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CVM vê indícios de informação privilegiada
Ação com direito a voto da Ipiranga subiu até 33% na Bolsa na sexta-feira
Comissão que regula o mercado abre duas investigações; um dos sócios diz que desconhece qualquer vazamento de informação
ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO
A CVM (Comissão de Valores
Mobiliários) considera haver
"fortes indícios" de que houve
vazamento da informação sobre a venda da Companhia de
Petróleo Ipiranga a Petrobras,
Ultra e Braskem e de que investidores usaram informação privilegiada para lucrar com operações na Bovespa (Bolsa de
Valores de São Paulo).
Os indícios foram as altas de
33,33% das ações ordinárias
(com direito a voto) da Distribuidora de Produtos de Petróleo Ipiranga e de 8,31% na cotação das ações ordinárias da Refinaria de Petróleo Ipiranga,
ocorridas na sexta-feira.
Segundo a superintendente
de Acompanhamento de Empresas da CVM, Elizabeth Machado, a instituição iniciou
duas investigações paralelas
sobre o caso: uma sobre o comportamento dos diretores de
Relações com Investidores das
companhias listadas em Bolsa
do grupo Ipiranga e outra sobre
a ação dos investidores no mercado de ações.
Foi solicitada à Bovespa a relação dos investidores que
compraram e venderam ações
de empresas do grupo Ipiranga
na sexta, quando ainda não havia informação pública sobre a
venda da empresa. A negociação só foi informada oficialmente ontem de manhã.
Sinal vermelho
A alta das ações acendeu o sinal vermelho na Superintendência de Acompanhamento
de Mercado da CVM na sexta,
durante o pregão, porque a alta
se restringia às ações ordinárias. Essa superintendência está trabalhando ao lado da de
Empresas.
Segundo Elizabeth Machado,
enquanto as ações ordinárias
dispararam, as preferenciais
(sem direito a voto) da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga subiram 2,72%, e as da
Refinaria Ipiranga, 2,61%.
O comportamento diferenciado entre ordinárias e preferenciais levou a CVM a suspeitar de vazamento do informação sigilosa.
No início da noite de sexta, às
19h, a CVM mandou cartas e e-mails aos diretores de Relações
com Investidores das empresas
do Ipiranga, pedindo explicações sobre a forte oscilação dos
papéis e questionando-os sobre
a razão de não terem tomado
providências para esclarecer os
fatos ao mercado.
Segundo Elizabeth Machado,
o diretor de Relações com Investidores é responsável, legalmente, por divulgar as informações relevantes da empresa.
"Se existe uma informação
sigilosa, e a companhia perde o
controle sobre ela, ela tem de
ser divulgada imediatamente
ao mercado, para que todos tenham acesso à informação",
afirmou a superintendente.
Se o diretor desconhecer a
informação privilegiada, ainda
assim ele tem o dever legal de
investigar a causa da oscilação
na Bolsa e informar imediatamente ao mercado.
Os diretores receberam prazo de 24 horas para dar os esclarecimentos à CVM. Até as
18h de ontem, nenhuma resposta tinha chegado ao órgão.
Segundo a superintendente,
a abertura de processo contra
os investidores depende da
comprovação de que eles tiveram acesso à informação privilegiada e que a usaram indevidamente.
A punição, tanto para investidores quanto para os diretores das companhias, varia da
advertência à inabilitação para
cargos de direção em companhias abertas.
Ipiranga desconhece
Um dos sócios do Ipiranga e
presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do
Rio de Janeiro), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, disse ontem
desconhecer o vazamento de
informações: "Não tenho a menor idéia. Tenho certeza de que
não comprei ação".
Ele diz que a proposta "irrecusável" foi recebida na sexta
após o fechamento do mercado
por meio do banco Pátria, contratado para intermediar a
reestruturação do Ipiranga.
O grupo Ipiranga era controlado por cinco famílias: Gouvêa
Vieira, Tellechea, Ormazabaal,
Matos e Aguiar. O consenso sobre a oferta envolveu 60 pessoas, disse Eduardo Eugênio.
Ele informou que a venda
não incluiu cláusula para preservação dos empregos dos cerca de 3.000 funcionários.
O presidente da Petrobras,
José Sergio Gabrielli, disse que
o suposto vazamento de informações "não tem nada a ver"
com a empresa.
Colaboraram JANAINA LAGE ,
da Sucursal do Rio, e a Agência Folha,
em Porto Alegre.
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