com suspensão
de impostos. Haveria conversão
da suspensão em isenção, para o
caso de o produto fabricado vir a
ser exportado. Se fosse destinado
ao mercado interno, incidiriam
os impostos sobre as matérias-primas importadas, mas de
acordo com o modelo proposto.
Para os semicondutores, haveria cinco pontos de incentivo: fiscal e tributário, aduaneiro, financiamento, capacitação tecnológica e de infra-estrutura.
Ponto relevante, segundo o
trabalho, é eleger um único interlocutor governamental, o Ministério da Indústria e do Comércio e órgãos vinculados.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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