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São Paulo, quinta-feira, 20 de fevereiro de 2003

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REPERCUSSÃO

ALEXANDRE SCHWARTSMAN , economista-chefe do Unibanco ""Estão fazendo um aperto monetário maior que o esperado. Sabíamos que tinha de haver esse aperto para diminuir o nível de atividade da economia e conter a inflação. O BC tinha três instrumentos: juros, compulsório ou uma combinação dos dois. Via juros temos o efeito colateral forte que é o aumento da dívida. Compulsório atinge diretamente a atividade econômica. Esse aumento do compulsório deve reduzir em 12% a oferta de moeda na economia. Não que taxa de juros seja um bisturi. Mas, se compararmos, compulsório é um formão."

RICARDO CARNEIRO, economista e professor da Unicamp "O aumento de um ponto percentual na Selic é inócuo do ponto de vista da meta de inflação. Se considerarmos a inflação de janeiro -2,25%- e o aumento já definido dos preços administrados para este ano -6,5%-, a meta já estourou. A medida também é inócua porque a inflação atual ainda é consequência do choque cambial do ano passado e não há um aumento disseminado de preços. O que está puxando a inflação atual são alguns preços localizados, como combustíveis e transportes."

DAWBER GONTIJO, estrategista-chefe do HSBC Investment Bank ""A decisão foi surpreendente no que se refere ao compulsório. No que diz respeito aos juros, é razoável. Mas o BC sinalizou que não elimina a hipótese de nova alta, a depender do cenário externo."

OCTAVIO DE BARROS, economista-chefe do BBV Banco "A necessidade de elevação da taxa de juros era consensual no mercado. O BC buscou surpreender ao adicionar o aumento do compulsório. A decisão contribui para a construção da reputação da autoridade monetária de fato independente. Ao mesmo tempo, ao usar o compulsório, o BC evitou uma elevação mais significativa dos juros, o que teria uma relação custo-benefício muito elevada, isso sem contar o constrangimento político."

MARCELO DE ÁVILA, economista-chefe da GlobalInvest "Esse aumento de um ponto percentual nos juros, se mantido por 12 meses, eleva a dívida pública em R$ 3,93 bilhões anuais. Quando justifica o aumento dos juros pela expectativa de inflação, o BC não considera o processo de desaceleração da mesma. O problema brasileiro não reside em tomar o remédio amargo a que se refere o presidente Lula, e sim no fato de que a bula determina que se deve tomar uma dose a cada três horas e nossos médicos dão duas doses a cada 15 minutos."

ADOLFO EUGÊNEO NARDI FILHO, diretor de operações e finanças do Banco Cruzeiro do Sul "Não foi uma medida simpática do ponto de vista do setor produtivo. Mas é eficiente. O aumento do compulsório é muito rigoroso. Vai tirar liquidez do mercado e atingir operações de financiamento. Por outro lado, tem benesses, porque não encarece a dívida pública. O governo precisava aumentar os juros para evitar que essa série de aumentos de tarifas, como de energia, signifique mais repasses para os preços."

AQUILES MOSCA, economista do ABN Asset Management "É preciso que o BC atue via juros para aumentar a velocidade do recuo da inflação, ainda muito tímida, e as expectativas inflacionárias, que são altas. O mercado questiona a capacidade do BC de conter a alta inflacionária. E a elevação [dos juros" serve para assegurar credibilidade."

RICARDO BRAULE PINTO, economista do IBGE "Aumentar o compulsório foi a alternativa do BC para não elevar ainda mais os juros. A expectativa é que os aumentos dos juros e dos compulsório mudem a trajetória da inflação. No médio e no longo prazo, essas medidas cumprem esse papel. No curto prazo, talvez não."

ELSON TELES, economista-chefe do banco Boreal
"O BC estourou a meta de inflação nos últimos dois anos. Isso faz com que o mercado olhe mais para trás do que para a frente. Fica desconfiado e teme que surjam novos focos de pressão sobre os preços. Os sindicatos, por exemplo, quando forem negociar com patrões, vão querer reajuste com base na inflação passada. Por conta disso, esses aumentos de juros têm sido necessários."


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