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China busca AL para manter expansão
Estratégia vai privilegiar comércio com América Latina, África e outros asiáticos, além de ampliar consumo doméstico
Planejamento chinês inclui investimento bilionário em infra-estrutura para evitar que o país sinta os efeitos da desaceleração econômica
RAUL JUSTE LORES
ENVIADO ESPECIAL A HONG KONG
A China vai acelerar uma série de transformações em sua
economia para enfrentar a recessão global. A receita anticrise inclui o aumento das participações da Ásia, da África e da
América Latina como destinos
das exportações do país, o estímulo ao consumo interno e investimentos bilionários em infra-estrutura.
Representando apenas 5%
do PIB mundial, a China não
terá como garantir sozinha o
crescimento mundial se os Estados Unidos, o Japão e a União
Européia entrarem em recessão. Mas as novas diretrizes do
Partido Comunista indicam
que, pelo menos, o governo
acredita que o país pode ficar
blindado e continuar a crescer.
A União Européia e os Estados Unidos respondiam por
mais de 50% das exportações
chinesas havia cinco anos. Hoje, elas representam 38,5%, e
estão em queda. A Ásia fica com
46,9%, a América Latina com
4,9% e a África com 3,5%.
Um quarto do crescimento
das exportações da China no
ano passado foi para a América
Latina e a África.
Como a China exporta produtos de maior valor agregado a
países emergentes, de eletrodomésticos a computadores, de
maquinaria industrial a trilhos
e contêineres, o redirecionamento das exportações chinesas também busca valorizar os
produtos que empregam mais
tecnologia.
Minimizando o impacto da
queda de demanda de europeus
e americanos, a China também
começa a sacrificar dois setores
que foram chave no início de
sua reindustrialização, há 20
anos: têxteis e brinquedos.
Os produtos mais baratos, de
tênis a bonecas, já estavam afetados antes mesmo da quebradeira em Wall Street. A moeda
chinesa se valorizou quase 20%
nos últimos dois anos, os salários dos operários das linhas de
montagem aumentam 10% ao
ano e o custo das matérias-primas e dos fretes diminuíram a
competitividade chinesa em alguns setores.
Cerca de 15 mil fábricas fecharam neste ano na região do
Delta do Rio Pérola, o ABC chinês, de onde sai um terço das
exportações do país. Do total,
3.631 fábricas de brinquedos fecharam em 2008, 52% do total.
O peso das exportações de
baixo valor agregado que utilizam mão-de-obra intensiva é
de 25% (elas já foram responsáveis por dois terços das exportações chinesas, há 15 anos).
Nova indústria
"O Partido Comunista fez as
contas e viu que parte da produção de brinquedos e têxteis
era de baixo valor agregado, paga salários muito baixos e é
muito poluidora. Então, os incentivos a essas áreas estão desaparecendo, a China quer outro tipo de indústria", disse à
Folha o economista Andy
Rothman, macroestrategista
para a China do banco de investimentos CLSA, em Xangai.
"É a terceira onda de reformas econômicas desde 1978,
que começa agora. Haverá alguns setores sacrificados, mas a
longo prazo faz sentido."
Na quinta-feira, 4.000 empregados protestaram em
Dongguan após a falência das
duas fábricas de brinquedos da
Smarts Union, com 6.000 funcionários, que estão há seis semanas sem receber salários.
"Acho que é cedo demais para a China abandonar parte de
suas manufaturas", reclama o
empresário Mickey Kong
Chun, da empresa Jetta Toys. A
empresa é a maior do gênero no
país, com 40 mil empregados
em seis fábricas, entre Guangzhou e Dongguan.
"Nossa vasta mão-de-obra
ainda não está preparada para
essa transição", afirmou Kong
Chun à Folha, reforçando que
até mesmo grandes empresas
exportadoras sentem os reflexos da crise.
As exportações chinesas só
devem crescer 5% no ano que
vem -o pior número em dez
anos. Há 20 milhões de trabalhadores no setor exportador
do país, mais do que toda a população da Grande São Paulo.
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