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IMPACTO FINANCEIRO
Trabalhadores reclamam das condições de trabalho na BM&F; sobra estresse e faltam banheiros
Batalha do pregão derruba operadores
MARCELO PINHO
DA REDAÇÃO
Perda parcial da audição, deslocamento de vértebras, calos nas
cordas vocais, estresse e síndrome
do pânico. Algumas dessas seqüelas poderiam estar associadas às
conseqüências de uma batalha no
Iraque, mas são os reflexos de
anos de trabalho nos pregões da
BM&F (Bolsa de Mercadorias e
Futuros), em São Paulo.
Durante a semana, a Bolsa informou que abriria uma investigação para apurar as causas de
uma série de desmaios entre os
operadores durante os pregões
(leia texto ao lado).
A Folha conversou com vários
operadores e ouviu reclamações
sobre as más condições de trabalho, que levaram muitos a desenvolver problemas físicos e mentais. Com receio de represálias das
corretoras, apenas um deles aceitou se identificar. Eles temem ainda que as queixas levem à automação do pregão, a exemplo do
que ocorreu na Bovespa, onde já
trabalharam mais de 1.000 operadores e hoje há pouco mais de 70.
Marcelo Pizzo, 37, que opera
desde 1982, conta que, pelo trabalho, teve problemas na coluna, no
intestino e nas cordas vocais.
"Por causa do estresse, perdi 70
centímetros do intestino e precisei ficar seis meses afastado em recuperação. Tenho dois calos nas
cordas vocais de tanto gritar e
perdi 30% da capacidade auditiva
do tímpano esquerdo pelo barulho do pregão. Temos de ficar o
dia todo de pé. Tenho também
dor na coluna por causa dos
"pits" [canos que cercam as rodas
de negócios] em que sentamos."
As queixas de dores na coluna
são unânimes. Mas não únicas.
Um outro operador deslocou
duas vértebras por conta do uso
excessivo dos telefones sem fio.
O problema surgiu em decorrência do modo como os operadores costumam segurar o telefone: entre o ombro e o ouvido. Segundo o operador, o telefone tem
de ficar o tempo todo junto ao ouvido, sob o risco de perder uma
ordem da corretora e, conseqüentemente, um negócio.
Mas as mazelas do trabalho não
são só físicas. Os operadores relatam casos de estresse, depressão,
síndrome do pânico e até desmaios. Outro operador contou
que, em razão do estresse, teve depressão. Não conseguia mais falar, tampouco olhar para as pessoas. Nem para suas filhas. Ele
chegou a ficar três dias internado
em uma clínica especializada.
Os sintomas também foram
sentidos por um operador, que há
dez anos trabalha na BM&F. Mas,
nesse caso, a depressão originou
sintomas típicos da síndrome do
pânico. Passou a não querer sair
de casa, a ter medo de morrer e só
se recuperou com auxílio de médicos e de antidepressivos.
Poucos banheiros
Os operadores reclamam também da ausência de itens simples,
como banheiros no pregão. Segundo eles, os sanitários ficam no
andar térreo, e o pregão, no subsolo, o que faz com que precisem
deixar o pregão para ir ao banheiro. Só que, para isso, precisam da
autorização dos gerentes, que
nem sempre é concedida.
A falta de bebedouros também é
motivo de reclamação. Eles dizem
que, para beber água, precisam
subir dois lances de escadas. Alguns andam com garrafas de água
presas à cintura, mas a maioria fica com sede mesmo.
Segundo o psiquiatra Hermano
Tavares, 37, as condições de trabalho dos operadores são propícias para o surgimento de problemas de saúde, como crises de estafa. Segundo ele, "o estresse
constante leva a um quadro de
ansiedade crônica, que, a longo
prazo, pode causar depressão e
síndrome do pânico".
Solução
Os operadores sabem que acabar com o estresse é impossível.
Afinal, manuseiam diariamente
mais de R$ 30 bilhões de terceiros.
No entanto, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Mercado de Capitais (Simc), Natalício
da Silva, diz que há formas de minimizá-lo. "Nós queremos que
um engenheiro do trabalho visite
as instalações da Bolsa, veja o que
está certo, o que está errado e dê
sugestões de mudanças."
Silva, que, por conta dos 24 anos
que operou na Bolsa, teve problemas de gastrite e úlcera, sugere
também a divisão das férias em
duas parcelas a cada seis meses.
Outra sugestão do sindicato seria uma sala de descompressão,
com massagistas, música ambiente e lugar para sentar e deitar.
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