UOL


São Paulo, terça-feira, 19 de agosto de 2003

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Bancos esperam redução na Selic de 1,5 ponto; setor produtivo pede mais

DA REPORTAGEM LOCAL

A maioria dos analistas de mercado e banqueiros ouvidos pela Folha acredita que o Banco Central vá manter a política de redução gradual dos juros e fará um corte de 1,5 ponto na taxa, índice considerado razoável por todos. Um grupo menor de entrevistados, que inclui representantes do setor produtivo, acredita que o corte será de 1,5, mas sustenta que haveria espaço para redução de pelo menos dois pontos.
O economista-chefe do Unibanco, Alexandre Schwartsman, foi o único que disse esperar um corte de dois pontos percentuais dos juros ao final da reunião do Copom, amanhã. A taxa básica está em 24,5% e cairá para 23% ou 22,5%, se o corte for de 1,5 ou 2 pontos, respectivamente.
Os oito entrevistados que defenderam a redução de 1,5 ponto percentual são todos do setor financeiro. Para eles, a política adotada pelo BC vem surtindo resultado, com a redução dos índices de inflação. Quando Lula assumiu a Presidência, em janeiro, a Selic era de 25%. No mesmo mês, o Copom elevou o índice para 25,5%. Novo aumento veio em fevereiro, para 26,5%. A política de redução da taxa começou em junho, com corte para 26%. Em julho, o BC foi mais agressivo e reduziu o indicador em 1,5 ponto, para 24,5%.
Para representantes do setor produtivo, a manutenção dessa política gradual adiará ainda mais a possibilidade de retomada do crescimento econômico. O presidente da Federação do Comércio do Estado de São Paulo, Abram Szajman, acredita que haja espaço para uma queda de três pontos percentuais na Selic. "O poder de compra está reduzido. Um corte nessa proporção é necessário para reativar a economia", disse.
""Temos espaço para corte de entre 2 e 2,5 pontos. Mas, conhecendo o BC, sei que vai ficar no 1,5 ponto", disse Roberto Faldini, diretor do Departamento de Economia da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
O ex-presidente do BC Affonso Celso Pastore está entre os que acreditam haver margem para redução de 2 pontos. "A expectativa do mercado é 1,5 ponto. A minha é 2." De qualquer forma, o economista ressaltou que o BC entrou em um ciclo de redução da taxa que não será interrompido agora.
Sérgio Werlang, diretor-executivo do Itaú e ex-diretor do BC, também sustenta que há espaço para um corte de 2 a 2,5 pontos, mas acredita que o Copom reduzirá os juros em 1,5 ponto. "O BC optou pelo gradualismo."
Os que defendem a redução de 1,5 ponto acreditam ainda haver riscos a serem administrados pelo BC. O novo presidente da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimentos), Alfredo Setubal, crê na manutenção do gradualismo do BC por mais um ou dois meses. ""Parece-me a medida mais correta", afirmou o banqueiro. ""Temos de considerar que o espaço [para redução] não é tão grande. Há todo o cenário internacional e um risco-país ainda alto [770 pontos ontem]."
O provável corte de 1,5 ponto também foi apoiado pelos presidentes do ABN-Amro, Fábio Barbosa, do Citibank, Gustavo Marin, e do Bradesco, Márcio Cypriano.
Já Raymundo Magliano Filho, presidente da Bovespa, afirmou que uma queda de 1,5 ponto percentual é "satisfatória".
Apesar de divergências sobre o tamanho do corte dos juros, os economistas têm posições semelhantes em relação à previsão para a taxa no fim do ano, com estimativas que variam de 19% a 20,5%.
Pastore, Schwartsman, Werlang, Setubal e Carlos Kawall, economista-chefe do Citibank, estimam que a taxa estará em 19% em dezembro. Daniel Gleizer, diretor do Deutsche Bank, e Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco, esperam uma taxa de 20,5%. "Se o BC fizer um corte maior que 1,5 ponto agora, pode não conseguir manter o ritmo de redução nos próximos meses", observou Barros. "Se cortar muito agora, o BC não conseguirá manter um trajetória consistente de queda", completou Kawall.
Apesar de preferir uma redução menos gradual agora, Werlang acredita que um corte de 1,5 ponto é "compatível" com uma taxa de 19% em dezembro.
Barros lembra que o BC ainda tem espaço para reduzir o compulsório -volume de depósitos que os bancos têm de depositar no BC. Com isso, os bancos teriam mais recursos para o crédito.

Focus
Também a pesquisa Focus, feita pelo BC com cem analistas de mercado, aponta queda de 1,5 ponto percentual nos juros. A queda da Selic deve ser consequência do recuo da inflação.
O levantamento mostra que o mercado projeta alta de 9,74% para o IPCA deste ano, contra 9,93% da pesquisa divulgada na semana passada. (CLÁUDIA TREVISAN, JOSÉ ALAN DIAS e MAELI PRADO)


Colaborou a Sucursal de Brasília


Texto Anterior: Frases
Próximo Texto: Ministros evitam previsões sobre corte
Índice

UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.