São Paulo, quarta-feira, 19 de novembro de 2008

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Para ministro, ação de bancos é lamentável; instituições dizem que cumprem normas

Ueslei Machado - 10.ago.2008/Folha Imagem
O ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, que criticou bancos por executarem dívidas

RODRIGO VARGAS
DA AGÊNCIA FOLHA, EM CUIABÁ

O ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) qualificou como "lamentável" a decisão dos bancos de buscar o seqüestro judicial das máquinas agrícolas e a negativação do cadastro de produtores rurais para receber valores de financiamentos agrícolas em atraso. O problema tem ocorrido principalmente no Estado de Mato Grosso.
"Os bancos se colocaram como parceiros dos agricultores nos bons momentos. Agora, na dificuldade, voltaram a ser simplesmente bancos. É lamentável que estejam executando as parcelas e arrestando máquinas", disse Stephanes.
Para a Febraban (Federação Brasileira dos Bancos), no entanto, não cabe ao sistema financeiro a tarefa de "assegurar renda mínima ao produtor".
"Mesmo quando é parceiro, banco não deixa de ser banco", afirmou o assessor pleno da diretoria da entidade, Ademiro Vian. "Isso significa que análise de crédito sempre terá como base a capacidade de pagamento", declarou Vian.
A ofensiva das instituições financeiras -bancos de montadoras de implementos- se deu em razão do não-pagamento de uma parcela de financiamento de máquinas agrícolas vencida em 15 de outubro. Em Mato Grosso, segundo estimativa da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária), a inadimplência atingiu 70% dos contratos.
Em entrevista à Folha, o governador Blairo Maggi (PR) comparou o impasse à crise iniciada nos EUA com os financiamentos imobiliários de alto risco. "A bolha do "subprime" agrícola estourou", disse.
Na região de Rondonópolis (220 km de Cuiabá), foram registrados seqüestros de máquinas e negativação de cadastros de quem não quitou a parcela.
"Incluíram produtores na Serasa e estão fazendo arrestos de máquinas. Isso só mostra que está faltando sensibilidade e abertura ao diálogo", disse o presidente da comissão de Cereais, Grãos, Fibras e Oleaginosas da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), José Mário Schreiner.
O assessor da Febraban minimizou a extensão da inadimplência em outubro. "Pelos nossos cálculos, 69% das parcelas foram pagas no país", disse Vian. Entre os que não pagaram, disse, a maioria o fez por crer "que haveria alguma prorrogação por parte do governo, há só uma pequena parcela que de fato enfrenta dificuldades".
Para Vian, a crise internacional pode ter contribuído, mas não é o principal fator da inadimplência. "A dívida vem sendo prorrogada há cinco, seis safras, sem solução. Não é a concessão de mais crédito que haverá de resolver o problema."
Segundo ele, a retomada da oferta de crédito pelos bancos depende de uma política que garanta preços mínimos para a remuneração dos produtores agrícolas. "Do contrário, com os produtores endividados e sem fluxo de caixa, não há perspectiva alguma de retorno."
Os bancos John Deere e DLL afirmaram que apenas seguem "as regras do governo" na cobrança das dívidas vencidas em outubro. "A fonte dos recursos é o BNDES. Nós somos agentes repassadores desse crédito e temos de seguir o que está previsto nas normas", disse o supervisor da divisão de financiamentos agrícolas no banco DLL, Eduardo Bresolin.


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