São Paulo, terça-feira, 19 de novembro de 2002

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DIA DE CALMANTE

Modesto retorno do crédito externo também ajuda na queda da moeda dos EUA, que foi para R$ 3,56

Rolagem da dívida dá uma folga ao dólar

GEORGIA CARAPETKOV
DA REPORTAGEM LOCAL

Após uma semana marcada por pressões devido à rolagem da dívida cambial, que vence amanhã, o dólar recuou fortemente ontem. Vendida a R$ 3,56, a moeda dos EUA fechou com desvalorização de 3,26%. Foi a maior queda percentual desde 11 de outubro, quando havia caído 4,26%.
A rolagem da dívida cambial feita pelo Banco Central ontem ajudou a manter o dólar em baixa.
Uma modesta recuperação das linhas de financiamento externo para o país também tem colaborado para o recuo nas cotações do dólar. Segundo Anselmo Sandri, gerente sênior de corporate finance do Lloyds TSB, o discurso do governo eleito de continuidade das atuais diretrizes econômicas tem contribuído para a recuperação da confiança no país.
Com isso, tem aumentado a disposição dos investidores externos de emprestar recursos para o Brasil. A principal recuperação tem sido sentida nas linhas de financiamento à exportação.
"O volume de financiamento que está voltando ao mercado hoje é ainda bem tímido, restrito, mas muito melhor do que há 30 dias", disse Sandri.
O diretor de Política Econômica do Banco Central, Ilan Goldfajn, confirmou a percepção do mercado ontem, ao dizer em seminário em São Paulo que, a partir de outubro deste ano, a oferta de linhas de crédito externo para o país parou de cair.
Após o resultado considerado favorável da quinta-feira, dia que o Banco Central (BC) conseguiu rolar 44,1% da parcela da dívida cambial que vence amanhã, a rolagem efetuada ontem foi menos turbulenta.
A autoridade monetária realizou dois leilões e terminou o dia com 83,8% da rolagem da dívida de U$ 2,4 bilhões concluída. Entretanto, a taxa de juros paga pelo BC para a rolagem da dívida foi maior do que a observada em alguns leilões passados, mesmo sendo menor do que a da semana passada.
No dia 8 de novembro, por exemplo, o BC pagou 31,56% de juros para colocar títulos com vencimento em abril do próximo ano. No leilão de ontem, o BC aceitou as ofertas de juros mais altas pedidas pelos bancos e vendeu os títulos para abril do ano que vem com taxas de 36,1% ao ano.
Segundo Carlos Alberto Abdalla, diretor da corretora Souza Barros, O BC pode ter achado melhor pagar uma taxa de juros maior e conseguir rolar a dívida do que deixá-la sem rolagem, fazendo com que o câmbio siga pressionado e possa gerar pressão sobre os preços e consequentemente mais inflação.
Para alguns analistas, o BC nesse momento está "na mão do mercado", por ter que decidir entre pagar as taxas pedidas e diminuir as pressões no câmbio ou deixar que as altas do dólar sejam repassadas na forma de inflação.
A queda do dólar é tida como certa para a maioria dos operadores. Mas o mercado deve sempre tentar, em um momento de mercado frágil, procurar espaço para especular e auferir ganhos.
"A tendência é de queda. Mas deve haver intranquilidade sempre que houver vencimentos da dívida ou mesmo notícias mal explicadas", diz Abdalla.
As taxas de juros também reagiram à melhora no câmbio e pararam de subir.
O contrato DI (que considera os juros cobrados entre os bancos) que vence no próximo mês fechou com taxa de 22,11% anuais na BM&F (Bolsa de Mercadorias & Futuros) nos negócios de ontem.
Mesmo assim, o contrato projeta a expectativa dos investidores de que o Copom (Comitê de Política Monetária) suba a taxa básica de juros na reunião que começa hoje. Atualmente, a Selic está em 21% ao ano.


Colaboraram Érica Fraga e Fabricio Vieira, da Reportagem Local

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