São Paulo, quarta-feira, 19 de setembro de 2007

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Economistas alertam para desindustrialização

Dólar teria contribuído para reduzir participação do setor

DA REPORTAGEM LOCAL

Apesar do crescimento de 6,8% da indústria apontado pelo PIB (Produto Interno Bruto) no segundo trimestre do ano, economistas e entidades ligadas ao setor afirmam que a chamada "desindustrialização" do país está se aprofundando.
"É o câmbio, estúpido!", afirmou ontem o economista Luiz Carlos Bresser-Pereira, coordenador do 4º Fórum de Economia, promovido pela FGV (Fundação Getulio Vargas), ao discutir os motivos que estariam agravando o problema.
Bresser-Pereira afirmou que o governo Lula vem praticando "populismo cambial" para segurar a inflação por meio do real valorizado, o que faz os preços de importados ficarem mais baratos.
Com os juros ainda elevados atraindo dólares ao país e altos saldos comerciais sustentados por fortes vendas externas, além de preços altos nos setores agrícola e de minérios, o economista prevê um aprofundamento da "desindustrialização" em setores de maior valor agregado.
Dados do IBGE mostram que ao longo dos últimos anos setores mais sofisticados da indústria perderam participação relativa no valor agregado do setor industrial, tanto internamente quanto nas exportações.
"É uma loucura completa imaginar que um país como o Brasil poderá bancar a importação de bens industrializados de maior valor com saldos comerciais gerados pelo setor básico", disse Bresser-Pereira.
Estudo apresentado pela Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) mostra que a participação relativa do Brasil em relação ao PIB industrial de nove emergentes caiu de 15,1% para 11,8% entre 1990 e 2005. Esses dados comprovariam que a "desindustrialização" relativa do Brasil é maior.
"A indústria vem perdendo importância e abrindo oportunidades para o setor de serviços, que não tem como sustentar um aumento firme do PIB per capita", disse André Rebelo, economista da Fiesp.
Mostrando as experiências de outros países, Rebelo afirmou que é normal a indústria perder terreno para outros setores, como os serviços, quando o PIB per capita atinge patamares superiores a US$ 11 mil/ano. "No Brasil, o processo começou com o PIB per capita por volta de US$ 3.500", disse.
Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial), disse que metade do valor adicionado (a riqueza gerada) pela indústria já depende hoje de setores que têm por base recursos naturais.
"Não se trata de ser contra os setores de commodities ou mais básicos, mas, sem estratégia para os segmentos mais sofisticados da indústria, chegaremos a um resultado ruim."

"Doença holandesa"
Já o economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário Política Econômica no governo FHC (de 1995 a 1998), discordou frontalmente da tese da "desindustrialização".
Segundo ele, setores básicos como óleo, gás, minérios, grãos, carne e leite, entre outros, já representam 25% do PIB brasileiro. "São setores extremamente dinâmicos e com valor agregado, como o de alimentos, em que há muita tecnologia envolvida. Não estamos falando aqui de fécula de mandioca."
Mendonça de Barros afirma que essa diversificação de produtos básicos fabricados no país faz com que o Brasil não corra o risco de ter a chamada "doença holandesa". A expressão surgiu no início dos anos 80, quando as fortes receitas de exportação de gás da Holanda valorizaram o florim, derrubando as exportações dos demais produtos por falta de competitividade.
Dados divulgados na semana passada mostraram que, no segundo trimestre de 2007, o maior destaque do PIB foi a indústria, que cresceu 6,8%. A de transformação, mais sofisticada, liderou a alta, com evolução de 7,2%. No período, o setor de serviços teve desempenho positivo de 4,8%. Já o PIB como um todo cresceu 5,4%.
(FERNANDO CANZIAN)


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