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Bancos esperam redução na Selic de 1,5 ponto; setor produtivo pede mais
DA REPORTAGEM LOCAL
A maioria dos analistas de mercado e banqueiros ouvidos pela
Folha acredita que o Banco Central vá manter a política de redução gradual dos juros e fará um
corte de 1,5 ponto na taxa, índice
considerado razoável por todos.
Um grupo menor de entrevistados, que inclui representantes do
setor produtivo, acredita que o
corte será de 1,5, mas sustenta que
haveria espaço para redução de
pelo menos dois pontos.
O economista-chefe do Unibanco, Alexandre Schwartsman, foi o
único que disse esperar um corte
de dois pontos percentuais dos juros ao final da reunião do Copom,
amanhã. A taxa básica está em
24,5% e cairá para 23% ou 22,5%,
se o corte for de 1,5 ou 2 pontos,
respectivamente.
Os oito entrevistados que defenderam a redução de 1,5 ponto percentual são todos do setor financeiro. Para eles, a política adotada
pelo BC vem surtindo resultado,
com a redução dos índices de inflação. Quando Lula assumiu a
Presidência, em janeiro, a Selic
era de 25%. No mesmo mês, o Copom elevou o índice para 25,5%.
Novo aumento veio em fevereiro,
para 26,5%. A política de redução
da taxa começou em junho, com
corte para 26%. Em julho, o BC foi
mais agressivo e reduziu o indicador em 1,5 ponto, para 24,5%.
Para representantes do setor
produtivo, a manutenção dessa
política gradual adiará ainda mais
a possibilidade de retomada do
crescimento econômico. O presidente da Federação do Comércio
do Estado de São Paulo, Abram
Szajman, acredita que haja espaço
para uma queda de três pontos
percentuais na Selic. "O poder de
compra está reduzido. Um corte
nessa proporção é necessário para
reativar a economia", disse.
""Temos espaço para corte de
entre 2 e 2,5 pontos. Mas, conhecendo o BC, sei que vai ficar no 1,5
ponto", disse Roberto Faldini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
O ex-presidente do BC Affonso
Celso Pastore está entre os que
acreditam haver margem para redução de 2 pontos. "A expectativa
do mercado é 1,5 ponto. A minha
é 2." De qualquer forma, o economista ressaltou que o BC entrou
em um ciclo de redução da taxa
que não será interrompido agora.
Sérgio Werlang, diretor-executivo do Itaú e ex-diretor do BC,
também sustenta que há espaço
para um corte de 2 a 2,5 pontos,
mas acredita que o Copom reduzirá os juros em 1,5 ponto. "O BC
optou pelo gradualismo."
Os que defendem a redução de
1,5 ponto acreditam ainda haver
riscos a serem administrados pelo
BC. O novo presidente da Anbid
(Associação Nacional dos Bancos
de Investimentos), Alfredo Setubal, crê na manutenção do gradualismo do BC por mais um ou
dois meses. ""Parece-me a medida
mais correta", afirmou o banqueiro. ""Temos de considerar que o
espaço [para redução] não é tão
grande. Há todo o cenário internacional e um risco-país ainda alto [770 pontos ontem]."
O provável corte de 1,5 ponto
também foi apoiado pelos presidentes do ABN-Amro, Fábio Barbosa, do Citibank, Gustavo Marin, e do Bradesco, Márcio
Cypriano.
Já Raymundo Magliano Filho,
presidente da Bovespa, afirmou
que uma queda de 1,5 ponto percentual é "satisfatória".
Apesar de divergências sobre o
tamanho do corte dos juros, os
economistas têm posições semelhantes em relação à previsão para
a taxa no fim do ano, com estimativas que variam de 19% a 20,5%.
Pastore, Schwartsman, Werlang, Setubal e Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank, estimam que a taxa estará em 19% em
dezembro. Daniel Gleizer, diretor
do Deutsche Bank, e Octavio de
Barros, economista-chefe do Bradesco, esperam uma taxa de
20,5%. "Se o BC fizer um corte
maior que 1,5 ponto agora, pode
não conseguir manter o ritmo de
redução nos próximos meses",
observou Barros. "Se cortar muito agora, o BC não conseguirá
manter um trajetória consistente
de queda", completou Kawall.
Apesar de preferir uma redução
menos gradual agora, Werlang
acredita que um corte de 1,5 ponto é "compatível" com uma taxa
de 19% em dezembro.
Barros lembra que o BC ainda
tem espaço para reduzir o compulsório -volume de depósitos
que os bancos têm de depositar
no BC. Com isso, os bancos teriam mais recursos para o crédito.
Focus
Também a pesquisa Focus, feita
pelo BC com cem analistas de
mercado, aponta queda de 1,5
ponto percentual nos juros. A
queda da Selic deve ser consequência do recuo da inflação.
O levantamento mostra que o
mercado projeta alta de 9,74% para o IPCA deste ano, contra 9,93%
da pesquisa divulgada na semana
passada.
(CLÁUDIA TREVISAN, JOSÉ ALAN DIAS e MAELI PRADO)
Colaborou a Sucursal de Brasília
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