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PROTECIONISMO
Entidade mantém condenação a subsídios norte-americanos ao setor de algodão; decisão ainda pode ser contestada
OMC confirma vitória do Brasil contra os EUA
LUIS RENATO STRAUSS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A OMC (Organização Mundial
do Comércio) confirmou ontem
decisão favorável ao Brasil, dada
no final de abril, na disputa contra
os subsídios concedidos pelos Estados Unidos a seus produtores
de algodão. Segundo o Ministério
da Relações Exteriores, o relatório
abrange não apenas os recursos
dados ao algodão, "mas, sim, subsídios agrícolas como um todo".
O ministério também informou
que o resultado "mapeia" o caminho que os países em desenvolvimento devem tomar para contestar os subsídios agrícolas das nações ricas.
"Embora o pedido brasileiro tenha se restringido ao algodão, o
resultado do contencioso se aplica, de uma maneira geral, a todos
os subsídios que são concedidos
para produtos agrícolas, sejam
eles domésticos, sejam eles para
exportação. O mesmo se aplica no
caso de garantias de crédito à exportação", afirmou Roberto Carvalho de Azevedo, coordenador-geral de Contenciosos.
Um painel da OMC é formado
por um grupo de peritos que examinam uma controvérsia entre
países. A discussão entre Brasil e
EUA começou em setembro de
2002, mas, sem um entendimento, um painel foi montado em
março de 2003. O caso é de extrema importância política. Plantadores de algodão são financiadores importantes da campanha republicana de George W. Bush nos
EUA, e quando houve a decisão
inicial houve rumores de que
iriam retirar seu apoio.
No Brasil, o governo tentou "faturar" politicamente o resultado,
mas houve reações lembrando
que o processo começou na gestão passada e sua assessoria internacional foi bancada pelos próprios produtores brasileiros.
O Brasil acusa os Estados Unidos de causarem "grave prejuízo"
ao comércio internacional com os
subsídios ao algodão. O país conseguiu provar no painel que os
preços mundiais do produto estão 12,6% mais baixos devido aos
recursos que o governo norte-americano emprega na cultura.
Os Estados Unidos, segundo o
ministério, empregaram US$ 12,5
bilhões em subsídios para o algodão entre 1999 e 2003. Os produtores obtiveram com a venda do
produto US$ 13,4 bilhões. Ou seja,
o produtor ganhou praticamente
US$ 1 para cada dólar produzido.
O Brasil teve, em perda de oportunidade e da depreciação do valor
do algodão, perda de US$ 480 milhões no período, diz o governo.
Para Azevedo, a decisão não deve afetar as próximas rodadas de
discussão na OMC. "O resultado
não se refere a obrigações novas.
Essas obrigações estão em vigor
desde janeiro de 1995." O Brasil
também está contestando na
OMC os subsídios à exportação
de açúcar da União Européia e a
classificação do bloco à importação de frango congelado.
O relatório do painel ainda tem
de ser mantido em sigilo, pois só
foi entregue aos EUA e ao Brasil.
Em agosto, quando for traduzido
também para francês e espanhol,
o resultado será distribuído para
os países-membros da OMC e poderá ser divulgado. O Itamaraty,
ontem, apresentou as diretrizes
do resultado. Tanto os EUA quanto o Brasil podem apelar à organização, em até 60 dias.
Se os EUA apelarem, o processo
segue por até mais 90 dias. Caso
seja mantido o resultado do painel, o órgão de Solução de Controvérsias irá estabelecer metas e
datas para o governo americano
se adequar à liberação de subsídios. O processo será acompanhado e, se não for respeitado, o
Brasil poderá retaliar o país.
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