São Paulo, quinta-feira, 19 de outubro de 2006

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BC reduz juro a 13,75%, 11º corte seguido

É a seqüência mais longa de queda da taxa básica desde a implantação do sistema de metas de inflação no país, em 1999

Mas, descontada a inflação, que sofreu forte baixa, recuo da Selic acabou tendo impacto reduzido no estímulo da economia


NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com a inflação dando sinais cada vez mais fortes de queda, o Banco Central decidiu dar continuidade ao processo de redução dos juros iniciado em setembro do ano passado. Ontem, o Copom (Comitê de Política Monetária do BC) fixou a taxa Selic em 13,75% ao ano, queda de 0,5 ponto percentual.
"Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 13,75% ao ano, sem viés", disse o BC em nota.
Os juros devem permanecer nesse nível até a próxima reunião, nos dias 28 e 29 de novembro. Analistas consultados pelo BC na sexta-feira passada dizem acreditar em um novo corte de 0,5 ponto nesse encontro, o último deste ano.
Foi o 11º corte seguido promovido pelo BC. É a seqüência mais longa de queda da Selic desde a implantação do sistema de metas de inflação no país, em 1999 -entre março e julho daquele ano, os juros foram reduzidos dez vezes.
A decisão já era esperada por analistas do setor privado, e, por isso, deve ter pouco impacto nas taxas no mercado financeiro. No mercado futuro de juros, contratos com vencimento em 12 meses são negociados a uma taxa de aproximadamente 13,3%.
Desde o final do ano passado até agora, a taxa Selic caiu seis pontos percentuais. Parte dessa queda, porém, serviu apenas para compensar o recuo ocorrido com a inflação nesse período. O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), que teve uma alta de 5,7% em 2005, deve subir cerca de 3% neste ano, segundo projeções do mercado.
Por isso, a redução dos chamados juros reais -descontada a inflação- foi bem menos intensa: estavam perto de 11% em setembro do ano passado e, agora, oscila em torno dos 9%, dependendo da metodologia do cálculo. Continua sendo a mais alta do mundo, bem à frente dos demais países: de acordo com o levantamento feito pela UpTrend Consultoria Econômica, o segundo colocado nesse ranking, a Turquia, tem juros reais de 6,2%. Em termos nominais, a Selic atual é a mais baixa da história.

Crescimento
Como a queda dos juros reais não foi tão forte quanto dá a entender a redução nominal da taxa Selic, o impulso da política monetária no nível de atividade acabou se mostrando insuficiente para que o crescimento da economia atingisse os níveis desejados pelo governo.
Embora a equipe econômica ainda fale numa expansão de até 4%, analistas de mercado dizem que o PIB (Produto Interno Bruto) não deve crescer mais que 3% neste ano.
Os indicadores disponíveis até agora ainda não confirmam um cenário de recuperação mais forte. Anteontem, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou resultados um pouco melhores do que esperado para o varejo em agosto. Números da indústria, porém, ainda mostram ritmo lento de crescimento.
Do lado da inflação, o cenário é mais tranqüilo. A meta fixada pelo governo neste ano, de 4,5%, deve ser cumprida com folga -segundo o BC, há até uma chance de 20% de a alta dos preços ficar abaixo do piso dessa meta, que é 2,5%.
Para o ano que vem, as perspectivas para a inflação também são positivas. Segundo pesquisa feita pelo Banco Cenrtal, a expectativa do mercado é que a alta dos preços em 2007 fique em 4,20% -abaixo, portanto, da meta de 4,50%. Na última reunião do Copom, realizada em agosto, essa projeção estava em 4,50%.


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