São Paulo, quarta-feira, 19 de julho de 2006

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China cresce 11,3% no 2º tri, maior alta em 11 anos

Aumento do crédito e dos investimentos levaram à aceleração; inflação foi de 1,3%

Nos primeiros cinco meses de 2006, os bancos chineses já tinham utilizado 72% da meta de novos empréstimos definida para todo o ano

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Inundada por crédito barato e empurrada por uma alta de 30,9% nos investimentos, a economia chinesa superou as estimativas mais otimistas e cresceu 11,3% no segundo trimestre, o maior índice em 11 anos. Entre janeiro e junho, a expansão foi de 10,9%.
Os números divulgados ontem já provocaram a revisão para cima das estimativas de crescimento do país. Andy Xie, economista-chefe do Morgan Stanley para a Ásia, elevou de 9,5% para 10,5% a previsão para 2006 e de 7,5% para 8,5% a do próximo ano.
A China vem surpreendendo analistas de todo o mundo pela persistência de seu alto crescimento, que desafia as medidas governamentais que tentam reduzir o ritmo de atividade.
Em abril, o banco central elevou a taxa de juros em 0,27 ponto percentual, para 5,85%, a primeira alta desde outubro de 2004. Dois meses depois, a instituição aumentou em 0,5 ponto percentual, para 8%, a parcela dos depósitos que os bancos têm que deixar imobilizados no banco central e, portanto, não podem emprestar. A medida retirou de circulação quase US$ 19 bilhões.
A principal motivação das duas decisões foi o forte crescimento na concessão de crédito desde o início do ano. Mesmo com a alta de 0,27 ponto percentual, a taxa de juros da China é baixa, o que facilita o acesso ao financiamento.
Nos primeiros cinco meses do ano, as instituições financeiras já tinham utilizado 72% da meta de 2,5 trilhões de yuans (US$ 312,5 bilhões) de novos empréstimos fixada para o ano.
O estoque de crédito dos bancos chineses está em US$ 2,9 trilhões, algo próximo de 130% do PIB. No Brasil, o mesmo índice é de 31,2%.
A China conseguiu manter o crescimento de dois dígitos sem pressões inflacionárias: o índice de preços ao consumidor subiu 1,3% no semestre, abaixo do 1,5% do ano passado.
A principal razão para isso é a expansão da capacidade produtiva gerada pela elevação nos investimentos. Como a alta na demanda é acompanhada da maior oferta de bens, há pouco espaço para as empresas reajustarem seus preços.
Mas o grande risco do superaquecimento chinês é justamente o excesso na capacidade de produção, para além do patamar que a demanda pode absorver. Esse cenário levaria à redução brusca dos investimentos e da atividade, até que fosse recuperado o equilíbrio.
É esse freio repentino que os economistas chamam de "hard landing" -pouso forçado. Ele se contrapõe ao "soft landing" -pouso suave-, que é a redução gradual da atividade que o governo vem tentando atingir desde 2004.
Xie afirma que os dados de atividade econômica relativos a junho indicam que o ritmo continua aquecido. A produção industrial foi de 19,5%, acima dos 17,9% de maio. As vendas no varejo subiram 13,9% em junho e 13,3% no semestre.
Em sua opinião, será inevitável que o banco central eleve novamente os juros. Xie aposta em mais duas altas de 0,27 ponto percentual até o fim do ano.
Jonathan Anderson, economista-chefe do UBS para a Ásia, não acredita em aumento da taxa no curto prazo. Para ele, o banco central ainda vai aguardar o efeito das medidas adotadas em abril e junho.
O porta-voz do Escritório Nacional de Estatísticas, Zheng Jingping, afirmou durante a divulgação dos dados que o governo ainda não decidiu se haverá nova alta da taxa de juros neste trimestre.


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