São Paulo, terça-feira, 19 de outubro de 2004

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PÚBLICO E PRIVADO

Aliado a recursos de fundos de pensão, aporte é de R$ 600 mi; concessionária controla via que escoa grãos

BNDES injeta R$ 384 mi em ferrovia privada

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) decidiu, com o aval do governo, capitalizar em R$ 384 milhões a concessionária de transporte ferroviário Brasil Ferrovias. A companhia controla três das mais importantes estradas de ferro do país: Ferroban, Ferronorte e Novoeste.
Somados os recursos de fundos de pensão de duas estatais -Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil-, que também farão parte do aporte, o valor total da capitalização ficará em torno de R$ 600 milhões. Pela modelagem que está sendo desenhada, alguns sócios privados devem sair do negócio. Um dos que devem deixar a empresa é o ex-rei da soja Olacir de Moraes, que não será mais acionista, com participação por meio da Constran (16,07%).
Moraes se tornou sócio do grupo pois foi o fundador da Ferronorte, projeto desenvolvido nos anos 90 para escoar sua produção de soja. A malha da Brasil Ferrovias atravessa três Estados (Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo), ligando o Centro-Oeste ao porto de Santos, por onde escoa boa parte da safra de grãos.
Também são sócios o banco norte-americano JP Morgan (10,36%), o Bradesco (3,72%) e o fundo de investimento Laif (15,36%), dos EUA, entre outros.
Segundo a Folha apurou, alguns dos acionistas privados não estariam dispostos a investir nem na capitalização nem na expansão da malha ferroviária da companhia, o que desagrada ao governo.
O BNDES trocará R$ 249 milhões da dívida da empresa -cujo valor total é de R$ 1,6 bilhão- por uma participação acionária e ainda injetará dinheiro novo: R$ 135 milhões. A idéia é que o controle da companhia seja compartilhado entre o banco -que ficaria com, no máximo, 30%- e os fundos de pensão Funcef (CEF) e Previ (Banco do Brasil). Ambos já são os maiores acionistas da empresa -22,31% e 26,65%, respectivamente.
Já os fundos alocarão R$ 120 milhões em novos recursos. Os fundos também converterão uma dívida antiga em ações da empresa -de R$ 116 milhões, lastreada por debêntures, títulos de investimento que remuneram a taxas fixas e podem ser trocados por ações.
Segundo o presidente da Funcef, Guilherme Lacerda, o modelo final de reestruturação ainda está em análise e os valores finais podem mudar. "A empresa está numa situação grave, e essa é uma solução estruturante, que resolverá de vez todos os problemas", afirmou. De acordo com ele, hoje só Previ e Funcef participam da gestão da companhia. Ele espera que a capitalização atraia novos investidores.
A reestruturação da empresa está sendo discutida pelos fundos de pensão, BNDES, Ministério dos Transportes e ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) e Casa Civil.
As três ferrovias do grupo formam um dos principais corredores de transporte da safra de grãos. Por esse motivo, é tida como estratégica pelo governo.
Endividada (mais de 90% de seus débitos são com o BNDES), a empresa é incapaz de fazer dois investimentos necessários para retirar o gargalo do setor ferroviário no país, avalia o governo.
Um deles é a construção de um ramal de cerca de 100 km que falta para completar a ligação Atlântico-Pacifico, ligando os portos de Santos e Antofagasta (Chile). O outro é a interligação da Ferronorte à malha ferroviária do Nordeste, possibilitando o escoamento da safra também pela região.


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