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Investimento externo cai mais no Brasil
Fluxo ao país recua 49,5% em 2009, ante média global de 39% e de 2,6% na China, segundo compilação da ONU
Venda de ativos de empresas estrangeiras no Brasil explica recuo e perspectivas são positivas, diz analista do órgão
LUCIANA COELHO
DE GENEBRA
O fluxo de investimento estrangeiro direto no mundo caiu
39% no ano passado em relação
a 2008 por conta da crise econômica global, informou a Unctad (braço da ONU para comércio e desenvolvimento). Para o
Brasil, porém, o tombo foi
maior: 49,5%.
Segundo o relatório "Monitoramento das Tendências Globais de Investimento", lançado
ontem em Genebra, o fluxo, que
era de US$ 1,7 trilhão em 2008,
somou pouco mais de US$ 1 trilhão em 2009. E, pela primeira
vez, afetou de maneira uniforme países desenvolvidos e em
desenvolvimento -interrompendo ciclo de seis anos de alta
entre esses últimos.
A Unctad prevê uma retomada modesta neste ano, advertindo que a recuperação do
crescimento econômico global
e a retomada dos lucros ainda
são frágeis. No quarto trimestre, o organismo não observou a
melhora esperada.
"[A fragilidade se dá] especialmente porque a recuperação teve o impulso potencialmente transitório de pacotes
econômicos especiais implementados pelos grandes governos", diz o relatório. Ainda assim, as expectativas de médio
prazo são positivas.
Se é possível dizer que a perda atingiu de forma similar os
blocos, o mesmo não se repete
entre os países. A China registrou uma queda de só 2,6% no
seu fluxo e se tornou o segundo
maior receptor individual de
investimentos diretos, enquanto os EUA sofreram um recuo
de 57%, embora sigam líderes.
Brasil
Os investimentos diretos no
Brasil caíram de US$ 45 bilhões
em 2008 para US$ 22,8 bilhões
em 2009 (como comparação, a
Petrobras investiu US$ 28,6 bilhões em 2008). A queda do
país foi superior não só à da
China mas também à dos demais membros do Bric (Índia,
19%, e Rússia, 41%) e de alguns
emergentes asiáticos.
Mas Masataka Fujita, chefe
do departamento de análise de
investimento na Unctad, afirma que isso não representa
uma deterioração do ambiente
de investimentos no país, que,
segundo ele, continua bom.
Para Fujita, o maior motivo
de queda no caso brasileiro é o
que se chama de "desinvestimento". "Muitas empresas estrangeiras venderam suas subsidiárias a empresas nacionais,
e isso se aplica aos demais países da região." Se uma montadora dos EUA vende sua subsidiária brasileira a uma empresa
nacional por US$ 1 bilhão,
exemplifica, isso contará como
US$ 1 bilhão a menos no fluxo.
Houve debandada, diz. "Não
é surpreendente que [as empresas] tenham feito isso na
América Latina, pois esse foi
um movimento especialmente
dos grandes investidores americanos, com peso na região."
A redução brusca de fusões e
aquisições transnacionais também afetou o saldo, em linha
com o movimento global.
A tendência de desinvestimento no Brasil, no entanto,
não deve se manter neste ano,
pois foi produto direto e imediato da crise, e o ambiente está
agora mais favorável nos países
das matrizes, diz a Unctad.
"A economia do Brasil está se
saindo bem na crise, e os investidores ainda mostram intenção de continuar investindo no
Brasil", afirma Fujita.
Como um todo, a América
Latina perdeu 40,7% dos investimentos, ante 32% da Ásia, carimbada por analistas como o
motor da recuperação.
China
"Podemos dizer que a China
é o país que realmente está
atraindo investimentos", disse
Fujita à Folha.
Os fluxos para a China não
apenas se mantiveram constantes durante o ano como começaram já a crescer. "O que é
interessante é que antes a China atraía investimentos só em
manufatura, mas agora eles estão atraindo também em serviços, no país inteiro, que se diversificam", afirma Fujita.
"Esta é uma tendência que
achamos que vai se manter e
ganhar força no futuro."
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