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LEITE DERRAMADO
Funcionário da empresa revela que ex-subsidiária em São Paulo recebeu "saco de dinheiro" da matriz
Contador põe Brasil no eixo do caso Parmalat
DA REDAÇÃO
DA REPORTAGEM LOCAL
Se os promotores italianos quiserem encontrar o dinheiro desviado da Parmalat, estimado em
10 bilhões, terão que investigar
as operações do grupo no Brasil.
Segundo o depoimento de um dos
principais contadores do grupo,
uma ex-subsidiária no país - a
Carital Brasil- dedicava-se a
"atividades esquisitas" e recebeu
"um saco de dinheiro" da matriz.
No futebol brasileiro, a Carital
assinou contratos de co-gestão
com o Palmeiras e com o Juventude, além de ter assumido o controle do Etti-Jundiaí e patrocinado o
Santa Cruz. A Carital negociava
passes de jogadores -vendia-os e
comprava-os tanto no mercado
nacional quanto no internacional.
Além disso, a Carital participou de
operações controversas de compra e de venda de ativos da Parmalat brasileira.
"Dinheiro maldito"
As declarações do contador
Gianfranco Bocchi são, até o momento, a mais clara evidência de
que uma boa parte do dinheiro
desviado da companhia foi escoado para o Brasil. Bocchi, que está
detido, trabalhava diretamente
com Fausto Tonna, ex-diretor financeiro e suspeito de ser o arquiteto de um esquema de fraude.
O contador já havia admitido
ter forjado documentos cumprindo ordens do fundador e ex-presidente da Parmalat, Calisto Tanzi.
O depoimento de Bocchi em
que o Brasil foi citado ocorreu no
último dia 14. Trechos foram publicados ontem pelo jornal italiano "La Repubblica".
De acordo com o jornal, ao final
de um longo dia de interrogatório, o promotor Francesco Greco,
do departamento anticorrupção,
perguntou: "Afinal, onde foi parar esse maldito dinheiro?".
Segundo o "La Repubblica",
Bocchi, depois de alguns instantes
de hesitação, respondeu: "Não sei
aonde foi parar o dinheiro que vocês estão procurando. Mas, se me
permitem, posso dar duas pistas
interessantes. Investiguem duas
subsidiárias do grupo: a Carital do
Brasil e a Wishaw. Não sei os detalhes, mas é certo que um saco de
dinheiro terminou ali".
Bocchi, sempre de acordo com
o "La Repubblica", disse ter havido "um aporte de capital naquela
sociedade, a Carital, onde só havia
atividades esquisitas".
Disse ainda que as operações
"eram comandadas inteiramente
por Tonna [o ex-diretor financeiro do grupo] e Monteiro [Carlos
de Souza Monteiro, ex-diretor da
Parmalat no Brasil]".
A controladora da Carital Brasil
é a Carital Food Distributors, cuja
sede fica na ilha de Curaçau, nas
Antilhas Holandesas, um paraíso
fiscal. O diretor-executivo dessa
empresa, Rosario Lucio Calogero,
está sob investigação.
Em julho de 2002, a Carital
comprou da própria Parmalat
brasileira uma empresa chamada
CBL (Companhia Brasileira de
Laticínios). Um mês depois, a empresa -que nunca atuou diretamente na área de alimentos- decidiu revender a CBL para a família Girão, uma das maiores do setor de lácteos no país, com um
prejuízo de R$ 3 milhões.
No domingo, a Folha revelou
que a Parmalat do Brasil remeteu
R$ 583,8 milhões à Wishaw Trading S.A., sediada no Uruguai. As
remessas foram feitas entre 1996 e
2002 por meio de operações CC-5
(que possibilitam saques em dólar no exterior) registradas no BC
(Banco Central).
A Parmalat Alimentos -atual
braço operacional do grupo no
Brasil- negou à Folha qualquer
irregularidade. Segundo sua assessoria, as remessas à Wishaw teriam sido feitas antes do processo
de reestruturação pelo qual passou a Parmalat brasileira em 1997.
A assessoria da Parmalat brasileira disse ainda que a Carital foi
vendida em 1999.
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