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Indústria depende mais dos importados
Aumento na compra de bens no exterior pode levar o país à "desindustrialização", afirma associação de comércio exterior
Estudo mostra que, para elevar em 1% a produção de bens duráveis, importações do setor crescem 2,33%; antes, alta era de 0,57%
Lalo de Almeida - 1º.dez.06/Folha Imagem
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Linha de montagem da Embraer, que importa parte dos componentes; real valorizado leva indústrias a preferir produto estrangeiro
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A economia brasileira está
mais dependente de importados. Para produzir o mesmo volume de mercadorias, a indústria está recorrendo mais a fabricantes no exterior. Sinal de
que há troca de produtos nacionais por estrangeiros no país.
É o que mostra levantamento
do Instituto de Economia (IE)
da Universidade Federal do Rio
de Janeiro (UFRJ) com base
em dados da Pesquisa Mensal
da Indústria do IBGE e no índice de importação da Funcex
(Fundação Centro de Estudos
do Comércio Exterior).
Com o real mais valorizado
em relação ao dólar -portanto,
favorável às importações-, as
indústrias de bens de consumo
duráveis, intermediários e de
capital estão optando mais por
fornecedores estrangeiros.
Esse movimento aparece na
relação entre a produção e a
importação desses setores, especialmente entre 2004 e
2006, quando a valorização do
real foi da ordem de 27%.
De 2000 a 2004, a cada aumento de 1% na produção
anual da indústria de bens de
consumo duráveis (veículos,
materiais eletrônicos, equipamentos de transporte e móveis), a importação desse setor
subia 0,57%, em média, por
ano. De 2004 a 2006, esse percentual aumentou para 2,33%.
"Pode-se dizer que a demanda por bens de consumo duráveis "vazou" para fora do país",
diz Carlos Thadeu de Freitas
Gomes Filho, economista do IE
da UFRJ, que calculou a relação entre a produção e a importação da indústria brasileira.
O avanço dos importados
também ocorreu na indústria
de bens intermediários (papel e
celulose, química, metalúrgica,
plástico e têxtil, entre outros).
Para elevar a produção anual
em 1%, a importação desse setor crescia 1,08%, em média,
por ano, entre 2000 e 2004. Esse percentual saltou para 1,61%
no período de 2004 a 2006.
Na indústria de bens de capital (máquinas e equipamentos,
materiais elétricos e para escritório, entre outros), a importação subia 0,92%, em média, por
ano, a cada 1% de aumento da
produção de 2000 a 2004. Esse
percentual subiu para 1,73%
entre 2004 e 2006.
Depender mais de importados é bom ou ruim para o país?
Para Freitas Gomes, o ritmo da
alta das importações em relação à produção não preocupa.
"A indústria de bens intermediários é bastante competitiva no mercado mundial, que
pode estar importando mais
também para exportar mais. E,
no caso de bens de capital, a importação ocorre para modernizar as indústrias no país, o que
resulta em maior ganho de
competitividade e preço, o que
mantém a inflação baixa."
No curto prazo, na sua avaliação, alguns setores, como a indústria eletroeletrônica, incluída no setor de bens duráveis,
podem sofrer mais o efeito do
aumento das importações.
"Mas, a médio prazo, entendo
que todo esse processo irá se
consolidar e que toda a indústria deverá ganhar", afirma.
Efeito maléfico
Para José Augusto de Castro,
vice-presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do
Brasil), o aumento da oferta de
bens importados -tanto de insumos como de produtos acabados- na economia brasileira
não é benéfico para o país.
"Se a economia brasileira estivesse crescendo num ritmo
mais acelerado, seria um bom
sinal. Só que não está. Esse aumento na oferta de importados
resulta em desindustrialização
e desemprego no país", afirma.
Na sua avaliação, a indústria
deve estar importando mais
bens de capital para aproveitar
as facilidades de crédito e substituir equipamentos antigos
por novos. "Isso não quer dizer
que está investindo para aumentar a produção e o emprego. Se o país tivesse investindo
mais, o PIB brasileiro estaria
crescendo muito mais", afirma.
Além disso, ele lembra que
computadores estão agrupados
no setor de bens de capital. "E
computadores não são usados
para aumentar a produção."
Fábio Silveira, sócio-diretor
da RC Consultores, diz que o
aumento das importações
ocorreu também devido à falta
de oferta de alguns produtos no
país. "O ideal é que a participação da importação em relação à
produção comece a diminuir. E
isso só vai acontecer com mais
investimentos, o que não ocorre da noite para o dia."
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