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Economistas alertam para desindustrialização
Dólar teria contribuído para reduzir participação do setor
DA REPORTAGEM LOCAL
Apesar do crescimento de
6,8% da indústria apontado pelo PIB (Produto Interno Bruto)
no segundo trimestre do ano,
economistas e entidades ligadas ao setor afirmam que a chamada "desindustrialização" do
país está se aprofundando.
"É o câmbio, estúpido!", afirmou ontem o economista Luiz
Carlos Bresser-Pereira, coordenador do 4º Fórum de Economia, promovido pela FGV
(Fundação Getulio Vargas), ao
discutir os motivos que estariam agravando o problema.
Bresser-Pereira afirmou que
o governo Lula vem praticando
"populismo cambial" para segurar a inflação por meio do
real valorizado, o que faz os
preços de importados ficarem
mais baratos.
Com os juros ainda elevados
atraindo dólares ao país e altos
saldos comerciais sustentados
por fortes vendas externas,
além de preços altos nos setores agrícola e de minérios, o
economista prevê um aprofundamento da "desindustrialização" em setores de maior valor
agregado.
Dados do IBGE mostram que
ao longo dos últimos anos setores mais sofisticados da indústria perderam participação relativa no valor agregado do setor industrial, tanto internamente quanto nas exportações.
"É uma loucura completa
imaginar que um país como o
Brasil poderá bancar a importação de bens industrializados
de maior valor com saldos comerciais gerados pelo setor básico", disse Bresser-Pereira.
Estudo apresentado pela
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo)
mostra que a participação relativa do Brasil em relação ao PIB
industrial de nove emergentes
caiu de 15,1% para 11,8% entre
1990 e 2005. Esses dados comprovariam que a "desindustrialização" relativa do Brasil é
maior.
"A indústria vem perdendo
importância e abrindo oportunidades para o setor de serviços, que não tem como sustentar um aumento firme do PIB
per capita", disse André Rebelo, economista da Fiesp.
Mostrando as experiências
de outros países, Rebelo afirmou que é normal a indústria
perder terreno para outros setores, como os serviços, quando
o PIB per capita atinge patamares superiores a US$ 11 mil/ano. "No Brasil, o processo começou com o PIB per capita
por volta de US$ 3.500", disse.
Edgard Pereira, economista-chefe do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento
Industrial), disse que metade
do valor adicionado (a riqueza
gerada) pela indústria já depende hoje de setores que têm
por base recursos naturais.
"Não se trata de ser contra os
setores de commodities ou
mais básicos, mas, sem estratégia para os segmentos mais sofisticados da indústria, chegaremos a um resultado ruim."
"Doença holandesa"
Já o economista José Roberto Mendonça de Barros, ex-secretário Política Econômica no
governo FHC (de 1995 a 1998),
discordou frontalmente da tese
da "desindustrialização".
Segundo ele, setores básicos
como óleo, gás, minérios, grãos,
carne e leite, entre outros, já representam 25% do PIB brasileiro. "São setores extremamente dinâmicos e com valor
agregado, como o de alimentos,
em que há muita tecnologia envolvida. Não estamos falando
aqui de fécula de mandioca."
Mendonça de Barros afirma
que essa diversificação de produtos básicos fabricados no
país faz com que o Brasil não
corra o risco de ter a chamada
"doença holandesa". A expressão surgiu no início dos anos
80, quando as fortes receitas de
exportação de gás da Holanda
valorizaram o florim, derrubando as exportações dos demais produtos por falta de
competitividade.
Dados divulgados na semana
passada mostraram que, no segundo trimestre de 2007, o
maior destaque do PIB foi a indústria, que cresceu 6,8%. A de
transformação, mais sofisticada, liderou a alta, com evolução
de 7,2%. No período, o setor de
serviços teve desempenho positivo de 4,8%. Já o PIB como
um todo cresceu 5,4%.
(FERNANDO CANZIAN)
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