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Amazônia ampliará sobra de urânio no país
Com excedente ainda maior após exploração de nova reserva, Brasil poderá exportar minério que serve de base para usina nuclear
Plano é exportar produto já
na forma de combustível
nuclear; decisão sobre
venda ou estocagem do
excedente não está tomada
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Embora já conte com a produção de toneladas de excedentes de urânio a partir de 2012, o
governo negocia aumentar, na
Amazônia, a exploração do minério no país. A cerca de 120
quilômetros de Manaus, numa
área ainda preservada de floresta, encontra-se uma das
maiores reservas de urânio do
país, de nome Pitinga, com supostas 150 mil toneladas do minério que serve de combustível
para as usinas nucleares.
Segundo o presidente da estatal INB (Indústrias Nucleares do Brasil), Alfredo Tranjan
Filho, a empresa negocia um
acordo para a extração de urânio com a mineradora peruana
Minsur, que comprou no ano
passado os direitos de exploração da Paranapanema em Pitinga. No local, o urânio -monopólio estatal- aparece associado ao estanho.
"Todo o mundo é ávido por
urânio", diz Tranjan Filho, defensor de que o país deve exportar o urânio que produzir a
mais para a geração de energia
nas usinas nucleares.
A exportação de urânio ainda
é tema de debate no governo,
mas a página da estatal na internet não deixa dúvida sobre o
objetivo: "O Brasil possui uma
das maiores reservas mundiais
de urânio, o que permite o suprimento das necessidades domésticas a longo prazo e a disponibilização do excedente para o mercado externo".
O país produz atualmente, na
mina de Caetité, na Bahia, cerca de 400 toneladas de urânio
por ano. Em 2012, a previsão é
produzir mais 1.500 toneladas
por ano, com a primeira ampliação da extração em Caetité
e com o início da exploração no
município de Santa Quitéria,
no Ceará. Na jazida cearense,
começou a funcionar recentemente a primeira parceria com
a iniciativa privada para a exploração de urânio.
Com as duas usinas nucleares atualmente em operação no
Brasil - Angra 1 e Angra 2-, o
país consome menos de 500 toneladas de urânio por ano.
Quando entrar em operação,
provavelmente a partir de
2014, Angra 3 consumirá cerca
de 320 toneladas por ano.
Também em 2014, o Brasil
planeja dominar em escala industrial todas as etapas do ciclo
do combustível nuclear, da produção do concentrado de urânio, conhecido como "yellow
cake", até o enriquecimento, a
fabricação de pastilhas e a
montagem das varetas usadas
como combustível nas usinas
nucleares.
"A gente não quer exportar
urânio como concentrado, mas
já na forma de combustível nuclear", adianta Tranjan.
Quatro novas usinas nucleares, planejadas para entrar em
funcionamento até 2030, deverão usar 250 toneladas por ano
de urânio. Mas, antes mesmo
de a primeira dessas quatro novas usinas começar a operar, e
sem contar com o potencial de
Pitinga, o Brasil estará produzindo 2.800 toneladas de urânio por ano. E usando menos
do que a terça parte disso.
"Nossa prioridade é assegurar o fornecimento para as nossas usinas e as que estão planejadas. A decisão sobre o que fazer com o excedente será tomada quando ele realmente existir", disse o ministro Edison
Lobão (Minas e Energia).
Decisão
O comitê interministerial de
desenvolvimento do programa
nuclear ainda não definiu o que
fazer com o urânio extra a ser
produzido em Santa Quitéria. A
mais recente reunião do grupo
ocorreu em agosto, pouco depois do anúncio do resultado da
licitação, ganha pelo grupo Galvani. Na jazida de Itataia, o urânio é encontrado associado ao
fosfato, usado na produção de
fertilizantes agrícolas.
A exportação de urânio foi
assunto polêmico durante a
primeira viagem de Luiz Inácio
Lula da Silva à China, em 2004,
quando os chineses manifestaram interesse em importar o
produto brasileiro.
Procurado pela Folha, o ministro Sérgio Rezende (Ciência
e Tecnologia) não se manifestou sobre a ampliação da produção excedente de urânio planejada pela INB, estatal vinculada à pasta.
Se optar por não exportar os
excedentes, o urânio produzido a mais pode ser estocado.
"Se o país entender que deve ficar com estoques estratégicos,
tudo bem", diz Tranjan, insistindo em que o planejamento
da estatal extrapola o mercado
interno. "Nossa ambição vai
além disso."
O mundo tem hoje mais de
400 usinas nucleares em funcionamento. A demanda anual
por urânio é estimada em 64
mil toneladas. O Brasil tem a
sétima maior reserva mundial
do minério. À frente do país,
nesse ranking, estão: Austrália,
Cazaquistão, Rússia, África do
Sul, Canadá e Estados Unidos.
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