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LUÍS NASSIF
A armadilha dos juros
Não adianta achar que o
mercado vai se tranquilizar por muito tempo com essa
alta das taxas de juros Selic, decretada ontem pelo Copom (Comitê de Política Monetária do
Banco Central). Daqui a alguns
dias as contas serão sobre o impacto na dívida interna, e o nervosismo estará de volta.
O tal do mercado reflete as expectativas do capital especulativo. Essas expectativas se transmitem para o capital produtivo
na forma do risco-país, que baliza os cálculos das taxas de retorno dos investimentos no médio
prazo. Não interessa nem a um
capital nem a outro a volatilidade do câmbio.
Nos anos 90, o tal do mercado
impôs a ideologia do câmbio fixo, do "currency board" e da dolarização. Exigiu política agressiva de juros de curto prazo e
apreciação cambial, com frustração do crescimento. O capital
especulativo entrou, se esbaldou, virou consumo e passivo
público. O capital produtivo parou quando percebeu que o
mercado interno não cresceria.
Atendeu-se o dia-a-dia, abortou-se o crescimento e criou-se
uma situação potencialmente
explosiva de passivo interno e
externo.
O "mercado" não insiste mais
no controle de câmbio, a realidade o obrigou a aceitar o câmbio flutuante. Mas a garantia de
tranquilidade passou a ser o
Banco Central independente e a
política de fixação dos juros de
acordo com (1) as "metas inflacionárias" e (2) com o chamado
"risco Brasil", que ajuda na formação das taxas de longo prazo
da economia.
Venha-se para o mundo real,
agora.
1) A economia brasileira é basicamente fechada. Tem-se um
mercado cambial que (ainda)
depende basicamente de fluxos
financeiros. Qualquer aumento
ou redução dos fluxos tem efeito
imediato sobre o nível do câmbio e, consequentemente, sobre
o nível de preços da economia.
Um dos mais relevantes economistas brasileiros dos últimos 20
anos, Yoshiaki Nakano, tem escrito que a política de "metas inflacionárias" foi implantada no
país antes de estarem asseguradas as condições necessárias para seu sucesso: uma situação externa menos vulnerável.
2) Conforme vem demonstrando competentemente o analista Paulo Tenani, do Citrigroup, o "risco Brasil" guarda
pouquíssima correlação com os
fundamentos da economia. De
fator interno relevante para a
sua fixação, tem-se a relação dívida/PIB (que é afetada negativamente pelos juros altos) e o
superávit primário. O que pesa
mesmo é a taxa de juros internacional, a percepção de risco
em relação aos emergentes.
A cada choque interno ou externo (eleições, guerra, crise de
governança corporativa, faniquitos de Bush Júnior), o dólar
sobe, pressiona os preços internos, o risco Brasil aumenta e o
BC aumenta os juros. O efeito
imediato da elevação dos juros é
derrubar mais ainda a atividade econômica (com resultados
discutíveis sobre a formação de
preços) e aumentar a proporção
dívida/PIB. Simplesmente para
aguardar o próximo choque interno ou externo. Ou se acha
que depois do Iraque entraremos em uma paz suíça?
Por isso mesmo, em vez de
buscar comprovações científicas
de que alta da taxa real de juros
derruba crescimento do PIB, fariam melhor nossos doutos economistas em buscar saídas para
o impasse. Mais do que nunca, o
país precisa de competência técnica e imaginação criadora da
parte dos economistas.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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