São Paulo, quarta-feira, 19 de agosto de 2009

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ANÁLISE

Limite à retomada

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

A melhora do mercado de trabalho prosseguiu em julho -mas continuou lenta, principalmente por influência dos setores produtivos mais ligados à exportação e ao investimento. Foi essa a impressão principal suscitada pelos dados sobre a evolução do emprego formal no Brasil no mês de julho.
Foi tranquilizador constatar que, depois de ter mostrado recuo de maio para junho, no mês passado a abertura de vagas com carteira assinada voltou a crescer. Tratou-se, porém, de alta moderada: o saldo mensal entre admissões e demissões passou de 119,5 mil para 138,4 mil, resultado bem inferior ao de julho de 2008 (203,2 mil).
Todos os grandes setores da economia -serviços, comércio, construção, indústria e agropecuária- exibiram números mensais inferiores aos de igual mês de 2008. Não resta dúvida, porém, de que indústria e agropecuária ainda são os focos de maior debilidade do emprego. O emprego no setor agropecuário costuma flutuar muito a depender da época do ano. Pelos cálculos da LCA, o ajuste sazonal dos dados revela que julho foi o 11º mês consecutivo em que o estoque de empregados formais da agropecuária diminuiu. Ao longo desses 11 meses, estima-se que o número de trabalhadores formais do setor tenha recuado 5,5%.
Além de um pouco mais aguda, a queda do emprego na indústria é mais grave porque o setor tem peso bem maior no emprego formal como um todo (25%, ante menos de 5% da agropecuária). Descontadas as flutuações sazonais, calcula-se que julho tenha sido o 10º mês seguido de diminuição do emprego formal na indústria -elevando a quase 6% o encolhimento do emprego formal no setor sobre setembro de 2008.
Graças sobretudo ao declínio da inflação, à estabilização do desemprego em nível relativamente baixo (para os padrões, deteriorados, da economia brasileira) e à retomada do crédito, o consumo já se recuperou da queda do fim de 2008. Isso reflete o fato de que, pela primeira vez desde os anos 1970, a política econômica sustenta iniciativas antirrecessivas eficazes.
As medidas voltadas a reativar o investimento têm sido menos eficazes -o que não surpreende, pois a incerteza suscitada pela crise nos países ricos só recentemente começou a refluir. E, em relação ao encolhimento dos mercados de exportação, a política econômica brasileira é quase impotente -razão pela qual a recuperação do mercado de trabalho deverá seguir lenta por alguns meses.

FERNANDO SAMPAIO, economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.



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