São Paulo, terça-feira, 20 de março de 2007

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CVM vê indícios de informação privilegiada

Ação com direito a voto da Ipiranga subiu até 33% na Bolsa na sexta-feira

Comissão que regula o mercado abre duas investigações; um dos sócios diz que desconhece qualquer vazamento de informação

ELVIRA LOBATO
DA SUCURSAL DO RIO

A CVM (Comissão de Valores Mobiliários) considera haver "fortes indícios" de que houve vazamento da informação sobre a venda da Companhia de Petróleo Ipiranga a Petrobras, Ultra e Braskem e de que investidores usaram informação privilegiada para lucrar com operações na Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo).
Os indícios foram as altas de 33,33% das ações ordinárias (com direito a voto) da Distribuidora de Produtos de Petróleo Ipiranga e de 8,31% na cotação das ações ordinárias da Refinaria de Petróleo Ipiranga, ocorridas na sexta-feira.
Segundo a superintendente de Acompanhamento de Empresas da CVM, Elizabeth Machado, a instituição iniciou duas investigações paralelas sobre o caso: uma sobre o comportamento dos diretores de Relações com Investidores das companhias listadas em Bolsa do grupo Ipiranga e outra sobre a ação dos investidores no mercado de ações.
Foi solicitada à Bovespa a relação dos investidores que compraram e venderam ações de empresas do grupo Ipiranga na sexta, quando ainda não havia informação pública sobre a venda da empresa. A negociação só foi informada oficialmente ontem de manhã.

Sinal vermelho
A alta das ações acendeu o sinal vermelho na Superintendência de Acompanhamento de Mercado da CVM na sexta, durante o pregão, porque a alta se restringia às ações ordinárias. Essa superintendência está trabalhando ao lado da de Empresas.
Segundo Elizabeth Machado, enquanto as ações ordinárias dispararam, as preferenciais (sem direito a voto) da Companhia Brasileira de Petróleo Ipiranga subiram 2,72%, e as da Refinaria Ipiranga, 2,61%.
O comportamento diferenciado entre ordinárias e preferenciais levou a CVM a suspeitar de vazamento do informação sigilosa.
No início da noite de sexta, às 19h, a CVM mandou cartas e e-mails aos diretores de Relações com Investidores das empresas do Ipiranga, pedindo explicações sobre a forte oscilação dos papéis e questionando-os sobre a razão de não terem tomado providências para esclarecer os fatos ao mercado.
Segundo Elizabeth Machado, o diretor de Relações com Investidores é responsável, legalmente, por divulgar as informações relevantes da empresa.
"Se existe uma informação sigilosa, e a companhia perde o controle sobre ela, ela tem de ser divulgada imediatamente ao mercado, para que todos tenham acesso à informação", afirmou a superintendente.
Se o diretor desconhecer a informação privilegiada, ainda assim ele tem o dever legal de investigar a causa da oscilação na Bolsa e informar imediatamente ao mercado.
Os diretores receberam prazo de 24 horas para dar os esclarecimentos à CVM. Até as 18h de ontem, nenhuma resposta tinha chegado ao órgão. Segundo a superintendente, a abertura de processo contra os investidores depende da comprovação de que eles tiveram acesso à informação privilegiada e que a usaram indevidamente.
A punição, tanto para investidores quanto para os diretores das companhias, varia da advertência à inabilitação para cargos de direção em companhias abertas.

Ipiranga desconhece
Um dos sócios do Ipiranga e presidente da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, disse ontem desconhecer o vazamento de informações: "Não tenho a menor idéia. Tenho certeza de que não comprei ação".
Ele diz que a proposta "irrecusável" foi recebida na sexta após o fechamento do mercado por meio do banco Pátria, contratado para intermediar a reestruturação do Ipiranga.
O grupo Ipiranga era controlado por cinco famílias: Gouvêa Vieira, Tellechea, Ormazabaal, Matos e Aguiar. O consenso sobre a oferta envolveu 60 pessoas, disse Eduardo Eugênio. Ele informou que a venda não incluiu cláusula para preservação dos empregos dos cerca de 3.000 funcionários.
O presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, disse que o suposto vazamento de informações "não tem nada a ver" com a empresa.


Colaboraram JANAINA LAGE , da Sucursal do Rio, e a Agência Folha, em Porto Alegre.


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