São Paulo, terça-feira, 20 de janeiro de 2009

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"Seguro" tenta salvar bancos britânicos

Em 2º resgate, governo do Reino Unido vai assumir riscos de papéis em poder de instituições com garantia de até 90%

Ajuda oficial vai ocorrer em troca de pagamento ou de ações dos bancos; papéis têm forte recuo, com o receio de "estatização total"

Carl de Souza/France Presse
Jornaleiro de Londres atrás de cartaz com prejuízo de bancos

PEDRO DIAS LEITE
DE LONDRES

Três meses depois do plano que foi apontado por economistas e analistas como o caminho para sair da crise, o governo do Reino Unido foi forçado a lançar um segundo pacote de socorro ao sistema bancário do país.
A principal medida anunciada ontem é um esquema de "seguro" governamental para investimentos que os bancos já detêm, que na prática limita os prejuízos com papéis que corram o risco de perder grande parte do seu valor. Em troca de um pagamento ou de ações dos bancos, o governo vai assumir os riscos de papéis em poder das instituições. A garantia deve ser de até 90% do valor que os bancos estimem perder nesses investimentos.
O objetivo é fazer com que os bancos retomem os empréstimos para a "economia real": empresas, indústrias e consumidores. Os bancos não estão emprestando porque temem que suas perdas com a crise econômico-financeira sejam ainda maiores do que as anunciadas até agora. Então preferem manter em caixa todo o dinheiro que conseguirem, para a possibilidade de serem obrigados a arcar com mais prejuízos.
A esperança do governo é que o novo esquema de "seguro" libere os bancos para retomar os empréstimos. Como, em tese, as instituições não correm mais o risco de terem prejuízos que serão incapazes de cobrir, elas não precisariam mais ter tanto dinheiro em caixa e poderiam voltar a emprestar para quem está em busca de crédito. Isso impulsionaria a economia e amenizaria a recessão.
Não é possível contabilizar o valor do pacote, porque ainda não se sabe a quais investimentos especificamente o governo vai dar garantias nem qual o tamanho das perdas que podem vir deles.
Além do novo "seguro", o governo anunciou uma extensão de garantias que haviam sido dadas em outubro e uma nova linha de financiamento direto do Banco da Inglaterra (o BC britânico) para as empresas, de 50 bilhões de libras (R$ 170 bilhões, o equivalente a mais de 5% do PIB brasileiro).

Estatização total
O novo pacote pode ser a última tentativa antes de uma decisão ainda mais drástica, disse o editor de Bancos do "Financial Times", Peter Thal Larsen: "Se não funcionar, mesmo com esse objetivo limitado [de retomada dos empréstimos], acho que o governo não vai ter escolha a não ser tomar controle total de todo o sistema bancário, com todas as consequências que isso traria".
O editor de Negócios da BBC, Robert Peston, também disse em seu blog que essa é a última chance. "Se o crédito não for retomado, a recessão vai se aprofundar -e um das consequências será que as perdas dos bancos vão se aprofundar. Nesse ponto, um novo resgate teria de ser lançado. E seria uma estatização total dos grandes bancos", escreveu o jornalista, um dos mais bem informados do país.
Em outubro do ano passado, o governo britânico já promoveu uma estatização parcial do sistema bancário, com a injeção de 37 bilhões de libras em três instituições (à época, eram US$ 64 bilhões, hoje são US$ 53 bilhões): Lloyds TSB, HBOS e RBS (Royal Bank of Scotland).
Os dois primeiros se fundiram, e a fatia do governo é de 44% atualmente. No RBS, o governo detinha 58% das ações, parte que subiu para cerca de 70% ontem.

Prejuízo recorde
O pacote de ontem não ajudou os papéis dos bancos, que continuaram em queda livre na Bolsa londrina.
O RBS anunciou ontem que seu prejuízo em 2008 pode chegar a 28 bilhões de libras (R$ 95 bilhões) -próximo do total da fraude do investidor norte-americano Bernard Madoff e quase o dobro dos 15 bilhões de libras (R$ 51 bilhões) que a Vodafone perdeu em 2006, o recorde no Reino Unido até então.
As ações do RBS caíram 66%, com temores de que a estatização total está próxima -o atual valor é de apenas 2% do que era no pico, há dois anos atrás. Os papéis do Lloyds, em seu primeiro dia de negociação depois de completa a fusão, recuaram 34%. O Barclays, que já tinha perdido 25% em uma hora na sexta-feira, voltou a cair mais 10%. O HSBC, único banco que se manteve longe da ajuda estatal até agora, recuou 6,5%.
O tamanho das perdas do RBS levou o primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, a acusar o banco de tomar "riscos irresponsáveis", especialmente no mercado de "subprime" norte-americano e na compra do ABN-Amro em 2007.


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