São Paulo, quarta-feira, 19 de junho de 2002

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Turbulência já faz multinacionais perderem valor no mercado externo

ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise brasileira bateu pesado no valor de mercado de multinacionais no exterior. As ações de empresas estrangeiras, com negócios no Brasil, caem há dias nas Bolsas espanholas e portuguesas. Nesta semana, ocorreu uma ligeira recuperação, que os analistas consideram sem expressão.
"Muito Brasil, muita América Latina e pouca paciência dos investidores" repercutem negativamente nas ações das companhias, informa o relatório do Morgan Stanley na Espanha.
As empresas mais atingidas nas últimas duas semanas -até o fechamento do mercado ontem- foram Portugal Telecom, Sonae, BCP, Telefônica, EDP (Eletricidade de Portugal, controladora da Cerj e Bandeirante) e Jerônimo Martins (dono das redes Sé).
Só as ações da Portugal Telecom, controladora da Telesp, acumulam uma perda de 12,3% nos últimos trinta dias, segundo índice Euronext Lisbon, da Bolsa portuguesa. O Dresdner Bank decidiu, nesta semana, reduzir a expectativa de preço alvo das ações do grupo de 11 para 8,80. O banco não acredita que a cotação do papel subirá tão cedo.
O Sonae, rede de varejo de Portugal com lojas no Sul do país, também registrou queda em seus papéis de 6% na semana passada. A expansão ontem, de 4,69%, ainda não recupera as perdas.
No caso da Telefônica, empresa espanhola que explora a área de telefonia fixa, foi apurada retração nos papéis negociados na Bolsa de Madri. O Ibex 35, indicador das empresas com maior rentabilidade, mostra elevação superior a 2,7% nos dois últimos dias. Mas, no acumulado da semana, a queda supera os 11%.
Até a primeira semana de junho, segundo a Folha apurou, a empresa acumulava uma queda de quase 33% em suas cotações, em relação a igual período de 2001. Isso acaba arrastando o índice geral da Bolsa de Madri.
De acordo com relatórios semanais de analistas apresentados na semana passada, e publicados pelo jornal português "Diário de Notícias", os investidores querem abandonar os papéis de empresas brasileiras, preocupados com a desvalorização do real, com a possibilidade de vitória de um partido de oposição país e devido à demora na retomada da expansão na América Latina.
Há outras razões para a depreciação. O setor de telecomunicações passa por uma forte reestruturação, com perdas de rentabilidade e reduções nos lucros dos grupos que exploram a área. Isso também tem impacto no valor dos papéis. Além disso, outras questões ajudam a pressionar o valor de mercado das empresas.
No setor varejista, por exemplo, o grupo Jerônimo Martins, dono do Sé, vive um momento delicado devido ao alto endividamento e a dificuldade de elevar seu caixa.
Para tentar resolver esse problema, a empresa tentou vender a rede Sé por R$ 500 milhões no mês de maio. As redes brasileiras acharam o negócio caro demais. Sem ter como elevar seu caixa, os papéis da companhia despencaram em junho. A recente elevação nessa semana ocorreu apenas porque as ações tinha caído tanto que tornou-se interessante comprá-las novamente.



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