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Dispensa de licitação para ônibus pode ser contestada
Lei que estende permissão para transporte interestadual passou no Senado
Para especialistas, prorrogação por 15 anos
da autorização dada às empresas de ônibus pode ser questionada na Justiça
DENYSE GODOY
DA REPORTAGEM LOCAL
HUMBERTO MEDINA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Aprovado no plenário do Senado anteontem, o projeto de
lei que permitirá à União prorrogar as autorizações para a
prestação de serviço de transporte rodoviário interestadual
de passageiros pode ser contestado na Justiça, segundo especialistas.
As empresas do setor argumentam que investiram na estruturação do sistema antes
que o Estado o fizesse e, embora digam não serem contra a
realização de licitações para as
linhas, como pede a Constituição, defendem que as permissões sejam renovadas pelo tempo necessário à elaboração de
estudos para a transição entre
modelos. O problema é o prazo
que consta da proposta de autoria do senador Eliseu Resende
(DEM-MG): até 15 anos.
"O argumento econômico
pode ser considerado legítimo
e há na jurisprudência casos excepcionais de prorrogação
diante de uma urgência, porém
o prazo de 15 anos é bastante
grande. O Ministério Público
pode interpretar que, para esse
período, deveria ser feita uma
licitação", afirma o advogado
Ives Gandra da Silva Martins.
O texto, incluído no projeto
de lei que estabelece as diretrizes do Sistema Nacional de Viação e quais são as rodovias, hidrovias, ferrovias e aeroportos
federais, foi aprovado em votação simbólica na noite de quarta-feira, quando não há necessidade de votação no plenário
da Casa. Ainda precisa passar
pela Câmara, o que só deve
acontecer em 2009.
O governo já havia adiado a
licitação de linhas interestaduais e internacionais que estavam previstas para ocorrer em
outubro. As permissões das
empresas em questão foram
prorrogadas até o fim de 2009
ou até a realização do leilão.
Embora a necessidade de licitação esteja prevista na Constituição, só 25 linhas passaram
à iniciativa privada dessa forma, em um processo que ocorreu entre 1998 e 2001 e fracassou -a maioria das empresas
participantes entrou na Justiça
para não pagar o valor que haviam oferecido pela concessão.
Em setembro, o governo Luiz
Inácio Lula da Silva adiou para
2009 a licitação de 2.592 serviços (todo tipo de operação que
pode ser oferecida em determinado trajeto, como a de ônibus-leito e a convencional) que
aconteceria no mês seguinte.
Desde que a administração federal anunciou a sua intenção,
os empresários do setor têm reclamado bastante.
"Trata-se de um sistema importante, confiável, que presta
um bom serviço para o país. É
razoável que haja uma prorrogação para desenhar uma nova
situação no futuro. As mudanças no sistema requerem cuidado", afirma Renan Chieppe,
presidente da Abrati (Associação Brasileira das Empresas de
Transporte Terrestre de Passageiros). "A proposta que está lá
pede 15 anos. Nós achamos que
o prazo para a transição deve
ser longo, mas não sei dizer
com precisão qual o mais adequado. A medida ainda está em
discussão."
As 196 empresas de ônibus
que transportam passageiros
nas estradas interestaduais e
internacionais faturam cerca
de R$ 2,7 bilhões por ano.
Grandes grupos familiares
-como o criado por Constantino de Oliveira, pai dos donos da
Gol Linhas Aéreas- controlam
várias delas. "Existe uma pressão enorme, portanto", destaca
Luiz Tarcísio Teixeira Ferreira,
professor da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de
São Paulo). A falta de licitação,
segundo ele, significa um favorecimento indevido às companhias. "Parece-me ilegal e inconstitucional", afirma.
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