São Paulo, quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

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VINICIUS TORRES FREIRE

A mania das commodities

Estoques baixos, procura em alta, crises de produção e interesse financeiro causam nova explosão de preços

O MERCADO MUNDIAL renovou sua mania por commodities nesta semana. No mês de janeiro do pânico financista e do pico trimestral de preocupações com a recessão americana, houve muita gente a dizer que países como o Brasil, que muito dependem da exportação de minerais e agropecuários, sofreriam com a queda mundial da procura por esses produtos. A crise mundial, pois, contaminaria o país por meio de uma deterioração forte da balança comercial. A depender do preço das commodities, por ora isso não parece muito provável.
Sim, trata-se também de um movimento especulativo nos mercados de futuros de metais, grãos etc. Mas a onda financeira em muito reflete a constatação de que não está caindo a procura por comida e por minérios, pelo contrário (basta ver o aumento que a Vale conseguiu para seu ferro).
No caso de grãos e minério de ferro, a demanda superará a oferta por mais um ano. Os estoques dos principais grãos estão em baixas históricas, de 35 ou até 60 anos, a depender do produto. Fatores conjunturais tornam a escassez mais aguda.
A persistência do elevado preço do petróleo afeta o preço de muitos produtos agrícolas. Petróleo caro torna mais competitivo o ineficiente álcool de milho americano. O que reduz o espaço para outras plantações, como trigo e algodão. A demanda chinesa por soja faz os produtores, e não só os americanos, reservarem mais espaço para a oleaginosa. Para piorar, houve quebra na produção de canola na China (do que se faz óleo). Petróleo mais caro também impulsiona o preço do açúcar. O produto andou mal das pernas em 2007 devido à superoferta, mas neste ano subiu 27%. A soja subiu 17%, o trigo, 18%, e o milho, 15%.
O otimismo com a safra global de trigo minguou, por ora. Ainda repercutem os problemas climáticos na Austrália, Canadá, EUA e Europa. Argentina e Rússia seguram suas exportações. Os chineses, que lidam com a maior inflação em 11 meses (7% ao ano, 18% só em alimentos) e tiveram sérios problemas com o frio, estão importando mais comida para segurar preços e refazer estoques.
Mas quase todos os produtos da terra estão subindo. Está em alta o cobre, que poderia ser o patinho feio devido à recessão na indústria e na construção civil. Alumínio e zinco pegaram carona. A escassez de energia elétrica e carvão reduziu a produção das minas da China e da África do Sul, dando gás para o preço de vários outros minérios.
Há também fatores financeiros, digamos, a puxar os preços. Os índices de commodities mais importantes do mundo estão em alta de mais ou menos 10% no ano. Na média, o rendimento do Dow Jones-AIG, do UBS Bloomberg e do S&P GSCI supera em quase 20% o do S&P 500, o índice de ações de grandes empresas americanas (aliás, o S&P está no vermelho em quase 8%). Como não se espera grande rentabilidade, se alguma, dos mercados de ações e juros neste ano, as commodities ficam mais interessantes como aplicação financeira.
De resto, a fim de procurar proteção contra a inflação, que é impulsionada justamente pela alta global do preço dos recursos naturais, investidores vários estão comprando commodities, também uma proteção contra a queda do dólar.


vinit@uol.com.br


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