São Paulo, quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

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Nextel "inflaciona" e intriga o leilão da telefonia 3G

Empresa fez lances correspondentes à metade de seu faturamento no país, elevando preço pago pelas licenças

Analistas crêem que um grande investidor sustentou os lances da empresa no leilão; para executivo do setor, pode ser a Motorola

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

A entrada da Nextel no leilão da telefonia de terceira geração (3G) provocou um ágio que em alguns casos passou de 200%.
Analistas diziam ontem que a Nextel brasileira não teria recursos para entrar com tanta força no leilão e que, por isso, deveria ter outro grande investidor por trás dos seus lances.
A Folha apurou junto a um executivo do setor que a fabricante de celular americana Motorola estaria por trás dos lances da Nextel. Também se especulou sobre a atuação da Sprint, gigante da telefonia americana, mas, segundo sua assessoria de imprensa, a empresa americana adquiriu só a Nextel nos EUA, cuja operação é desvinculada das demais.
A companhia, que volta à disputa hoje das faixas de freqüência à venda pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), já deixou uma certeza: entrou com força na disputa pelo mercado de comunicação móvel brasileiro.
No Brasil, a Nextel conta com 1,187 milhão de clientes que utilizam um serviço de comunicação móvel. A receita foi de US$ 570,3 milhões nos primeiros nove meses de 2007.
"O que espantou foi termos vistos a Nextel fazer lances muito agressivos", afirmou Eduardo Tude, presidente do Teleco, um serviço de informações em telecomunicações.
A Nextel chegou a ofertar cerca de R$ 580 milhões pelo quarto lote da primeira região -que engloba Rio de Janeiro, Bahia, Sergipe e Espírito Santo-, perdendo para a Claro, que pagou 5% a mais. Esse valor era mais que o dobro do que o previsto pela Anatel.
Para os concorrentes no leilão, existe um grande investidor dando suporte à Nextel. "Vimos uma empresa atuando no leilão que não era a Nextel Brasil. Ela fez lances que levaram as quatro maiores do mercado a pagar muito mais pelas licenças", disse Tude.
As suspeitas ganham corpo porque, além do valor a ser pago pelas licenças, quem vencer o leilão terá de investir cerca de R$ 2,5 bilhões para a expansão da cobertura de celular em todas as cidades de sua área de cobertura até 2010. "Um investimento desse porte se justifica para quem está planejando crescer para 15 milhões de clientes", afirma Tude.
"Pode ser a própria Nextel América Latina", afirma Tude. Essa empresa é controlada pela NII Holding, com sede nos EUA, cujo faturamento foi de US$ 853 milhões nos primeiros nove meses desse ano.
Segundo Steve Shinder, presidente da NII Holding, a empresa está capitalizada e quer expandir sua base de clientes a um ritmo de 37% ao ano.
No Brasil, a compra de um lote na área 1 (que inclui o Rio de Janeiro) ou 3 (que engloba São Paulo) seria uma oportunidade para atingir essa meta.
Segundo Alex Zago, analista de telecomunicações do IDC, os lances agressivos da Nextel indicaram que ela tem interesse em ofertar novos serviços aos assinantes corporativos.
Em contrapartida, as margens de lucro das operadoras diminuiriam. Hoje elas estão em 23%. "Independentemente do que aconteça, estão todos fazendo investimentos que levarão muito tempo para serem amortizados", disse Zago.


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