|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
COMÉRCIO EXTERIOR
Onda protecionista dos parceiros enfraquece o bloco num momento crucial de sua história
Mercosul "encolhe" na negociação global
DENISE CHRISPIM MARIN
da Sucursal de Brasília
As barreiras criadas pela Argentina e as retaliações brasileiras
anunciadas anteontem provocam
uma "onda" protecionista sem
precedentes no Mercosul, justamente no momento mais delicado de sua história.
Em princípio, o Mercosul deveria estar mergulhado, neste momento, na conclusão das discussões sobre o regime automotivo
do bloco e a definição de regras
para o comércio do açúcar.
Sem um ponto final nessas discussões até 31 de dezembro, o
Mercosul corre o risco de se apresentar a negociações multilaterais
no próximo ano como um "meio-bloco", que nem mesmo chegou a
formar uma área de livre comércio perfeita, carregado de pendências internas.
Na sexta-feira à noite, o Ministério do Desenvolvimento anunciou que a partir de amanhã cerca
de 400 produtos do país vizinho
perderão o tratamento preferencial para ingressarem no Brasil.
A medida afeta as exportações
argentinas e entre os itens prejudicados estão pelo menos quatro
importantes produtos de exportação daquele país para o Brasil:
petróleo, trigo, veículos e têxteis.
Claramente retaliatória, a medida foi adotada como tendo "caráter de reciprocidade", segundo a
secretária de Comércio Exterior,
Lytha Spíndola.
Uma das represálias consiste na
suspensão, por período indeterminado, do direito de os produtos
argentinos sujeitos à licença de
importação não-automática escaparem desses controles e entrarem no país em 24 horas.
Em princípio, a fragilidade do
Mercosul começou com a queda
da atividade nas duas economias,
com desvalorização do real e com
o fato de os dois países terem eliminado as tarifas para todos os
produtos intercambiados -menos açúcar e veículos- desde 1º
de janeiro deste ano.
Os dois primeiros fatores foram
desencadeados pela crise internacional e pelos déficits nas contas
interna e externa dos dois países.
O outro foi a consequência de um
compromisso do bloco.
A trinca foi suficiente para derrubar os números do comércio
bilateral.
Comércio
Conforme dados divulgados
ontem pelo Ministério do Desenvolvimento, os embarques brasileiros caíram 26,9% de janeiro a
agosto, em relação a igual período
do ano passado. Passaram de US$
4,628 bilhões para US$ 3,385 bilhões.
As importações de produtos argentinos sofreram mais. Tiveram
queda de 28,4%, na mesma comparação, e passaram de US$ 5,305
bilhões para US$ 3,797 bilhões.
Mesmo com a retração, o Brasil
amargou um déficit no comércio
bilateral de US$ 412 milhões. Desde 1995, o país vem arcando com
sucessivos saldos negativos no intercâmbio com seu principal parceiro do Mercosul.
De fato, esse cenário desfavorável acabou acentuado pelo contexto político vivido pela Argentina neste ano.
O país se viu mergulhado em
um processo eleitoral do qual seu
presidente, Carlos Menem, não
conseguiu participar diretamente
e foi compelido a apoiar um sucessor pouco disposto a seguir
sua cartilha.
Pressionado desde o início do
ano pelo empresariado, Menem
ensaiou algumas medidas protecionistas no primeiro semestre.
Recuou, depois da reação brasileira, mas acabou voltando à carga com a proximidade das eleições para presidente.
Texto Anterior: "Brasil crescerá mais que Argentina" Próximo Texto: Desavença no bloco extrapola o campo comercial Índice
|