São Paulo, quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

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Investimento externo cai mais no Brasil

Fluxo ao país recua 49,5% em 2009, ante média global de 39% e de 2,6% na China, segundo compilação da ONU

Venda de ativos de empresas estrangeiras no Brasil explica recuo e perspectivas são positivas, diz analista do órgão


LUCIANA COELHO
DE GENEBRA

O fluxo de investimento estrangeiro direto no mundo caiu 39% no ano passado em relação a 2008 por conta da crise econômica global, informou a Unctad (braço da ONU para comércio e desenvolvimento). Para o Brasil, porém, o tombo foi maior: 49,5%.
Segundo o relatório "Monitoramento das Tendências Globais de Investimento", lançado ontem em Genebra, o fluxo, que era de US$ 1,7 trilhão em 2008, somou pouco mais de US$ 1 trilhão em 2009. E, pela primeira vez, afetou de maneira uniforme países desenvolvidos e em desenvolvimento -interrompendo ciclo de seis anos de alta entre esses últimos.
A Unctad prevê uma retomada modesta neste ano, advertindo que a recuperação do crescimento econômico global e a retomada dos lucros ainda são frágeis. No quarto trimestre, o organismo não observou a melhora esperada.
"[A fragilidade se dá] especialmente porque a recuperação teve o impulso potencialmente transitório de pacotes econômicos especiais implementados pelos grandes governos", diz o relatório. Ainda assim, as expectativas de médio prazo são positivas.
Se é possível dizer que a perda atingiu de forma similar os blocos, o mesmo não se repete entre os países. A China registrou uma queda de só 2,6% no seu fluxo e se tornou o segundo maior receptor individual de investimentos diretos, enquanto os EUA sofreram um recuo de 57%, embora sigam líderes.

Brasil
Os investimentos diretos no Brasil caíram de US$ 45 bilhões em 2008 para US$ 22,8 bilhões em 2009 (como comparação, a Petrobras investiu US$ 28,6 bilhões em 2008). A queda do país foi superior não só à da China mas também à dos demais membros do Bric (Índia, 19%, e Rússia, 41%) e de alguns emergentes asiáticos.
Mas Masataka Fujita, chefe do departamento de análise de investimento na Unctad, afirma que isso não representa uma deterioração do ambiente de investimentos no país, que, segundo ele, continua bom.
Para Fujita, o maior motivo de queda no caso brasileiro é o que se chama de "desinvestimento". "Muitas empresas estrangeiras venderam suas subsidiárias a empresas nacionais, e isso se aplica aos demais países da região." Se uma montadora dos EUA vende sua subsidiária brasileira a uma empresa nacional por US$ 1 bilhão, exemplifica, isso contará como US$ 1 bilhão a menos no fluxo.
Houve debandada, diz. "Não é surpreendente que [as empresas] tenham feito isso na América Latina, pois esse foi um movimento especialmente dos grandes investidores americanos, com peso na região."
A redução brusca de fusões e aquisições transnacionais também afetou o saldo, em linha com o movimento global.
A tendência de desinvestimento no Brasil, no entanto, não deve se manter neste ano, pois foi produto direto e imediato da crise, e o ambiente está agora mais favorável nos países das matrizes, diz a Unctad.
"A economia do Brasil está se saindo bem na crise, e os investidores ainda mostram intenção de continuar investindo no Brasil", afirma Fujita.
Como um todo, a América Latina perdeu 40,7% dos investimentos, ante 32% da Ásia, carimbada por analistas como o motor da recuperação.

China
"Podemos dizer que a China é o país que realmente está atraindo investimentos", disse Fujita à Folha.
Os fluxos para a China não apenas se mantiveram constantes durante o ano como começaram já a crescer. "O que é interessante é que antes a China atraía investimentos só em manufatura, mas agora eles estão atraindo também em serviços, no país inteiro, que se diversificam", afirma Fujita.
"Esta é uma tendência que achamos que vai se manter e ganhar força no futuro."


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