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VINICIUS TORRES FREIRE
A mania das commodities
Estoques baixos, procura em alta, crises de produção e interesse financeiro causam nova explosão de preços
O MERCADO MUNDIAL renovou
sua mania por commodities
nesta semana. No mês de janeiro do pânico financista e do pico
trimestral de preocupações com a
recessão americana, houve muita
gente a dizer que países como o Brasil, que muito dependem da exportação de minerais e agropecuários,
sofreriam com a queda mundial da
procura por esses produtos. A crise
mundial, pois, contaminaria o país
por meio de uma deterioração forte
da balança comercial. A depender
do preço das commodities, por ora
isso não parece muito provável.
Sim, trata-se também de um movimento especulativo nos mercados
de futuros de metais, grãos etc. Mas
a onda financeira em muito reflete a
constatação de que não está caindo a
procura por comida e por minérios,
pelo contrário (basta ver o aumento
que a Vale conseguiu para seu ferro).
No caso de grãos e minério de ferro, a demanda superará a oferta por
mais um ano. Os estoques dos principais grãos estão em baixas históricas, de 35 ou até 60 anos, a depender
do produto. Fatores conjunturais
tornam a escassez mais aguda.
A persistência do elevado preço do
petróleo afeta o preço de muitos
produtos agrícolas. Petróleo caro
torna mais competitivo o ineficiente
álcool de milho americano. O que reduz o espaço para outras plantações,
como trigo e algodão. A demanda
chinesa por soja faz os produtores, e
não só os americanos, reservarem
mais espaço para a oleaginosa. Para
piorar, houve quebra na produção
de canola na China (do que se faz
óleo). Petróleo mais caro também
impulsiona o preço do açúcar. O
produto andou mal das pernas em
2007 devido à superoferta, mas neste ano subiu 27%. A soja subiu 17%, o
trigo, 18%, e o milho, 15%.
O otimismo com a safra global de
trigo minguou, por ora. Ainda repercutem os problemas climáticos na
Austrália, Canadá, EUA e Europa.
Argentina e Rússia seguram suas exportações. Os chineses, que lidam
com a maior inflação em 11 meses
(7% ao ano, 18% só em alimentos) e
tiveram sérios problemas com o frio,
estão importando mais comida para
segurar preços e refazer estoques.
Mas quase todos os produtos da
terra estão subindo. Está em alta o
cobre, que poderia ser o patinho feio
devido à recessão na indústria e na
construção civil. Alumínio e zinco
pegaram carona. A escassez de energia elétrica e carvão reduziu a produção das minas da China e da África do Sul, dando gás para o preço de
vários outros minérios.
Há também fatores financeiros,
digamos, a puxar os preços. Os índices de commodities mais importantes do mundo estão em alta de mais
ou menos 10% no ano. Na média, o
rendimento do Dow Jones-AIG, do
UBS Bloomberg e do S&P GSCI supera em quase 20% o do S&P 500, o
índice de ações de grandes empresas
americanas (aliás, o S&P está no vermelho em quase 8%). Como não se
espera grande rentabilidade, se alguma, dos mercados de ações e juros
neste ano, as commodities ficam
mais interessantes como aplicação
financeira.
De resto, a fim de procurar proteção contra a inflação, que é impulsionada justamente pela alta global
do preço dos recursos naturais, investidores vários estão comprando
commodities, também uma proteção contra a queda do dólar.
vinit@uol.com.br
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