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ANÁLISE
Limite à retomada
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
A melhora do mercado de
trabalho prosseguiu em julho
-mas continuou lenta, principalmente por influência dos setores produtivos mais ligados à
exportação e ao investimento.
Foi essa a impressão principal
suscitada pelos dados sobre a
evolução do emprego formal no
Brasil no mês de julho.
Foi tranquilizador constatar
que, depois de ter mostrado recuo de maio para junho, no mês
passado a abertura de vagas
com carteira assinada voltou a
crescer. Tratou-se, porém, de
alta moderada: o saldo mensal
entre admissões e demissões
passou de 119,5 mil para 138,4
mil, resultado bem inferior ao
de julho de 2008 (203,2 mil).
Todos os grandes setores da
economia -serviços, comércio,
construção, indústria e agropecuária- exibiram números
mensais inferiores aos de igual
mês de 2008. Não resta dúvida,
porém, de que indústria e agropecuária ainda são os focos de
maior debilidade do emprego.
O emprego no setor agropecuário costuma flutuar muito a
depender da época do ano. Pelos cálculos da LCA, o ajuste sazonal dos dados revela que julho foi o 11º mês consecutivo
em que o estoque de empregados formais da agropecuária diminuiu. Ao longo desses 11 meses, estima-se que o número de
trabalhadores formais do setor
tenha recuado 5,5%.
Além de um pouco mais aguda, a queda do emprego na indústria é mais grave porque o
setor tem peso bem maior no
emprego formal como um todo
(25%, ante menos de 5% da
agropecuária). Descontadas as
flutuações sazonais, calcula-se
que julho tenha sido o 10º mês
seguido de diminuição do emprego formal na indústria -elevando a quase 6% o encolhimento do emprego formal no
setor sobre setembro de 2008.
Graças sobretudo ao declínio
da inflação, à estabilização do
desemprego em nível relativamente baixo (para os padrões,
deteriorados, da economia brasileira) e à retomada do crédito,
o consumo já se recuperou da
queda do fim de 2008. Isso reflete o fato de que, pela primeira
vez desde os anos 1970, a política econômica sustenta iniciativas antirrecessivas eficazes.
As medidas voltadas a reativar o investimento têm sido
menos eficazes -o que não surpreende, pois a incerteza suscitada pela crise nos países ricos
só recentemente começou a refluir. E, em relação ao encolhimento dos mercados de exportação, a política econômica brasileira é quase impotente -razão pela qual a recuperação do
mercado de trabalho deverá seguir lenta por alguns meses.
FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.
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