São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2004

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Real ainda é fraco, diz índice Big Mac

ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os preços brasileiros continuam bastante competitivos no mercado norte-americano. Apesar da recente perda de valor do dólar, a moeda brasileira está, atualmente, 37% subvalorizada em relação à norte-americana.
O mesmo ocorre com as moedas de outros países emergentes, principalmente os asiáticos, que têm feito fortes intervenções no mercado cambial para evitar que suas moedas se apreciem diante do dólar.
O yuan chinês está 56% subvalorizado em relação à moeda norte-americana, o iene japonês, 11%, a rúpia indonésia, 31% e o baht tailandês, 45%.
Os dados são calculados a partir de um indicador publicado há 17 anos pela revista inglesa "The Economist", o chamado índice Big Mac. Economistas da revista coletam os preços do sanduíche em diferentes países e os convertem para dólares.
Depois disso, calculam a relação entre o preço do Big Mac nos Estados Unidos e o seu valor em dólares em determinado país -o percentual resultante dá uma medida da relação entre as duas moedas.
No caso do Brasil, por exemplo, um Big Mac vale hoje US$ 1,758, contra o preço norte-americano de US$ 2,80. Ou seja, com o dinheiro gasto para comprar um sanduíche nos EUA, um norte-americano levaria 1,5 Big Mac numa cidade brasileira.

Barato
Esse indicador é uma forma de medir o poder de compra da população de determinado país em relação ao de outro. Mostra que o Brasil ainda é, relativamente, "barato" para os norte-americanos.
Isso dá uma medida também da competitividade das empresas brasileiras no mercado norte-americano. Embora o real tenha se mantido em patamar mais valorizado nos últimos meses, os produtos fabricados no Brasil continuam com preço atrativo no mercado externo.
"O real ainda continua num patamar subvalorizado em relação a outras moedas, em termos históricos", diz Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC.
Segundo Júlio Gomes de Almeida, diretor do Iedi (Instituto de Estudos para Desenvolvimento Industrial), apesar da apreciação recente, o real mantém nível de desvalorização próximo ao que sucedeu à mudança de regime cambial em janeiro de 1999.
"Estamos competitivos em relação ao período anterior à mudança cambial. Isso quer dizer que podemos manter um bom ritmo das exportações. No entanto, para aumentar esse ritmo de crescimento, significativamente, a moeda deveria continuar se desvalorizando bastante durante uma década, pelo menos", diz Almeida, do Iedi.
Além de ser manterem competitivos nos EUA, os produtos brasileiros têm preços bastante atrativos no mercado europeu, devido ao movimento de valorização do euro em relação ao dólar.
Cálculo do departamento econômico do HSBC mostra que, se o dólar continuasse valendo cerca de 0,9-cotação de abril de 2003-, a taxa nominal de câmbio no Brasil teria de estar entre R$ 3,25 e R$ 3,3 para que a moeda brasileira mantivesse sua atual competitividade ante a uma cesta de moedas estrangeiras.
Ontem, o dólar estava valendo 0,8 e a taxa de câmbio no Brasil era de R$ 2,84.
"A desvalorização do dólar tem sido muito importante para o desempenho das nossas exportações", afirma Bassoli.
Segundo o economista-chefe do HSBC, além de outros fatores, o Brasil tem sido beneficiado porque os preços das commodities acompanham parcialmente a apreciação do euro e, com isso, ficam mais caras.

Apreciação
O índice Big Mac confirma a forte apreciação do euro em relação ao dólar. Aponta para uma valorização de 24,4% da moeda européia.
Mas indica também que a maior parte das moedas, inclusive de alguns países desenvolvidos, como Canadá e Austrália, continua mais competitiva do que o dólar. Isso é um sinal de que a moeda norte-americana poderá seguir sua tendência de desvalorização.
Para especialistas, o fato de as moedas asiáticas estarem muito desvalorizadas em relação ao dólar também confirma a expectativa de que haverá uma pressão política forte para que os governos de países como Japão e China deixem de fazer pesadas intervenções no mercado de câmbio.


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