São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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EM TRANSE

Pessimismo das últimas semanas derruba previsões de crescimento do PIB e de investimentos estrangeiros

Pioram os cenários para a economia do país

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Um ano depois dos atentados terroristas nos Estados Unidos, as expectativas do mercado para a economia brasileira se tornaram ainda piores do que os drásticos cenários traçados naquele período. O pessimismo crescente das últimas semanas levou as estimativas para importantes indicadores como PIB (Produto Interno Bruto) e volume de investimentos ao pior nível dos últimos 12 meses.
Uma compilação feita pelo BBV Banco da evolução das expectativas do mercado -medidas semanalmente pelo Banco Central- mostra claramente essa deterioração nas previsões econômicas.
As projeções para o resultado do PIB em 2002, por exemplo, vinham despencando desde meados do ano até atingir 1,47% na última sexta-feira. O número é bastante inferior ao 1,84% de crescimento previsto em outubro do ano passado, um mês depois dos atentados terroristas, quando se traçava um cenário de catástrofe para a economia mundial.
Esse movimento recente de correção de estimativas para patamares piores aconteceu com a maior parte dos indicadores econômicos, com exceção daqueles que medem o comportamento da balança comercial.

Motivos
São duas as causas principais para o agravamento do pessimismo dos analistas. Em primeiro lugar, as eleições estão se aproximando e, segundo recentes pesquisas de opinião, vêm aumentando as chances de vitória da oposição já no primeiro turno. Isso assusta o mercado.
De acordo com o economista-chefe de um importante banco estrangeiro, as incertezas sobre o futuro da economia depois das eleições tornam a tarefa de se fazer estimativas praticamente impossível. Na dúvida, os analistas optam pelo conservadorismo, segundo ele, o que leva a uma deterioração das projeções.
A outra razão para tanto pessimismo vem de fora. As perspectivas cada vez mais remotas de uma rápida recuperação da economia mundial, a forte crise de confiança que afeta os investidores estrangeiros e o temor de uma guerra entre os EUA e o Iraque também têm contribuído para a deterioração das expectativas.
Não por acaso, as projeções do mercado para o fluxo de investimento estrangeiro direto para o Brasil em 2003 despencaram de R$ 17 bilhões para R$ 16 bilhões em apenas uma semana, segundo a pesquisa Focus divulgada pelo BC na última sexta-feira.
As estimativas para os investimentos em ações também não são nada alentadoras, e caíram de US$ 1,15 bilhão para US$ 910 milhões nos últimos dias, também segundo dados do BC.
"A situação do Brasil é agravada pela forte aversão de investidores a países emergentes, em um momento em que todos querem reduzir sua exposição ao risco", afirma Fernando Barbosa, economista do BBV Banco.

Exceção
A exceção entre tantas expectativas ruins fica por conta da balança comercial, pois as estimativas de saldo do comércio exterior brasileiro crescem a cada semana.
Segundo Sérgio Werlang, diretor do Itaú, o bom desempenho da balança comercial deverá compensar a redução do fluxo de investimentos para o país e facilitar o ajuste das contas externas. "Isso é possível graças ao câmbio flutuante, que funciona como um amortecedor em crises como a atual", diz Werlang.


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