São Paulo, quinta-feira, 19 de setembro de 2002

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ENERGIA

Débito da distribuidora é o maior de uma empresa privada com a geradora estatal, que não descarta ir à Justiça

Light dá calote de R$ 88 milhões em Furnas

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

Desde o dia 30 de agosto, a Light deixou de pagar a energia que recebe de Furnas e já acumula uma dívida de R$ 88 milhões com a geradora federal. É o maior débito de uma empresa privada com a estatal, que não descarta ir à Justiça para resolver o problema.
A Light, que cortou no mês passado o fornecimento de energia à UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) por causa de um débito de R$ 7 milhões, deixando hospitais da universidade às escuras, contesta o valor apresentado por Furnas. A empresa sustenta que a dívida é de R$ 50 milhões.
De acordo com o diretor financeiro de Furnas, Mário Nunes, a Light "esperou receber o dinheiro do BNDES [Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social" e, depois, parou de pagar".
No fim do mês passado, a concessionária recebeu cerca de R$ 600 milhões do banco. Não estar inadimplente era uma das condições para o empréstimo, uma compensação por perdas com o racionamento. A Light nega que haja relação entre o financiamento do BNDES e o não-pagamento [leia texto ao lado".
Nunes afirmou que a Light não informou quando normalizará os pagamentos. Disse que a companhia alegou apenas que tinha encargos com sua dívida financeira -grande parte dela contraída com a controladora, a francesa EDF- e que ou os pagava ou quitava a compra de energia.
"O pior é que o dono da Light é uma estatal [a EDF" como nós, só que francesa. Ela é que deveria arcar com o pagamento. A Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica" pode tomar a mesma providência que adotou para a Cemar [a intervenção"", disse Nunes.
Segundo a Aneel, que foi notificada sobre o assunto, não é o caso nem de intermediar uma solução nem de intervir na Light, como fez com a Cemar (do Maranhão).
De acordo com Nunes, a diferença de valores apresentados por Furnas e Light se deve ao fato de a concessionária não ter contabilizado a energia comprada de Itaipu. É Furnas que comercializa a energia da usina (cotada em dólar) e é responsável pela cobrança.

Outros calotes
Não é só a Light que não tem pago a energia adquirida de Furnas. A paulista CPFL também deve R$ 27 milhões. Nunes disse, porém, que não se compara ao caso da Light, pois a CPFL informou que teria de atrasar e se comprometeu a pagar no dia 25.
As maiores dívidas são, no entanto, de duas empresas estatais: a goiana Celg (R$ 600 milhões) e a brasiliense CEB (R$ 250 milhões).


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