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EM TRANSE
Mercado especula com hipótese de vitória de Lula ainda no primeiro turno; cotação da moeda é a segunda maior do Real
Especulação política leva dólar a R$ 3,35
ANA PAULA RAGAZZI
DA REPORTAGEM LOCAL
O mercado continuou a avaliar
com pessimismo e exagero o cenário eleitoral, o que levou o dólar
a subir 3,39% e fechar a R$ 3,355, a
segunda maior cotação desde o
Plano Real, há oito anos. No mês,
o dólar subiu 11,5%. Ontem, o risco Brasil voltou a subir com força
-4%, para 1.942 pontos.
Novamente, o principal motivo
apontado pelos operadores para
justificar a valorização foi o cenário eleitoral. Desde a segunda-feira, o mercado contabiliza a possibilidade de Luiz Inácio Lula da
Silva (PT) vencer as eleições já no
primeiro turno. Pesquisas de intenção de voto sinalizam crescimento do candidato de oposição.
Enquanto isso, o candidato do governo e do mercado, José Serra
(PSDB), estagnou. Serra é o preferido dos investidores por ser associado à continuidade da atual política econômica.
"O mercado tem uma tendência
a extrapolar. Quando Anthony
Garotinho e Ciro Gomes demonstraram certo fôlego nas pesquisas,
também houve um exagero de alta da cotação", diz Vladimir Caramaschi, da Fator Doria Atherino.
Odair Abate, do Lloyds TSB,
acredita que o comportamento
do mercado é até mesmo contraditório. "Há poucos dias, o crescimento de Lula era bem recebido,
uma vez que ele era mais bem visto do que Ciro. Agora há o discurso de que Lula ainda assusta."
Para Carlos Alberto Abdalla, diretor da corretora Souza Barros,
parte significativa do mercado
"não acredita nessa imagem de
PT cor-de-rosa que vem sendo
vendida pelo PT". "Isso serve de
justificativa para a compra de dólares. Em um mercado com baixo
volume, mesmo que não haja nenhum negócio muito grande, é fácil pressionar a cotação", diz.
As negociações de dólar estão
nas mãos das tesourarias dos bancos e têm girado cerca de US$ 700
milhões, a metade do valor de
dias considerados normais.
A liquidez do mercado está baixa há meses. Além da incerteza
política, os negócios sofrem com a
aversão mundial ao risco. Houve
uma retração de investimentos
globais devido à crise de confiança nas empresas, gerada por fraudes em empresas dos EUA e do
calote argentino. O crédito externo para o Brasil secou.
Além disso, há a tensão em torno de uma possível nova guerra
entre os EUA e o Iraque.
A decisão do Banco Central de
manter os juros em 18% era esperada, mas a retirada do viés para a
taxa causou tensão. A medida pode sinalizar uma maior preocupação do BC com o cenário. Abate
avalia que, ao retirar o viés, o BC
mostra que não crê na baixa do
dólar no curto prazo. "Este instrumento é adotado quando há perspectiva de melhoria dos indicadores." O mercado também já se
preocupa com a rolagem de cerca
de R$ 2 bilhões de títulos cambiais, semana que vem.
Colaborou FABRICIO VIEIRA, da Reportagem Local
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