|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TRIBUTAÇÃO
Fazenda fez concessões para convencer aliados a aprovar MP; mesmo assim, ganho de receita deve superar R$ 4 bi
Governo "cede" R$ 1,5 bi e Cofins é aprovada
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A Câmara dos Deputados aprovou ontem, com diversas alterações em relação à proposta original do governo, a nova cobrança
da Cofins (Contribuição para o
Financiamento da Seguridade Social). O texto poderá ir a votação
hoje no Senado.
Para ter o projeto aprovado, o
Ministério da Fazenda fez concessões de quase R$ 1,5 bilhão para
convencer a própria base aliada a
aceitar votar o projeto de lei de alteração da medida provisória nº
135, que modifica a Cofins.
Apesar dessas concessões, o governo ainda deverá ter ganho de
arrecadação com a mudança. O
governo calcula esse ganho em,
no máximo, R$ 5,8 bilhões anuais
(sem as concessões de ontem).
Mas o PSDB fez um estudo baseado na arrecadação deste ano e
achou R$ 8,2 bilhões de receita extra. Segundo números levantados
pela CNI (Confederação Nacional
da Indústria), o aumento será de
R$ 10 bilhões.
Apesar da obstrução feita pelos
partidos de oposição, o substitutivo do relator Jamil Murad (PC do
B-SP) à medida provisória foi
aprovado na noite de ontem com
254 votos favoráveis, 31 contrários e três abstenções.
A nova Cofins entrará em vigor
em 1º de fevereiro de 2004 se for
aprovada hoje no Senado. O primeiro pagamento sob a nova modalidade de tributação será feito
em 15 de março de 2004, com base
no faturamento de fevereiro.
Alíquota maior
A arrecadação total da nova Cofins será superior a R$ 76 bilhões
em 2004, de acordo com a Comissão Mista de Orçamento do Congresso Nacional. Nos últimos
anos, o governo tem preferido aumentar as contribuições sociais
porque elas não são divididas
com Estados e municípios.
A Cofins subirá de 3% para
7,6% sobre o faturamento das
empresas para compensar o fim
da incidência cumulativa da contribuição, ou seja, a cobrança sobre todas as fases produtivas.
A mudança é uma reivindicação
histórica do empresariado nacional, mas a alíquota, segundo estudos da Ação Empresarial, deveria
ser de 6,1% para não gerar aumento da carga tributária.
Outros estudos indicam que a
alíquota ideal, incluindo PIS (Programa de Integração Social) e Cofins, seria de 7% (a partir de fevereiro serão 9,25%, pois o PIS tem
alíquota de 1,65%). Segundo esses
estudos, o ideal seria o PIS ter alíquota de 1,25% e a Cofins, de
5,75% (aumentos de 92%).
Tributação de importados
O Ministério da Fazenda explica
que a arrecadação extra ocorrerá
por causa da tributação indireta
dos insumos importados.
Essa tributação, segundo a Receita Federal, estaria dando aos
importados um tratamento similar ao recebido pelos produtos nacionais.
Além disso, as empresas que
têm ações contra o pagamento da
Cofins atual perdem suas liminares. Foi o que aconteceu com o
PIS, que deixou de ser cumulativo
neste ano e obteve receita extra de
quase R$ 800 milhões entre abril e
setembro deste ano.
De qualquer forma, o Ministério da Fazenda tem afirmado que
a alíquota do PIS não será revista
porque alguns ganhos deste ano
não vão se repetir nos próximos.
Para o secretário-executivo do
ministério, Bernard Appy, os empresários ainda estão descobrindo as "brechas" na legislação, ou
seja, os pagamentos poderão cair
no futuro.
Os deputados da oposição foram ao plenário ontem com um
adesivo que dizia "MP da Cofins
mata emprego". Para o deputado
Eduardo Paes (RJ), vice-líder do
PSDB, a MP da Cofins é um "tiro
de misericórdia" nas empresas.
Paes circulou com uma forca de
corda pelo plenário.
O deputado Antônio Carlos
Magalhães Neto (PFL-BA) apresentou uma emenda que fixava a
alíquota da nova Cofins em 6,1%,
criando um "gatilho" para sua
elevação caso a arrecadação caísse
em relação a este ano. Mas o governo não aceitou.
O substitutivo aprovado ontem
tem 88 artigos e foi classificado
pelos partidos de oposição ontem
como a "verdadeira reforma tributária" do ano.
Além das mudanças na Cofins,
pelo texto a cobrança do Imposto
sobre Produtos Industrializados
passa a ser feita a cada 15 dias, em
vez dos 10 atuais. O governo quer
fazer com que o imposto seja cobrado mensalmente no futuro para facilitar a vida das empresas.
Texto Anterior: Painel S.A. Próximo Texto: Frase Índice
|