São Paulo, sexta, 20 de fevereiro de 1998

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Proposta gerou críticas às posições do FMI

de Tóquio

Para quem lê somente a imprensa ocidental, a imagem do presidente Suharto, da Indonésia, pode se assemelhar a de um ditador louco, prestes a colocar em risco uma instável estabilidade financeira na Ásia em nome de um plano econômico fadado ao fracasso -a implantação de um câmbio fixo.
No entanto, a realidade asiática mostra que Suharto acumulou nos últimos dias importantes declarações favoráveis e apoios importantes à sua idéia, ainda que ninguém acredite que ela vá ser implementada sem um sinal verde do FMI. Sua imagem de ditador ainda é a mesma, mas a proposta de estabelecer um câmbio fixo não parece tão absurda a um crescente número de jornais e de autoridades.
O primeiro a demonstrar seu apoio, ainda que condicional, foi o presidente do banco central japonês, Yasuo Matsushita. Na última terça-feira, ele disse que a idéia era boa, ainda que incipiente.
Ontem, um editorial do "Asian Wall Street Journal" insinuava que essa pode ser a única saída para Suharto, pressionado entre forças armadas não tão leais a ele quanto o presidente gostaria que fossem, por uma população cada vez mais inquieta e pelas eleições designadas para o começo de março.
O jornal criticou duramente as pessoas contrárias à proposta. Segundo a publicação, a soberania da Indonésia está sendo flagrantemente invadida pelo FMI e pelos Estados Unidos, já que se trata de um assunto de ordem interna.
Segundo o jornal, na atual situação não existe nenhuma razão que impeça Suharto de tentar implementar o câmbio fixo na Indonésia. "Mesmo porque, por que todo mundo está tão otimista hoje com a fórmula do FMI?".
O jornal acusou de hipócritas os investidores que acusam Suharto de estar querendo proteger sua própria fortuna ao tentar estabelecer o câmbio fixo. "Com relação à corrupção, nós lembramos que metade do mundo quis fazer negócios (na Indonésia) quando as coisas estavam boas e as condições eram adequadas para o lucro."
Além do editorial, o "Asian" traz um artigo do economista Kurt Schuller, monetarista norte-americano, citando trechos embaraçosos de Stanley Fisher, diretor do FMI. Schuller lembrou que, em agosto de 1997, quando Suharto decidiu permitir que o câmbio flutuasse, Fisher deu boas vindas à decisão, afirmando que a medida iria permitir que a economia da Indonésia continuasse sua impressionante performance política. De lá para cá, a rupia desvalorizou-se mais de 70%. Segundo Schuller, o FMI errou em agosto e continua errando agora, ao impedir a única medida que poderia salvar a economia do país.



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