São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Mercado especula com hipótese de vitória de Lula ainda no primeiro turno; cotação da moeda é a segunda maior do Real

Especulação política leva dólar a R$ 3,35

ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL

O mercado continuou a avaliar com pessimismo e exagero o cenário eleitoral, o que levou o dólar a subir 3,39% e fechar a R$ 3,355, a segunda maior cotação desde o Plano Real, há oito anos. No mês, o dólar subiu 11,5%. Ontem, o risco Brasil voltou a subir com força -4%, para 1.942 pontos.
Novamente, o principal motivo apontado pelos operadores para justificar a valorização foi o cenário eleitoral. Desde a segunda-feira, o mercado contabiliza a possibilidade de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vencer as eleições já no primeiro turno. Pesquisas de intenção de voto sinalizam crescimento do candidato de oposição. Enquanto isso, o candidato do governo e do mercado, José Serra (PSDB), estagnou. Serra é o preferido dos investidores por ser associado à continuidade da atual política econômica.
"O mercado tem uma tendência a extrapolar. Quando Anthony Garotinho e Ciro Gomes demonstraram certo fôlego nas pesquisas, também houve um exagero de alta da cotação", diz Vladimir Caramaschi, da Fator Doria Atherino.
Odair Abate, do Lloyds TSB, acredita que o comportamento do mercado é até mesmo contraditório. "Há poucos dias, o crescimento de Lula era bem recebido, uma vez que ele era mais bem visto do que Ciro. Agora há o discurso de que Lula ainda assusta."
Para Carlos Alberto Abdalla, diretor da corretora Souza Barros, parte significativa do mercado "não acredita nessa imagem de PT cor-de-rosa que vem sendo vendida pelo PT". "Isso serve de justificativa para a compra de dólares. Em um mercado com baixo volume, mesmo que não haja nenhum negócio muito grande, é fácil pressionar a cotação", diz.
As negociações de dólar estão nas mãos das tesourarias dos bancos e têm girado cerca de US$ 700 milhões, a metade do valor de dias considerados normais.
A liquidez do mercado está baixa há meses. Além da incerteza política, os negócios sofrem com a aversão mundial ao risco. Houve uma retração de investimentos globais devido à crise de confiança nas empresas, gerada por fraudes em empresas dos EUA e do calote argentino. O crédito externo para o Brasil secou.
Além disso, há a tensão em torno de uma possível nova guerra entre os EUA e o Iraque.
A decisão do Banco Central de manter os juros em 18% era esperada, mas a retirada do viés para a taxa causou tensão. A medida pode sinalizar uma maior preocupação do BC com o cenário. Abate avalia que, ao retirar o viés, o BC mostra que não crê na baixa do dólar no curto prazo. "Este instrumento é adotado quando há perspectiva de melhoria dos indicadores." O mercado também já se preocupa com a rolagem de cerca de R$ 2 bilhões de títulos cambiais, semana que vem.


Colaborou FABRICIO VIEIRA, da Reportagem Local


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